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Paul McCartney mostra a força do rock and roll em show emocionante em São Paulo

Primeira das três apresentações da turnê "Got Back" na capital paulistana teve setlist recheado de Beatles, Wings e carreira solo

O clima de festa no Allianz Parque, em São Paulo, havia sido estabelecido na véspera. Na quarta-feira (6), o time da casa havia assegurado — ainda que no Mineirão — mais um título do Campeonato Brasileiro ao empatar com o Cruzeiro por 1×1. O autor do gol do campeão nacional foi Endrick, um menino de 18 anos. No dia seguinte, a festa foi conduzida por um “menino” um pouco mais velho, porém: Paul McCartney.

No alto de seus 81 anos de idade, o ídolo subiu ao palco às 20h30 — com exatamente meia hora de atraso para que o público terminasse de chegar; a mundialmente conhecida pontualidade britânica funciona até com tardamentos programados. Em seguida, emocionou um público de 45 mil fãs, que entoou clássicos dos Beatles como se fosse a comemoração de um gol.

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Velho conhecido

Paul é um velho conhecido dos paulistanos. Após sua estreia na cidade em 1993, o multi-instrumentista, compositor, intérprete e ativista das causas animais (vegetariano, ele exige que não haja nenhum móvel de couro em seu camarim) desembarcou na cidade em várias ocasiões: 2010, 2014, 2017 e 2019, além da atual. Mesmo assim, segue enchendo estádios. A apresentação desta quinta-feira (7) foi a primeira das três que ocorrem nesta mesma arena, todas com ingressos esgotados. Afinal, quem quer perder a oportunidade de ver uma lenda viva da música?

Cerca de 30 minutos antes de Macca subir ao palco, pessoas de todas as idades, às vezes até 3 gerações da mesma família, se acotovelavam pela pista enquanto um DJ de cabelos brancos tocava canções dos Beatles e da carreira solo do músico – um preparativo para as músicas que não iriam ser tocadas ao vivo naquela noite. A que abriu o set foi uma tripla homenagem: “A Day in the Life”, composta por John Lennon e que fecha o clássico “Sgt. Peppers and the Loneley Hearts Club Band” (1967), na versão de Rita Lee (“Minha Vida”), a eterna rockeira falecida este ano. John, Rita e Brasil sendo contemplados.

Depois de uma projeção de fotos históricas que tomou intermináveis 30 minutos — para compensar o já mencionado atraso planejado —, finalmente o Beatle subiu ao palco com Rusty Anderson (guitarra), Brian Ray (baixo e guitarra), Abe Laboriel Jr. (bateria) e Paul ‘Wix’ Wickens (teclados). E já chegou chegando: “Can’t Buy Me Love” fez idosos, adultos, adolescentes e crianças sacarem seus celulares e cantarem junto de um dos responsáveis por fazer do rock o que é hoje e mostrar que a música não tem idade.

Clima arrefecido?

Parecia o início de uma noite arrebatadora, mas a verdade é que o clima arrefeceu na sequência do repertório. Vieram “Junior’s Farm” e “Letting Go”, ambas do Wings, banda que Paul formou com sua então esposa Linda em 1971, pouco depois do fim dos Beatles. Ao redor, dava para notar pessoas papeando e olhando seus celulares, como se ali no palco, em vez de uma lenda viva da música, estivesse um cantor de churrascaria qualquer.

Mesmo quando as canções dos Fab Four voltaram ao set, as pessoas não se entusiasmaram tanto quanto o esperado. “She’s a Woman”, por exemplo, de 1964, não é das mais populares. Em seguida veio “Got to Get You Into My Life”, de “Revolver” (1966), um disco que marca o início da fase experimental do grupo, quando eles se deram ao luxo de dizer que não iriam mais tocar ao vivo para se dedicar às composições e ao trabalho de estúdio. Foi quando os Beatles divertidos começaram a ser os Beatles revolucionários. O clima seguiu morno.

Estava claro que o público esperava pelos clássicos – as músicas das rádios, das coletâneas ou as mais tocadas no Spotify. E olha que não faltou esforço do Beatle e sua banda para manter a moral do público elevada. Um exemplo disso foi o naipe de metais Hot City Horns — composto por Mike Davis (trompete), Kenji Fenton (saxofone) e Paul Burton (trombone) —, que deu as caras na segunda música da noite de forma surpreendente: tocando literalmente no meio da arquibancada. 

