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Alice Cooper já não assusta ninguém, mas ainda diverte como poucos em “Road”

Novo álbum, o 29º da carreira de Vincent Furnier, flerta com o burlesco e o descartável, contudo, sobressai justamente por não se levar tão a sério

Seria um erro esperar algo realmente horripilante ou minimamente profundo de Alice Cooper a essa altura do campeonato. O alter ego de Vicent Furnier já não assusta ninguém, a não ser quando dispara bobagens recentes como “há casos de transgêneros, mas temo que também seja um modismo”. No entanto, quando o intuito é se divertir ou divertir seu público cativo, o músico, um conservador autodeclarado, ainda o faz como poucos.

Contradições à parte, o pioneiro do shock rock demonstra em “Road”, seu 29º álbum de estúdio (22 em carreira solo + sete com a Alice Cooper Band), que sabe exatamente o que fazer para se manter relevante. Mesmo que isso passe pelo flerte com o burlesco ou canções agradavelmente descartáveis. Aos 75 anos, Alice encontra sua melhor versão justamente ao não se levar tão a sério.

- Advertisement -

“Road” é um disco repleto de autorreferências, seja à persona Alice Cooper ou sua vida na estrada. Algumas provocam mais o riso – ou memes, nos dias de hoje – do que susto ou temor. E nosso anti-herói parece bem resolvido com isso, pois talvez nem ele acredite no que diz:

“Sou Alice, o mestre da loucura, o sultão da surpresa. Sou Alice, o mestre da loucura, o pai do medo. Eu sou seu para sempre, mas você é minha esta noite.”

Esse é o refrão de “I’m Alice”, escolhido como o primeiro single do álbum e que cumpre bem seu papel, apesar de haver músicas ainda mais interessantes no repertório. “Welcome to the Show” caminha pela mesma simplicidade lírica, mas soa muito mais irresistível. Um belo rock arrasa-quarteirão com toques de (proto) punk, à la New York Dolls. “Go Away”, com roteiro parecido e forte influência de Rolling Stones, também se destaca.

Quando pisa no freio, Alice mostra versatilidade nas cadenciadas “All Over the World”, com ótimo groove e uso de metais, e “White Line Frankenstein”, segundo single do disco e que conta com um convidado de relevo: o guitarrista Tom Morello. O riff central é puro suco de Rage Against the Machine, e a parceria funciona, a despeito do refrão chatinho.

Há, porém, momentos que não convencem. Quando tenta entregar peso demais, Alice Cooper derrapa e, na verdade, soa forçado. É o caso de “Dead Don’t Dance”, cujo riff parece saído de alguma sobra de “13”, do Black Sabbath, e “The Big Goodbye”, salva apenas pelo refrão. “Big Boots”, meio boogie e inofensiva, também fica devendo.

Na reta final, porém, “Road” volta aos trilhos. O álbum se encerra com releituras competentes para “Road Rats”, do disco “Lace and Whiskey (1977) e aqui batizada de “Road Rats Forever”, e “Magic Bus”, do The Who, além da fantasmagórica “100 More Miles” e da balada “Baby Please Don’t Go”, algo em que Alice Cooper raramente erra a mão.

Como o conceito de “Road” gira em torno dos prazeres e agruras da estrada, nada melhor do que chamar quem o acompanha nas turnês para gravá-lo. E assim Alice Cooper o fez. O álbum foi registrado praticamente ao vivo em estúdio com os músicos de sua banda – os guitarristas Nita Strauss, Ryan Roxie e Tommy Henrikson, o baixista Chuck Garric e o baterista Glen Sobel.

Como de costume, o produtor Bob Ezrin, de nomes como Kiss, Aerosmith e Deep Purple, entrega uma sonoridade impecável e assina como coautor em todas as faixas inéditas, participando ativamente do processo de composição e seu direcionamento.

“Road” não vai mudar o mundo e nem precisa. Basta cumprir seu propósito de diversão com músicas despojadas e que honram o legado de Alice Cooper. E isso ele faz até melhor do que os dois antecessores, “Detroit Stories” (2021) e “Paranormal” (2017).

*Ouça “Road” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

*O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Alice Cooper – “Road”

  1. I’m Alice
  2. Welcome To The Show
  3. All Over The World
  4. Dead Don’t Dance
  5. Go Away
  6. White Line Frankenstein
  7. Big Boots 
  8. Rules Of The Road
  9. The Big Goodbye
  10. Road Rats Forever
  11. Baby Please Don’t Go
  12. 100 More Miles
  13. Magic Bus

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Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room e Rock Brigade. Atualmente revisa livros da editora Estética Torta e é editor do Morbus Zine, dedicado ao death metal e grindcore.

