Entrevista: Adrian Vandenberg fala sobre “Sin”, Whitesnake e parceria com David Coverdale

Guitarrista discute insatisfação com sonoridade de um álbum clássico de sua antiga banda e critica algumas letras de sua autoria da década de 1980

Mais conhecido por seu tempo como guitarrista do Whitesnake, Adrian Vandenberg voltou à cena do hard rock com o renascimento da banda que leva seu sobrenome. Após o lançamento de “2020” (2020), seguiu-se “Sin” (clique aqui para ouvir), lançado em 25 de agosto deste ano e disponível em CD no Brasil pela Hellion Records.

Nesta entrevista exclusiva ao site IgorMiranda.com.br, Adrian compartilha informações sobre o processo criativo por trás do novo trabalho, expressa o desejo de regravar e revitalizar clássicos do repertório do Vandenberg e reflete sobre seu período no Whitesnake, onde desempenhou um papel crucial como braço direito do vocalista David Coverdale em álbuns como “Slip of the Tongue” (1989) e “Restless Heart” (1997).

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Vandenberg em meio a troca e impacto da pandemia

A principal diferença entre “Sin” e seu antecessor “2020”, os dois mais recentes trabalhos do Vandenberg, é o vocalista, com Mats Levén substituindo Ronnie Romero.

Adrian Vandenberg elogia o tom grave de Mats, frequentemente comparado a David Coverdale pelos críticos. No entanto, as mudanças vão além do que se ouve no disco.

“Com Ronnie, eu escrevia todas as músicas e letras e dava instruções sobre como cantar. Com Mats, eu escrevi as músicas primeiro e depois trabalhamos juntos nas letras e melodias vocais. Mats é um ótimo letrista, então tivemos uma boa parceria, assim como tive com David Coverdale na época.”

A troca de vocalistas não foi apenas por causa das preferências de trabalho de Adrian com Romero. A pandemia de Covid-19 teve um papel direto nisso.

“Ronnie mora na Romênia, onde as restrições foram aliviadas mais cedo. Quando fui liberado na Europa Ocidental, a agenda de Ronnie já estava lotada e eu não queria esperar, então tivemos que nos separar. Nossas agendas simplesmente não coincidiam mais.”

Adrian descreve o processo de colaboração com Levén, lembrando como a faixa-título de “Sin” foi criada durante uma caminhada na França.

“Alguns versos e o refrão surgiram durante a caminhada. Gravei no meu iPhone e enviei para Mats, que gostou da ideia. Ele escreveu os versos, e assim o trabalho foi feito em conjunto, com ambos contribuindo igualmente com a letra e a melodia vocal.”

Apesar de “Sin” ser uma faixa que trata de pecados e pecadores, Adrian acredita que rotular o álbum como conceitual pode ser exagerado. Por outro lado, há um tema central percorrendo as músicas.

“Todo mundo acaba cometendo algum tipo de pecado, seja pequeno ou grave. Seja uma criança roubando um biscoito ou um adulto cometendo um crime. Traição, desrespeitar as leis de trânsito, mentir, trapacear — todos nós já fomos tentados a pecar de alguma forma. Inicialmente, o título da música e do álbum era ‘The Temptation of Sin’. No entanto, a palavra ‘sin’ por si só me pareceu tão poderosa que decidi usá-la como título.”

“Sin”: Nova York, tubarões e o pecado original

A faixa “Sin” apresenta uma conexão com o passado, remetendo à antiga composição de Adrian: “Judgment Day”, do álbum “Slip of the Tongue”, do Whitesnake. Ele reconhece a semelhança e expressa sua satisfação com a forma como “Sin” se desenvolveu, tendo em vista que “Judgment Day” é uma de suas músicas favoritas que coescreveu com David.

A similaridade entre “Sin” e “Judgment Day” reflete o álbum como um todo, no qual, de acordo com a resenha publicada em IgorMiranda.com.br, Adrian revisita seu período no Whitesnake. O guitarrista concorda parcialmente, atribuindo isso mais às influências musicais compartilhadas com Coverdale, como Led Zeppelin, Jeff Beck Group, Humble Pie, Mountain e outras bandas. Há ainda a influência da música clássica, proveniente de sua família, já que pai e irmã são pianistas clássicos.

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Em relação à capa, Adrian pretendia estabelecer uma conexão com “Heading for a Storm” (1983), o segundo álbum de estúdio do Vandenberg. Ele explica:

“Ao conceber a capa do ‘2020’, pensei em trazer de volta o logotipo clássico do Vandenberg de uma forma ligeiramente desgastada e vintage. Para o segundo álbum, queria estabelecer uma ligação com ‘Heading for a Storm’, pois na época ninguém sabia para onde os tubarões estavam se encaminhando. Achei interessante retratá-los voando em Nova York, em uma avenida famosa da cidade.”

No que diz respeito à escolha de Nova York, Adrian justifica:

“Muitos se referem a Nova York como a ‘Cidade do Pecado’, devido à violência e prostituição frequentes. Além disso, lembrei-me de que, na Bíblia, o pecado original ocorreu quando Adão e Eva comeram a maçã. Curiosamente, um dos apelidos de Nova York é a ‘Big Apple’. De repente, tudo se encaixou.”

Oportunidades perdidas e encontros adiados com o Whitesnake

Adrian Vandenberg entrou para o Whitesnake em 1986, embora tivesse tido a oportunidade de se juntar à banda muito antes. Ele recorda a primeira abordagem de David Coverdale, de quem sempre foi fã:

“Isso ocorreu em 1982, logo após o primeiro álbum do Vandenberg ser concluído. Na época, eu disse a David que não era possível naquele momento, mas mantivemos contato. Sempre senti que eventualmente trabalharíamos juntos, pois éramos admiradores do trabalho um do outro. David mencionou várias vezes ao longo dos anos que muitas das primeiras músicas do Vandenberg poderiam ter sido músicas do Whitesnake e vice-versa.”