Entre uma música e outra, palavras cuidadosamente faladas em português — até mesmo um “boa noite, mano” — ajudava a entreter a audiência. E o que falar das dancinhas? Com movimentos de certa forma inseguros de quem já passou dos 80 anos, Macca mexia braços e pernas, mostrando estar à vontade, como se o show fosse na casa de um parente, e não num estádio com 45 mil pessoas.

Para quem acompanhou os shows anteriores do Beatle, dava para notar o quanto Macca, naturalmente, envelheceu. Além dos movimentos mais inseguros, a voz já não era a mesma. Em algumas canções, era nítida a dificuldade em alcançar tons mais altos. Particularmente, em “Maybe I’m Amazed”, uma linda balada ao piano, a voz ficou até esganiçada.

Pouco antes, logo quando se sentou ao piano, Paul deu uma suspirada que me passou a ideia de um homem cansado que dificilmente aguentaria a noite toda. Ledo engano. 

Lado B

Se o show fosse um disco, diria que o Lado A foi o aquecimento. Abre com uma música para você ouvir na loja e comprar o álbum, mas que, na hora de ouvir em casa, você sai da frente do aparelho de som para ir ao banheiro ou fazer um café. Embora uma ou outra música realmente te chame a atenção, no geral funciona como som ambiente.

O Lado B, porém, vem com uma mudança de chave — no caso, de palco. Num cenário mais intimista, os 4 músicos que acompanham Macca há anos — Paul “Wix” Wickens, Brian Ray, Rusty Anderson e Abe Laboriel Jr — ficaram bem próximos uns dos outros, com um telão enorme logo atrás deles. Era a vez de “In Spite of All the Danger”, canção de The Quarrymen — os Beatles antes de trocarem de nome. “Essa é a primeira música que os Beatles gravaram”, explicou Paul. 

O público surpreendeu ao, no final da música, continuar cantando um coro que Macca pediu durante a execução da canção. Ele não se fez de rogado. Voltou a tocar e a banda mostrou seu entrosamento, acompanhando o Beatle mesmo de improviso. A chave estava virando.

“Agora a primeira música que a gente gravou de verdade”. Veio “Love Me Do”, de 1962. Finalmente as vozes das mais de 40 mil pessoas voltaram a ecoar pelo estádio em alto e bom som. O sorriso de Macca disse tudo: o clima tinha esquentado – e para não esfriar mais.

O que veio a seguir foi uma linda interação entre músicos e audiência. As pessoas riram da divertida e tradicional dança que Abe Laboriel Jr fez ao longo da primeira parte de “Dance Tonight”. Depois, vibraram com “Blackbird” (“The White Album”, 1968) — a famosa canção que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, toca ao violão — sendo executado por um Paul posicionado em um palco elevado. Em seguida, se emocionou “Here Today”, que Paul dedicou a John Lennon. 

O ponto alto da noite estava também no Lado B. Com um ukelele em mãos, “um presente de George”, o músico tocou “Something”, a linda balada de George Harrison, seu parceiro nos Beatles morto em 2001, no álbum derradeiro do quarteto — “Abbey Road” (1969). Um mar de celulares filmou a homenagem acompanhado por um coral gigantesco de vozes emocionadas. Valeu o ingresso.

Outro ponto de destaque foi “Get Back”, de “Let it Be” (1970) — último álbum lançado pelos Beatles, mas o penúltimo gravado. Além da força da canção, que anima qualquer pessoa, as imagens do quarteto com uma nitidez impressionante exibidas no telão deram um toque de emoção e nostalgia extra. “Agradeço ao Peter Jackson”, disse Paul, referindo-se ao diretor neozelandês responsável por recuperar digitalmente as imagens e produzir o monumental documentário “The Beatles: Get Back”, lançado em 2021, que expande a amostra das sessões de gravação do álbum.

As imagens revitalizadas por Jackson voltaram ao telão na primeira música do bis: “I’ve Got a Feeling”, também de “Let it Be”. Dessa vez, um dueto entre Paul, ao vivo, e John, no telão, me arrancaram lágrimas dos olhos. “Esse momento é sempre muito especial para mim”, disse Macca.

O show foi fechado com o final do medley que encerra “Abbey Road”: “Golden Slumbers”, “Carry That Weight” e “The End” — o único caso em que uma música de Paul fecha um disco dos Fab Four. Aliás, é nela que McCartney escreve o epitáfio do quarteto: “and, in the end, the love you take is equal to the love you make” (“e, no final, o amor que você recebe é igual ao amor que você dá”). Diz tudo sobre o espetáculo daquela noite.