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Novo álbum, o 29º da carreira de Vincent Furnier, flerta com o burlesco e o descartável, contudo, sobressai justamente por não se levar tão a sério

Seria um erro esperar algo realmente horripilante ou minimamente profundo de Alice Cooper a essa altura do campeonato. O alter ego de Vicent Furnier já não assusta ninguém, a não ser quando dispara bobagens recentes como “há casos de transgêneros, mas temo que também seja um modismo”. No entanto, quando o intuito é se divertir ou divertir seu público cativo, o músico, um conservador autodeclarado, ainda o faz como poucos.

Contradições à parte, o pioneiro do shock rock demonstra em “Road”, seu 29º álbum de estúdio (22 em carreira solo + sete com a Alice Cooper Band), que sabe exatamente o que fazer para se manter relevante. Mesmo que isso passe pelo flerte com o burlesco ou canções agradavelmente descartáveis. Aos 75 anos, Alice encontra sua melhor versão justamente ao não se levar tão a sério.

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“Road” é um disco repleto de autorreferências, seja à persona Alice Cooper ou sua vida na estrada. Algumas provocam mais o riso – ou memes, nos dias de hoje – do que susto ou temor. E nosso anti-herói parece bem resolvido com isso, pois talvez nem ele acredite no que diz:

“Sou Alice, o mestre da loucura, o sultão da surpresa. Sou Alice, o mestre da loucura, o pai do medo. Eu sou seu para sempre, mas você é minha esta noite.”

Esse é o refrão de “I’m Alice”, escolhido como o primeiro single do álbum e que cumpre bem seu papel, apesar de haver músicas ainda mais interessantes no repertório. “Welcome to the Show” caminha pela mesma simplicidade lírica, mas soa muito mais irresistível. Um belo rock arrasa-quarteirão com toques de (proto) punk, à la New York Dolls. “Go Away”, com roteiro parecido e forte influência de Rolling Stones, também se destaca.

Quando pisa no freio, Alice mostra versatilidade nas cadenciadas “All Over the World”, com ótimo groove e uso de metais, e “White Line Frankenstein”, segundo single do disco e que conta com um convidado de relevo: o guitarrista Tom Morello. O riff central é puro suco de Rage Against the Machine, e a parceria funciona, a despeito do refrão chatinho.

Há, porém, momentos que não convencem. Quando tenta entregar peso demais, Alice Cooper derrapa e, na verdade, soa forçado. É o caso de “Dead Don’t Dance”, cujo riff parece saído de alguma sobra de “13”, do Black Sabbath, e “The Big Goodbye”, salva apenas pelo refrão. “Big Boots”, meio boogie e inofensiva, também fica devendo.

Na reta final, porém, “Road” volta aos trilhos. O álbum se encerra com releituras competentes para “Road Rats”, do disco “Lace and Whiskey (1977) e aqui batizada de “Road Rats Forever”, e “Magic Bus”, do The Who, além da fantasmagórica “100 More Miles” e da balada “Baby Please Don’t Go”, algo em que Alice Cooper raramente erra a mão.

Como o conceito de “Road” gira em torno dos prazeres e agruras da estrada, nada melhor do que chamar quem o acompanha nas turnês para gravá-lo. E assim Alice Cooper o fez. O álbum foi registrado praticamente ao vivo em estúdio com os músicos de sua banda – os guitarristas Nita Strauss, Ryan Roxie e Tommy Henrikson, o baixista Chuck Garric e o baterista Glen Sobel.

Como de costume, o produtor Bob Ezrin, de nomes como Kiss, Aerosmith e Deep Purple, entrega uma sonoridade impecável e assina como coautor em todas as faixas inéditas, participando ativamente do processo de composição e seu direcionamento.

“Road” não vai mudar o mundo e nem precisa. Basta cumprir seu propósito de diversão com músicas despojadas e que honram o legado de Alice Cooper. E isso ele faz até melhor do que os dois antecessores, “Detroit Stories” (2021) e “Paranormal” (2017).

*Ouça “Road” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

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  1. I’m Alice
  2. Welcome To The Show
  3. All Over The World
  4. Dead Don’t Dance
  5. Go Away
  6. White Line Frankenstein
  7. Big Boots 
  8. Rules Of The Road
  9. The Big Goodbye
  10. Road Rats Forever
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Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room e Rock Brigade. Atualmente revisa livros da editora Estética Torta e é editor do Morbus Zine, dedicado ao death metal e grindcore.

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