Saiba por que voz de Branco Mello está rouca nos shows do Titãs

Músico enfrentou cânceres na laringe, hipofaringe e língua nos últimos anos; operações bem-sucedidas provocaram alterações em seu timbre

Fãs desavisados que assistiram a algum show do Titãs em 2023 podem ter se surpreendido com a voz rouca de Branco Mello. O músico fala e canta de forma mais áspera.

Há uma razão pra lá de compreensível por trás. Mello enfrentou o câncer nos últimos anos, com felizes vitórias em sequência.

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Branco descobriu um câncer na laringe em 2018. Para tratar a doença, se afastou por alguns meses dos compromissos do Titãs – que, na época, contava apenas com ele, Sérgio Britto e Tony Bellotto enquanto integrantes oficiais.

Radioterapia e quimioterapia lhe ajudaram nessa batalha inicial, bem-sucedida. No entanto, anos mais tarde, em 2021, o tumor voltou na hipofaringe. Desta vez, a única saída era a cirurgia. Passou 32 dias internado. A operação foi novamente exitosa, mas afetou sua voz.

Reação inicial de Branco Mello

Como um profissional que precisa da voz, a possibilidade de nunca mais cantar ou falar após o procedimento – que envolvia a retirada do órgão afetado – afligiu o músico. Em depoimento ao jornalista Felipe Branco Cruz à revista Veja, ele descreveu os temores iniciais diante da situação.

“Cantar sempre fez parte da minha vida e eu não tinha ideia de como ficaria minha voz e nem mesmo se voltaria a falar. Quando acordei da operação e ouvi da Angela, minha esposa há mais de trinta anos, que tudo correra bem e a equipe médica havia removido apenas metade da laringe — ou seja, a corda vocal direita pôde ser preservada —, fiquei tão feliz e aliviado que é difícil descrever em palavras. Eu teria uma voz e uma vida diferentes, mas estava vivo.”

A batalha não acabou por aí: em fevereiro de 2022, Branco foi diagnosticado com um tumor na língua. Precisou passar por uma nova operação e, durante o processo, sofreu uma hemorragia, como relembrou. 

“Me internei para a retirada de outro tumor, desta vez na base da língua. Eu estava na UTI após a cirurgia quando sofri uma hemorragia e, antes de apagar, tive a sensação plena de que estava partindo. Cheguei a me despedir da Angela. Naquele momento me senti, surpreendentemente, sereno e em paz. Era uma sensação interessante e flashes da minha vida passaram pela minha cabeça. Felizmente, a hemorragia foi controlada e me recuperei. O amor e cumplicidade da Angela, dos meus filhos Bento, Joaquim e Diana e do nosso neto Pedro também foram fundamentais na minha recuperação.”

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A reunião do Titãs

Quando quase recuperado, a ideia de reunir a formação clássica do Titãs para uma turnê em 2023 empolgou Branco Mello. Não apenas a ele, mas todos os colegas.

Quando a banda recebeu a proposta de excursionar toda junta novamente, era preciso deixar de lado as divergências do passado. Segundo o baterista Charles Gavin, em entrevista ao Uol, isso foi possível principalmente graças à superação de Mello.

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“Só lembrar do que ele passou nos últimos tempos, e do esforço dele para voltar ao palco, para voltar a tocar baixo, para voltar a cantar, que isso supera qualquer coisa. A gente viu a condição dele, deu aquele senso de urgência: temos que fazer isso agora. Não podemos deixar para depois porque estamos vivos e bem, e vamos fazer da melhor maneira possível […]. O Branco estando ali e a gente se juntando ficou claro que as rusgas do passado, profissionais, coisas que a gente disse, o que cada um falou, não tinham mais importância.”

Foto: Jeff Marques

Recuperação da voz de Branco Mello

Na época, Branco Mello ainda não era capaz de cantar novamente, mas estava disposto a contribuir com vocais no palco. Por isso, buscou alternativas e tratamentos, encontrando o cantor e fonoaudiólogo Gilberto Chaves, responsável por ajudá-lo.

Branco destacou:

“Eu estaria feliz nem que fosse apenas tocando baixo e celebrando minha volta aos palcos. Ao longo do processo de recuperação, a Angela me apresentou Gilberto Chaves. Ele é cantor lírico, fonoaudiólogo e achou que eu poderia voltar a cantar. Partimos para fazer essa recuperação vocal para os shows. Eu já havia feito um tratamento intensivo com as fonoaudiólogas Irene Vartanian e Glaucya Madazio, de reeducação da deglutição e da voz. Quando os ensaios começaram, eu senti que já estava preparado para cantar minhas músicas e encarar todos os backing vocals.”