Mesmo aos 81 anos, Paul segue pelo Brasil com sua série de shows de 2,5 horas ininterruptas de clássicos do rock — em uma exibição que poderia ter sido até maior na quinta (7), já que “Fuh You”, “You Never Giver Me Your Money” e “She Came In Through the Bathroom Window” foram cortadas devido ao atraso. Os próximos compromissos são mais dois concertos em São Paulo (dias 9 e 10), Curitiba (13) e Rio de Janeiro (16), todos com ingressos esgotados. O último será televisionado pelo Star+ e Disney+.

Quem puder, pelo menos sintoniza na TV. Não dá para perder alguns dos maiores clássicos da história da música contemporânea executados por seu compositor e intérprete original.

Paul McCartney – ao vivo em São Paulo

  • Local: Allianz Parque
  • Data: 7 de dezembro de 2023
  • Turnê: Got Back

Repertório:

  1. Can’t Buy Me Love (Beatles)
  2. Junior’s Farm (Wings)
  3. Letting Go (Wings)
  4. She’s a Woman (Beatles)
  5. Got to Get You Into My Life (Beatles)
  6. Come On to Me
  7. Let Me Roll It (Wings) – com trecho de “Foxy Lady”, da Jimi Hendrix Experience)
  8. Getting Better (Beatles)
  9. Let ‘Em In (Wings)
  10. My Valentine
  11. Nineteen Hundred and Eighty-Five (Wings)
  12. Maybe I’m Amazed
  13. I’ve Just Seen a Face (Beatles)
  14. In Spite of All the Danger (The Quarrymen)
  15. Love Me Do (Beatles)
  16. Dance Tonight
  17. Blackbird (Beatles)
  18. Here Today
  19. New
  20. Lady Madonna (Beatles)
  21. Jet (Wings)
  22. Being for the Benefit of Mr. Kite! (Beatles)
  23. Something (Beatles)
  24. Ob-La-Di, Ob-La-Da (Beatles)
  25. Band on the Run (Wings)
  26. Get Back (Beatles)
  27. Let It Be (Beatles)
  28. Live and Let Die (Wings)
  29. Hey Jude (Beatles)

Bis:

  1. I’ve Got a Feeling (Beatles)
  2. Birthday (Beatles)
  3. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise) (Beatles)
  4. Helter Skelter (Beatles)
  5. Golden Slumbers (Beatles)
  6. Carry That Weight (Beatles)
  7. The End (Beatles)

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Primeira das três apresentações da turnê "Got Back" na capital paulistana teve setlist recheado de Beatles, Wings e carreira solo

O clima de festa no Allianz Parque, em São Paulo, havia sido estabelecido na véspera. Na quarta-feira (6), o time da casa havia assegurado — ainda que no Mineirão — mais um título do Campeonato Brasileiro ao empatar com o Cruzeiro por 1×1. O autor do gol do campeão nacional foi Endrick, um menino de 18 anos. No dia seguinte, a festa foi conduzida por um “menino” um pouco mais velho, porém: Paul McCartney.

No alto de seus 81 anos de idade, o ídolo subiu ao palco às 20h30 — com exatamente meia hora de atraso para que o público terminasse de chegar; a mundialmente conhecida pontualidade britânica funciona até com tardamentos programados. Em seguida, emocionou um público de 45 mil fãs, que entoou clássicos dos Beatles como se fosse a comemoração de um gol.

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Velho conhecido

Paul é um velho conhecido dos paulistanos. Após sua estreia na cidade em 1993, o multi-instrumentista, compositor, intérprete e ativista das causas animais (vegetariano, ele exige que não haja nenhum móvel de couro em seu camarim) desembarcou na cidade em várias ocasiões: 2010, 2014, 2017 e 2019, além da atual. Mesmo assim, segue enchendo estádios. A apresentação desta quinta-feira (7) foi a primeira das três que ocorrem nesta mesma arena, todas com ingressos esgotados. Afinal, quem quer perder a oportunidade de ver uma lenda viva da música?

Cerca de 30 minutos antes de Macca subir ao palco, pessoas de todas as idades, às vezes até 3 gerações da mesma família, se acotovelavam pela pista enquanto um DJ de cabelos brancos tocava canções dos Beatles e da carreira solo do músico – um preparativo para as músicas que não iriam ser tocadas ao vivo naquela noite. A que abriu o set foi uma tripla homenagem: “A Day in the Life”, composta por John Lennon e que fecha o clássico “Sgt. Peppers and the Loneley Hearts Club Band” (1967), na versão de Rita Lee (“Minha Vida”), a eterna rockeira falecida este ano. John, Rita e Brasil sendo contemplados.

