Crítica: “Besouro Azul” mistura (bem) dramalhão novelístico e “A Grande Família”

Definitivamente, nossa Bruna Marquezine deu sorte de estrelar uma das melhores e mais divertidas produções da DC para os cinemas em tempos

“Besouro Azul” é, antes de tudo, um filme honesto. É ótimo poder abrir este texto dizendo isso logo assim porque já deixa claro que tudo prometido pelos materiais promocionais está entregue. Sem ressalvas e sem pretensões.

Não é uma produção DC cujo objetivo é mudar o mundo, vamos combinar. É diversão simples, leve, descontraída, um belíssimo exemplar de produção pipoca que deixa “The Flash” e “Adão Negro” no chinelo, além de dar uma atropelada da boa no igualmente xóvem “Shazam!”.

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É também, de alguma forma, o filme da fase “antiga” mais adequado para ser considerado parte integrante do novo DCU de James Gunn. Até porque tem Gunn a rodo no DNA desta produção comandada por Angel Manuel Soto. Tem humor, tem coração, sabe ser pop e emocional, além de fazer um belíssimo uso da música como elemento da trama – indo de uma execução espetacularmente hilária da canção-tema de “Maria do Bairro”, com a cantora Thalia, até um momento sensacional embalado por “Kickstart My Heart”, do Mötley Crüe.

É, ainda, uma narrativa absolutamente fiel ao personagem, em suas muitas versões. Conversa, claro, muito mais com o meu filhote, que adora este novo Besouro Azul de ascendência latina, Jaime Reyes, criação recente dos gibis e que virou favorito da molecada – em especial por conta de sua participação destacada no desenho “Justiça Jovem”. Mas também tem acenos deliciosos para quem, como eu, é órfão da chamada “Liga da Justiça Cômica”, a fase da superequipe nos gibis surgida em 1987 e que, repleta de personagens B, se focava muito mais no humor, devidamente protagonizada pela dupla de piadistas formada pelo Gladiador Dourado e pelo Besouro Azul, só que em sua versão Ted Kord.

Tem lá um lado da mais pura breguice? Ah, mas é claro que tem.

No caso de “Besouro Azul”, não é um defeito. Aliás, combina com a trama. Todo o bom e velho dramalhão que nós e nossos irmãos latinos tão bem conhecemos do universo das novelas está lá. Tem exagero, viradas rocambolescas, gritos, cores, correria. E, obviamente, esta família que é o coração do filme e a sua mais interessante sacada.

“Essa família é muito unida….”

A referência ao seminal seriado brasileiro “A Grande Família” não é por acaso. O núcleo da família é genial e compõe a alma de “Besouro Azul”. Revelação da série “Cobra Kai”, o protagonista Xolo Maridueña é um jovem ator carismático e com grande potencial, que abraça o papel de Jaime de tal maneira que acaba se tornando impossível dissociá-lo do jovem justiceiro azulado. Mas seu pai, sua mãe, sua avó, seu tio e sua irmã mais nova são tão principais quanto ele.

Cada um dos Reyes tem sua importância na construção da persona heroica de Jaime. Do pai resiliente à mãe superprotetora, passando pelo tio paranoico/p#rra louca e pela irmã questionadora, todos são uma mistura barulhenta (do tipo que fala uma em cima da outra na mesa do jantar) de tradição latina e resistência suburbana.

E a avó, vivida por Adriana Barraza? Se no começo do filme ela já é uma figuraça maravilhosa, espere até chegar no final da projeção. De figurinha divertida nos bastidores, ela se transforma em eixo do grupo.

A família do Jaime é mexicana, mas poderia tranquilamente ser a minha ou a sua.

Sobre a história de “Besuoro Azul”

Jaime é o único integrante da família Reyes, até o momento, com chance de ser “alguém” na vida, buscando formação universitária. Mas a família humilde, que vive num bairro esquecido da cidade de Palmera City, enfrenta uma série de problemas financeiros, inclusive o risco de perder a casa na qual moram – até que eles cruzam o caminho da jovem Jenny Kord (Bruna Marquezine).

A garota é filha de Ted Kord, figurão excêntrico e fanático por bugigangas que era presidente das Indústrias Kord e também tinha a sua vida secreta. Aí o sujeito desapareceu sem deixar vestígios. As aspirações pacifistas de suas empresas se tornaram uma ambição desmedida pelo mercado armamentista conforme sua irmã, Victoria (Susan Sarandon), assumiu o posto. Ela busca criar um supersoldado tecnológico para o governo, batizado de OMAC – e, para isso, quer desbloquear o código de um artefato alienígena, uma espécie de escaravelho azul que seu irmão tinha encontrado anos antes.

O tal artefato acaba indo parar nas mãos de Jaime, iniciando uma conexão simbiótica com o garoto e lhe conferindo um belo combo de poderes. O resto é fácil de entender.

“Besouro Azul” tem lá as suas conexões com o Universo DC de forma mais ampla. Batman, Flash e Superman são abertamente mencionados, uma transmissão de rádio em espanhol fala o nome do milionário Bruce Wayne e o agasalho de Jaime mostra que sua faculdade de Direito fica em Gotham City.

Mas isso não é impeditivo para existir por conta própria. Nada disso serve de muleta. Aliás, justamente por isso, por ser uma história fechada em si, estamos falando do que funciona também como um belo filme de origem.

E a Bruna Marquezine?

Não há como negar: Bruna Marquezine está ótima no filme. Falando um inglês bastante fluente, ela não se intimidou diante de um monstro da interpretação como Susan Sarandon (uma vilã propositalmente caricata e canastrona, aliás). A filha brasileira de Ted Kord – o que levanta uma série de teorias de que ela seria filha do segundo Besouro com ninguém menos que a Fogo, integrante brasileira da fase da Liga da Justiça Internacional – tem personalidade e, além de encarar a tia maquiavélica de frente, não tem receio de se acabar em lágrimas ao lembrar de seu passado, em uma sequência que convence muito bem quem duvida das qualidades dramáticas da atriz.

Fora a química mais do que evidente com Xolo. O casal funciona – há quem diga que também fora das telas, mas aí vamos deixar o seu lado fofoqueiro dar umas buscas no Google para saciar a curiosidade.

Além da presença da Bruna e da pegada familiar do núcleo principal, tem outro elemento que se conecta demais com o Brasil em “Besouro Azul”: a homenagem escancarada ao Chapolin Colorado. O diretor do filme e também o seu roteirista, Gareth Dunnet Alcocer, já tinham dito publicamente que o primeiro herói de ambos foi justamente o personagem criado por Roberto Gomez Bolaños, o Chespirito. E como se trata de um herói latino e diretamente relacionado a um inseto, nada mais justo do que conectá-lo aqui.

Não vamos contar em qual contexto acontece a homenagem, mas vamos combinar: é impossível não gostar de um filme que exalta o Polegar Vermelho, não é mesmo?

*“Besouro Azul” estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (17).

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Thiago Cardim
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Thiago Cardim é uma mistura de jornalista com publicitário, salpicada com cinéfilo, temperada com metaleiro e reforçada com gibizeiro. Escreve sobre cultura pop no Gibizilla, fala sobre coisas do mundo no podcast Imagina Se Pega No Olho e sobre música no Imagina Se Pega no Ouvido.

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