A antiga MTV Brasil esteve no ar entre 1990 e 2013. Desde então, não foi lançada nenhuma forma oficial de acessar seu acervo.
Agora, porém, há uma boa notícia para os saudosos dos programas, entrevistas, momentos com VJs e outros materiais exibidos pelo canal. Perfis “especializados” em resgatar o acervo da emissora fecharam uma parceria com o Grupo Abril, responsável pela emissora no período citado.
Disponíveis nas redes sociais, as páginas A MTV Brasil Que Deu Certo @amtvquedeucerto, MTV Brasil Memórias @mtvbrasilmemorias e Disk MTV @diskmtvbr fazem parte da iniciativa. Com essa colaboração, os criadores por trás dos perfis têm acesso exclusivo a parte do acervo da MTV, que está sendo usado para postagens de verdadeiras raridades do canal — sempre em boa qualidade audiovisual, pois vem direto da fonte.
Abaixo-assinado e interesse
Tudo começou em 2020, quando as três páginas fizeram uma petição para que o acervo da MTV fosse digitalizado. Chamado “Eu quero a minha MTV de volta: Pela digitalização do acervo da MTV Brasil”, o abaixo-assinado conseguiu mais de 10 mil apoiadores e chamou a atenção do Grupo Abril.
Como contou ao site o professor Caio Pinheiro, que cuida da página A MTV Brasil Que Deu Certo, a Abril percebeu o interesse público pelos arquivos e entrou em contato diretamente com ele, que chamou os outros criadores. Já havia uma vontade por parte da empresa em preservar e resgatar a memória da MTV Brasil, o que colaborou para a associação.
Na opinião de Caio, há motivos pelos quais o Grupo Abril preferiu ceder o material às páginas e não disponibilizá-lo por conta própria. A comunidade criada pelos “fãs-clubes” seria um dos principais pontos.
“Acredito que, além da questão da petição, seja porque os perfis possuem um alcance gigantesco e por nossa credibilidade. Também criamos uma comunidade de fãs da antiga MTV Brasil que nos acompanham fielmente. Além do fato de entendermos bastante sobre o assunto, são anos estudando sobre a história da emissora.”
Como funciona
A digitalização dos conteúdos é feita por demanda, de acordo com os contratos de licenciamento. Boa parte dos arquivos já chegam digitalizados aos donos das páginas, a menos que surja alguma outra necessidade, conforme explicou Caio Pinheiro. Por exemplo, no caso dos conteúdos pensados para a semana de aniversário da MTV Brasil, comemorada no fim de outubro, os envolvidos arcaram com a digitalização de algumas fitas.
No momento, os três perfis possuem autorização para publicar até dois minutos do material restaurado. Sendo assim, o foco maior é nas redes sociais, e não em plataformas como o YouTube.
Dando início à parceria com o Grupo Abril, as páginas vêm relembrando momentos de edições variadas da premiação Vídeo Music Brasil (VMB), surgida em 1995. Mas, segundo Caio, já há outros planos para o futuro, que incluem até mesmo registros raros do programa “Garagem do Edgard”, apresentado por Edgard Piccoli.
“O VMB foi uma escolha unânime entre os administradores dos três perfis. A premiação marcou a nossa vida, temos uma memória afetiva com ela, e acreditamos que esse sentimento também esteja presente nos nossos seguidores. Quanto às próximas publicações, posso adiantar que, no verão de 2024, publicarei trecho do ‘Garagem do Edgard’. Imagens raríssimas – algumas não disponíveis na Internet – serão compartilhadas, como a participação dos Los Hermanos, CPM 22 e Nação Zumbi.”
Sobre a MTV Brasil
A MTV Brasil, na versão do Grupo Abril, esteve no ar entre os anos de 1990 e 2013. Apesar de trazer arroubos nostálgicos até hoje junto a fãs e espectadores, o canal quase nunca foi realmente sustentável.
Em palestra durante o evento CreativeMornings, em agosto de 2014, Zico Goes deu exemplos das dificuldades sofridas desde o começo. Vice-presidente e diretor executivo do canal, ele destacou que o público em si era problemático em termos comerciais. Lidava-se com um nicho, que são os fãs de música – e dentro disso, havia subnichos, devido aos fãs de cada gênero.
“Éramos uma TV nichada para jovens sobre música. Era para poucos. Só que, dentro desse canal, que já era nichado, tinha vários outros nichos da música. Quem não curtia rap, achava uma m*rda assistir programa de rap e pensava a MTV só passava rap. Quem não curtia rock, mesma coisa. Quem tem 15 anos, não vai assistir ao programa de música para mais velhos. E quem é mais velho, vai pensar: ‘pô, é canal de garotada’.”
O diretor aponta que “cada um entendia a MTV de um jeito, pois se relacionava só com um pedaço da MTV”. E isso, em sua visão, “fazia mal” à emissora.
“Quando fizemos aqueles programas de namoro, de auditório, ferrou de vez. Quem curtia só a música, acha que virou uma comédia, uma porcaria, e a MTV começou a sofrer com isso.”
Uma matéria mais detalhada sobre a palestra pode ser conferida clicando aqui.
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