Depois de uma projeção de fotos históricas que tomou intermináveis 30 minutos — para compensar o já mencionado atraso planejado —, finalmente o Beatle subiu ao palco com Rusty Anderson (guitarra), Brian Ray (baixo e guitarra), Abe Laboriel Jr. (bateria) e Paul ‘Wix’ Wickens (teclados). E já chegou chegando: “Can’t Buy Me Love” fez idosos, adultos, adolescentes e crianças sacarem seus celulares e cantarem junto de um dos responsáveis por fazer do rock o que é hoje e mostrar que a música não tem idade.

Clima arrefecido?

Parecia o início de uma noite arrebatadora, mas a verdade é que o clima arrefeceu na sequência do repertório. Vieram “Junior’s Farm” e “Letting Go”, ambas do Wings, banda que Paul formou com sua então esposa Linda em 1971, pouco depois do fim dos Beatles. Ao redor, dava para notar pessoas papeando e olhando seus celulares, como se ali no palco, em vez de uma lenda viva da música, estivesse um cantor de churrascaria qualquer.

Mesmo quando as canções dos Fab Four voltaram ao set, as pessoas não se entusiasmaram tanto quanto o esperado. “She’s a Woman”, por exemplo, de 1964, não é das mais populares. Em seguida veio “Got to Get You Into My Life”, de “Revolver” (1966), um disco que marca o início da fase experimental do grupo, quando eles se deram ao luxo de dizer que não iriam mais tocar ao vivo para se dedicar às composições e ao trabalho de estúdio. Foi quando os Beatles divertidos começaram a ser os Beatles revolucionários. O clima seguiu morno.

Estava claro que o público esperava pelos clássicos – as músicas das rádios, das coletâneas ou as mais tocadas no Spotify. E olha que não faltou esforço do Beatle e sua banda para manter a moral do público elevada. Um exemplo disso foi o naipe de metais Hot City Horns — composto por Mike Davis (trompete), Kenji Fenton (saxofone) e Paul Burton (trombone) —, que deu as caras na segunda música da noite de forma surpreendente: tocando literalmente no meio da arquibancada. 

Entre uma música e outra, palavras cuidadosamente faladas em português — até mesmo um “boa noite, mano” — ajudava a entreter a audiência. E o que falar das dancinhas? Com movimentos de certa forma inseguros de quem já passou dos 80 anos, Macca mexia braços e pernas, mostrando estar à vontade, como se o show fosse na casa de um parente, e não num estádio com 45 mil pessoas.

Para quem acompanhou os shows anteriores do Beatle, dava para notar o quanto Macca, naturalmente, envelheceu. Além dos movimentos mais inseguros, a voz já não era a mesma. Em algumas canções, era nítida a dificuldade em alcançar tons mais altos. Particularmente, em “Maybe I’m Amazed”, uma linda balada ao piano, a voz ficou até esganiçada.

Pouco antes, logo quando se sentou ao piano, Paul deu uma suspirada que me passou a ideia de um homem cansado que dificilmente aguentaria a noite toda. Ledo engano. 

Lado B

Se o show fosse um disco, diria que o Lado A foi o aquecimento. Abre com uma música para você ouvir na loja e comprar o álbum, mas que, na hora de ouvir em casa, você sai da frente do aparelho de som para ir ao banheiro ou fazer um café. Embora uma ou outra música realmente te chame a atenção, no geral funciona como som ambiente.

O Lado B, porém, vem com uma mudança de chave — no caso, de palco. Num cenário mais intimista, os 4 músicos que acompanham Macca há anos — Paul “Wix” Wickens, Brian Ray, Rusty Anderson e Abe Laboriel Jr — ficaram bem próximos uns dos outros, com um telão enorme logo atrás deles. Era a vez de “In Spite of All the Danger”, canção de The Quarrymen — os Beatles antes de trocarem de nome. “Essa é a primeira música que os Beatles gravaram”, explicou Paul. 

O público surpreendeu ao, no final da música, continuar cantando um coro que Macca pediu durante a execução da canção. Ele não se fez de rogado. Voltou a tocar e a banda mostrou seu entrosamento, acompanhando o Beatle mesmo de improviso. A chave estava virando.

“Agora a primeira música que a gente gravou de verdade”. Veio “Love Me Do”, de 1962. Finalmente as vozes das mais de 40 mil pessoas voltaram a ecoar pelo estádio em alto e bom som. O sorriso de Macca disse tudo: o clima tinha esquentado – e para não esfriar mais.

