A atual turnê de Roger Waters, “This is Not a Drill”, tem sido realizada em meio a polêmicas. No último mês de maio, durante passagem pela Alemanha, o ex-Pink Floyd foi acusado de antissemitismo e até alvo de investigação ao usar um uniforme alusivo ao nazismo em um show. O figurino, adotado há décadas pelo músico como parte do conceito de “The Wall” (1979), faz parte de uma alegoria que se opõe ao fascismo.
Com o anúncio de sete apresentações de Waters no Brasil, a polêmica ganhou um novo capítulo onde Ary Bergher – vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil (CONIB) e presidente do Instituto Memorial do Holocausto – solicitou o cancelamento dos shows ao Ministério da Justiça. A ação foi arquivada pelo Ministério Público Federal (MPF) com o argumento de garantir a liberdade de expressão do artista.
Em recente entrevista ao jornal O Globo, Waters abordou a controvérsia e usou uma série de argumentos para rebater as acusações de antissemismo. O idealizador de “The Wall” relembrou as conquistas do álbum para ilustrar que a interpretação errônea do trabalho é algo recente.
“(Suspira) Escrevi, gravei e lancei ‘The Wall’ em 1978/9. O filme é de 1982. Celebramos a queda do Muro em Berlim e o fim da Guerra Fria em 1990, em show para 400 mil pessoas. Em 2009 recebi, com meu herói Mikhail Gorbachev (nono e último presidente da União Soviética), o prêmio da (alemã) Cinema for Peace. A turnê mundial de 2010 a 2013 ostentou o recorde de a mais lucrativa de um artista solo. Em 2014, o filme a partir da turnê foi apresentado no Festival de Toronto. Qualquer pessoa minimamente familiarizada com ‘The Wall’ sabe que, na narrativa, a estrela do rock Pink sofre episódio psicótico e imagina-se degenerado, na pele de um tirano de estilo nazista.”
A explicação do conceito do disco ainda foi aprofundada. O músico revelou que acredita que toda a situação foi uma tentativa de boicote contra seu posicionamento político.
“Uma crítica satírica às ideologias tirânicas. Mais tarde, Pink se recobra do episódio e, se autoexaminando em um julgamento imaginário, emerge como o coração fofinho e vermelho que amamos. Em nenhum momento ‘The Wall’ glorifica o nazismo ou promove antissemitismo. Pergunto aos doidões da cultura do cancelamento: por que, depois de 45 anos, uma peça contemplativa e humanista como ‘The Wall’, e seu autor, sofrem ataques mentirosos, coordenados pelo lobby israelense? Claro que sei a resposta: minha defesa do povo palestino.”
O lobby de Israel citado é uma união de grupos que influenciam países ocidentais, como os Estados Unidos, a preservar o Estado de Israel. Em diversas situações Waters se opôs aos ataques sofridos pela Palestina e se dirigiu diretamente a líderes políticos que estão por trás das ações.
Roger Waters e o “revisionismo histórico”
Sobre o pedido de proibição dos shows do Brasil, Roger Waters culpou ações do lobby que teriam atingido o país e abordou a disseminação de notícias falsas na Alemanha. O porco inflável, tradicionalmente usado nas apresentações, também foi tirado de contexto para atacar o músico.
“Lamento que tenham embarcado no ridículo revisionismo histórico do lobby israelense. A imprensa alemã publicou imagens de um porco inflável preto, com uma Estrela de Davi pintada, como se fosse parte dos espetáculos de Berlim e Frankfurt. Mentira descarada! Há um porco inflável, mas branco, sem a Estrela de Davi, e nele escrito ‘Roube dos pobres e dê aos ricos.’”
A versão com a Estrela de Davi não faz parte da cenografia desta tour, mas integrou apresentações realizadas em excursões anteriores. Mais informações aqui.
Por fim, o ex-Pink Floyd citou uma carta escrita pelo amigo Peter Medak. Nos trechos divulgados, o diretor de cinema húngaro, sobrevivente do holocausto, se demosntrou revoltado com os ataques contra Waters, um amigo que fez questão de conhecer os horrores da história de sua família.
“Eles [fãs] sabem que não sou nem antissemita nem pró-nazista. Em junho recebi uma carta do diretor Peter Medak, que trabalhou em ‘The Dark Side of the Moon’, e está profundamente magoado com meu cancelamento pelo lobby israelense […]”
A reportagem completa pode ser lida no site do jornal O Globo.
“This is Not a Drill” no Brasil
Eis a agenda completa da turnê “This is Not a Drill” pelo Brasil:
- 24/10 – Brasília – Arena BRB Mané Garrincha
- 28/10 – Rio de Janeiro – Estádio Nilton Santos / Engenhão
- 01/11 – Porto Alegre – Arena do Grêmio
- 04/11 – Curitiba – Arena da Baixada
- 08/11 – Belo Horizonte – Mineirão
- 11/11 – São Paulo – Allianz Parque
- 12/11 – São Paulo – Allianz Parque
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