“Cabeça Dinossauro”, faixa-título do álbum lançado em 1986, desempenhou uma função importante. Foi a primeira música que Branco “encarou”.

Pelas mudanças, por estar agora com uma voz rouca, Branco Mello surpreendeu-se com o resultado. Ele disse:

“Costumo dizer que, quando a gravei, lá nos anos 1980, minha ideia era cantá-la com uma voz parecida com a que tenho hoje. Outras canções, como ‘Eu Não Sei Fazer Música’, ’32 Dentes’, ‘Tô Cansado’ e ‘Flores’, por exemplo, ganharam nova dimensão e peso porque trazem a história da minha vida na nova voz.”

Ao se apresentar três vezes para um estádio lotado na capital paulista, o Allianz Parque, em junho de 2023, o músico finalmente sentiu “uma sensação completa de felicidade”. Isso porque, além de todo contexto, o local tem um significado especial em sua história como palmeirense e também como filho. 

“Frequento o estádio desde criança com meu pai, que morreu justamente de um câncer na laringe, em 1985, e de repente, eu estava ali, acompanhado de toda a família, amigos e cantando novamente. Inesquecível.”

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Mudanças: a voz rouca de Branco Mello

Como mencionado, no pós-cirurgias, Branco Mello necessitou de muita preparação vocal para voltar a cantar. Ao longo do tratamento, notou uma mudança em seu timbre, mencionada pelo baterista Charles Gavin, em entrevista ao Uol.

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“Foi um processo muito longo e muito doloroso, no qual ele poderia ter morrido. Ele poderia ter perdido a voz e poderia não falar mais. Ele fala isso agora: ‘eu tô com uma voz diferente, meio sexy’. Porque é uma voz rouca. E até tem brincadeiras, porque a gente leva o nosso humor ácido a sério: ‘agora você tá cantando que nem se você fosse um membro do Sepultura ou do Ratos de Porão’.”

No mesmo bate-papo, Gavin detalhou a parceria do colega com Gilberto Chaves, que estendeu-se para parte da banda.

“Branco disse: ‘vou voltar a cantar e estou com um excelente preparador vocal, chama-se Gilberto’. E ele que acompanhou a gente na turnê. Ele é um cantor do Teatro Municipal de São Paulo e, além de preparador vocal, é um fisioterapeuta da voz, da garganta, um cara extraordinário. Ele apresentou um trabalho tão sério e tão competente que os outros vocalistas aderiram também, então a preparação vocal antes do show era com todos os Titãs, alguns separados, mas outros juntos.”

Foto: Paty Sigiliano

Tumor na língua de Branco Mello

Em outubro de 2023, Branco Mello comunicou, por meio de suas redes sociais, que havia sido submetido a uma cirurgia. O objetivo era a retirada de um pequeno tumor inicial na borda da língua.

O músico se recuperou bem. Porém, o Titãs estava em turnê. Foi necessário que ele ficasse sem cantar durante show em Portugal, no início de novembro. Na ocasião, assumiu apenas o baixo.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Durante show no Rio de Janeiro, já em novembro, Mello celebrou sua recuperação e o fato de poder voltar a cantar com sua incrível nova voz rouca. Ele disse:

“Queria dizer para vocês que estou muito feliz de poder estar aqui hoje, no palco, com os meus velhos, queridos amigos, companheiros de uma vida toda. É demais. Queria dizer também que, entre a primeira turnê e essa, tive que fazer mais uma cirurgia. Desta vez, na boca. Então, ainda não posso participar do show inteiro, mas não podia deixar de cantar para vocês ‘Cabeça Dinossauro’.”

Branco foi interrompido pelos fãs, que o aplaudiram e gritaram seu nome durante a manifestação. Um trecho do momento pode ser conferido abaixo (ou clicando aqui).

Titãs Encontro

A turnê de reunião do Titãs, “Titãs Encontro”, foi um sucesso. O encerramento se dá no Lollapalooza Brasil, em show no sábado (23). A banda continua com Branco, Sérgio e Tony, em compromissos divulgando o álbum “Olho Furta-Cor”.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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