O que veio a seguir foi uma linda interação entre músicos e audiência. As pessoas riram da divertida e tradicional dança que Abe Laboriel Jr fez ao longo da primeira parte de “Dance Tonight”. Depois, vibraram com “Blackbird” (“The White Album”, 1968) — a famosa canção que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, toca ao violão — sendo executado por um Paul posicionado em um palco elevado. Em seguida, se emocionou “Here Today”, que Paul dedicou a John Lennon. 

O ponto alto da noite estava também no Lado B. Com um ukelele em mãos, “um presente de George”, o músico tocou “Something”, a linda balada de George Harrison, seu parceiro nos Beatles morto em 2001, no álbum derradeiro do quarteto — “Abbey Road” (1969). Um mar de celulares filmou a homenagem acompanhado por um coral gigantesco de vozes emocionadas. Valeu o ingresso.

Outro ponto de destaque foi “Get Back”, de “Let it Be” (1970) — último álbum lançado pelos Beatles, mas o penúltimo gravado. Além da força da canção, que anima qualquer pessoa, as imagens do quarteto com uma nitidez impressionante exibidas no telão deram um toque de emoção e nostalgia extra. “Agradeço ao Peter Jackson”, disse Paul, referindo-se ao diretor neozelandês responsável por recuperar digitalmente as imagens e produzir o monumental documentário “The Beatles: Get Back”, lançado em 2021, que expande a amostra das sessões de gravação do álbum.

As imagens revitalizadas por Jackson voltaram ao telão na primeira música do bis: “I’ve Got a Feeling”, também de “Let it Be”. Dessa vez, um dueto entre Paul, ao vivo, e John, no telão, me arrancaram lágrimas dos olhos. “Esse momento é sempre muito especial para mim”, disse Macca.

O show foi fechado com o final do medley que encerra “Abbey Road”: “Golden Slumbers”, “Carry That Weight” e “The End” — o único caso em que uma música de Paul fecha um disco dos Fab Four. Aliás, é nela que McCartney escreve o epitáfio do quarteto: “and, in the end, the love you take is equal to the love you make” (“e, no final, o amor que você recebe é igual ao amor que você dá”). Diz tudo sobre o espetáculo daquela noite.

Mesmo aos 81 anos, Paul segue pelo Brasil com sua série de shows de 2,5 horas ininterruptas de clássicos do rock — em uma exibição que poderia ter sido até maior na quinta (7), já que “Fuh You”, “You Never Giver Me Your Money” e “She Came In Through the Bathroom Window” foram cortadas devido ao atraso. Os próximos compromissos são mais dois concertos em São Paulo (dias 9 e 10), Curitiba (13) e Rio de Janeiro (16), todos com ingressos esgotados. O último será televisionado pelo Star+ e Disney+.

Quem puder, pelo menos sintoniza na TV. Não dá para perder alguns dos maiores clássicos da história da música contemporânea executados por seu compositor e intérprete original.

Paul McCartney – ao vivo em São Paulo

  • Local: Allianz Parque
  • Data: 7 de dezembro de 2023
  • Turnê: Got Back

Repertório:

  1. Can’t Buy Me Love (Beatles)
  2. Junior’s Farm (Wings)
  3. Letting Go (Wings)
  4. She’s a Woman (Beatles)
  5. Got to Get You Into My Life (Beatles)
  6. Come On to Me
  7. Let Me Roll It (Wings) – com trecho de “Foxy Lady”, da Jimi Hendrix Experience)
  8. Getting Better (Beatles)
  9. Let ‘Em In (Wings)
  10. My Valentine
  11. Nineteen Hundred and Eighty-Five (Wings)
  12. Maybe I’m Amazed
  13. I’ve Just Seen a Face (Beatles)
  14. In Spite of All the Danger (The Quarrymen)
  15. Love Me Do (Beatles)
  16. Dance Tonight
  17. Blackbird (Beatles)
  18. Here Today
  19. New
  20. Lady Madonna (Beatles)
  21. Jet (Wings)
  22. Being for the Benefit of Mr. Kite! (Beatles)
  23. Something (Beatles)
  24. Ob-La-Di, Ob-La-Da (Beatles)
  25. Band on the Run (Wings)
  26. Get Back (Beatles)
  27. Let It Be (Beatles)
  28. Live and Let Die (Wings)
  29. Hey Jude (Beatles)

Bis:

  1. I’ve Got a Feeling (Beatles)
  2. Birthday (Beatles)
  3. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise) (Beatles)
  4. Helter Skelter (Beatles)
  5. Golden Slumbers (Beatles)
  6. Carry That Weight (Beatles)
  7. The End (Beatles)

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