Artistas sendo lesados por empresários corruptos é uma constante no meio musical. Exemplos contabilidade fraudulenta, contratos desfavoráveis e má gestão financeira não faltam. Na sua fase clássica, o Black Sabbath foi vítima da desonestidade de seu então manager, Patrick Meehan.
Sabbath e Meehan começaram a trabalhar juntos em meados da década de 1970. O relacionamento ficou marcado por acusações de apropriação indébita.
Alegando que Meehan vinha desviando fundos da reserva da banda, Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward demitiram o empresário, que iniciou uma batalha legal contra os quatro.
Só que essa disputa judicial entre Black Sabbath e Patrick Meehan quase liquidou a banda, segundo Butler em recente entrevista para a Classic Rock. Quando perguntado sobre as circunstâncias que, no fim das contas, levaram à separação da formação clássica, o baixista apontou o clima ruim que se instaurou nos bastidores à época:
“Incessantemente, pedíamos ao nosso empresário na época para ver nossos extratos. Sabíamos que estávamos ganhando mais do que nos era informado. Claro, nunca tivemos acesso aos dados, então decidimos nos livrar dele. Isso era muito mais fácil na teoria do que na prática. Advogados foram envolvidos. Começamos a fazer o ‘Sabotage’ com todas essas ações judiciais em andamento. Estávamos no estúdio gravando, e pessoas apareciam para nos entregar intimações e ofícios. Todos os dias.”
As constantes interrupções atrasaram os trabalhos no sexto álbum de estúdio do grupo, que levou quase um ano para ficar pronto. Mas o pior de tudo, na opinião de Geezer, foi o desfecho dado à situação de Meehan:
“Tivemos que pagar a ele um milhão de dólares dos adiantamentos para nossos próximos álbuns. Então, não íamos ganhar dinheiro algum com eles. Foi demais para nós. Isso nos arruinou.”
Colegas de Black Sabbath complementam
Apesar de a relação ter azedado em razão das práticas contábeis enganosas de Meehan, o empresário desempenhou um papel crucial na história do Sabbath. Segundo Iommi, na autobiografia “Iron Man” (Planeta, 2013):
“Meehan tinha lábia e, nos primeiros tempos, fez as coisas acontecerem de verdade. Foi ele quem nos levou para os Estados Unidos. Tudo mudou para nós. Viajávamos em jatos particulares para todos os lugares. Sempre que queríamos algo, apenas telefonávamos para ele (…) Todos nós gostávamos dele no início e acreditávamos nele.”
Para o guitarrista, ele e os colegas acabaram pagando pela própria ingenuidade:
“A gente não entendia nada disso e tudo parecia ser transparente. Quando alguém de uma grande empresa de contabilidade diz a você o que vai fazer com o seu dinheiro, você aceita (…) Éramos ingênuos demais em relação a tudo. Só queríamos tocar e viajar para todos os lugares, ir para os Estados Unidos e tudo o mais. Foi por isso que, no início, nunca questionamos o jeito de Meehan fazer as coisas. E, claro, na maior parte do tempo, estávamos em turnê, por isso não exigimos muito.”
De acordo com Ward em entrevista de 2020 ao iHeart, as prioridades da banda eram outras, também:
“Eu estava ocupado olhando para as bundas das mulheres e todo mundo vivia bêbado, então parecia tudo bem para mim. Foi só alguns anos depois de ‘Paranoid’ (1970) que começamos a querer saber: ‘Ei, cadê toda a contabilidade?’”
Sobre Patrick Meehan
Nascido em 29 de junho de 1948, Patrick Anthony Meehan ficou conhecido nos anos 1970 especialmente por ter sido o empresário original do Black Sabbath, tendo sido responsável por ajudar a estabelecer a carreira inicial da banda e desempenhado um papel importante no seu sucesso inicial. Também empresariou o grupo prog Gentle Giant e outros nomes de menor expressão.
Sua relação com o Sabbath acabou se tornando contenciosa, resultando numa separação nada amigável das partes em 1975. Além dessa associação, há relativamente poucas informações públicas disponíveis sobre suas atividades posteriores na indústria musical. No ramo cinematográfico, adquiriu a HandMade Films no final da década de 1990, tornando-se seu presidente executivo.
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