Novos convites surgiram pouco depois:

“Durante o Monsters of Rock, na Inglaterra, David convidou-me para encontrá-lo nos bastidores. Ele perguntou: ‘E agora?’. Respondi: ‘Estou ocupado gravando o segundo álbum do Vandenberg’. Mais tarde, quando o Whitesnake estava gravando ‘Slide It In’ (1984), o empresário do David entrou em contato, mas eu estava ocupado com o terceiro álbum do Vandenberg, ‘Alibi’ (1985). O timing simplesmente não estava a nosso favor. No final de 1986, finalmente tudo se alinhou para que eu pudesse dizer ‘sim’.”

Vandenberg: entre orgulho e reconhecimento das limitações do passado

Adrian descreve os álbuns que o impediram de se juntar ao Whitesnake nessas ocasiões como “músicas que envelheceram bem com letras que envelheceram mal”. Ele explica:

“Eu era jovem quando as escrevi e minha habilidade de composição amadureceu desde então. Tenho muito orgulho de algumas, como ‘Burning Heart’, que considero atemporal. No entanto, outras, como ‘Ready for You’, ‘Friday Night’ e ‘Voodoo’, esta última, exceto pelo solo, reconheço que somente representam o melhor que eu era capaz de fazer naquela época.”

Ainda segundo sua reflexão, a estética da época encorajava letras simplistas, mesmo nos artistas veteranos:

“As letras do Judas Priest naquela época eram igualmente terríveis. Os clipes também refletiam esse tom mais bobo.”

De acordo com Adrian, existe a possibilidade de regravar músicas antigas do Vandenberg com uma abordagem contemporânea. Seria não apenas para aprimorar as letras, mas também para ajustar o andamento de algumas músicas:

“Algumas das músicas acabaram ficando muito rápidas devido à tendência do nosso baterista [Jos Zoomer] de acelerar. Precisaríamos ajustar isso para recuperar a pegada original que eu tinha para essas músicas.”

“Restless Heart” e a busca pela sonoridade perfeita

Adrian Vandenberg passou quase treze anos com o Whitesnake, uma experiência que ele considera altamente influente em sua vida e carreira. A amizade com David Coverdale ainda persiste e eles trocam piadas regularmente. O guitarrista destaca a parceria frutífera que rendeu ótimas composições, incluindo “Too Many Tears”, “Sailing Ships”, “Restless Heart” e “Can’t Go On”.

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Quando questionado sobre a versão recentemente remixada e remasterizada do álbum “Restless Heart”, com guitarras adicionais gravadas por Joel Hoekstra, o atual guitarrista do Whitesnake, Adrian expressa que preferia ter feito as adições ele mesmo.

“No entanto, devido à minha agenda ocupada gravando ‘2020’, não pude participar. David foi transparente, informando-me que Joel faria as adições de guitarra, e foi o que ele fez.”

Adrian parece um tanto desconfortável ao abordar o assunto, mas continua a discutir o período:

“Foi uma época estranha, o pós-grunge. Bandas dos anos 1980 estavam lutando para encontrar seu lugar. Não sabiam se deveriam permanecer como eram ou tentar se adaptar. David e eu optamos por um meio-termo, algo entre o Whitesnake original e a abordagem mais pesada do ‘Slip of the Tongue’.”

No entanto, houve um desacordo em relação à mixagem do álbum:

“Pessoalmente, teria preferido uma mixagem mais pesada para o álbum. As músicas mais rock acabaram soando um pouco polidas demais para o meu gosto. Se dependesse de mim, teria escolhido Mike Fraser, mas David considerou mais apropriado, dadas as circunstâncias, que Mike Shipley, conhecido por seu trabalho com bandas como Foreigner, fosse o responsável pela mixagem. O resultado final foi um álbum que soou excessivamente polido.”

Planos de turnê e a possibilidade de uma visita ao Brasil

Adrian Vandenberg revela que planeja levar “Sin” para a estrada. O lançamento do CD no Brasil aumenta a possibilidade de uma visita inédita do Vandenberg ao país.

“Temos uma série de shows planejados na Europa, seguidos por uma turnê nos Estados Unidos no início do próximo ano, com cerca de 70% do repertório dedicado às músicas do Whitesnake. Tocaremos músicas do ‘SIN’, é claro, mas atendendo a pedidos de fãs ao longo dos anos, a maior parte do setlist será do Whitesnake. Estou ansioso para voltar ao Brasil. Espero que isso aconteça no próximo ano, pois adoro tocar aí.”

Sobre suas experiências anteriores no Brasil, que datam de 25 anos atrás, ele recorda o que mais o impressionou durante sua visita:

“Para mim, tocar no Brasil foi uma experiência completamente nova. A cultura, as pessoas e um público extremamente entusiasmado. Sou também um grande entusiasta da culinária, então sempre procuro experimentar alimentos e receitas locais para depois replicar em casa.”

Ele também tem um pedido aos brasileiros:

“Peço que ouçam o novo álbum! Curtam, compartilhem e espalhem a palavra! Quanto mais pessoas se interessarem, maior a probabilidade de podermos fazer uma turnê por aí!”

Clique aqui para ouvir “Sin”, novo álbum do Vandenberg, em todas as plataformas digitais.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

1 COMENTÁRIO

  1. Um dos melhores discos do ano, e gratificante ouvir Mats Leven novamente, há varios bons discos dele no passado. Pessoalmente não curto Ronnie Romero no vocal, seria melhor se ele tivesse uma banda dele com uma identidade própria. Cantou em tanto disco que acabou soando tudo meio igual.

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