A empresa Vampyre Cosmetics cancelou sua parceria com Alice Cooper depois que o lendário roqueiro cogitou que a causa da afirmação de gênero poderia ser “uma moda passageira” e afirmou que o discurso em torno da comunidade trans “chegou agora ao ponto do absurdo”.
Menos de duas semanas atrás, a companhia anunciou parceria com o cantor visando a criação de uma linha de maquiagem inspirada em seu trabalho. Porém, após as declarações, a sociedade foi interrompida de forma irrevogável.
Diz o comunicado emitido nas redes sociais:
“À luz das recentes declarações de Alice Cooper, não faremos mais uma colaboração de maquiagem. Apoiamos todos os membros da comunidade LGBTQIA+ e acreditamos que todos deveriam ter acesso a cuidados de saúde. Todas as pessoas que participaram das pré-vendas serão reembolsadas.”
As falas de Alice Cooper
Em entrevista ao Stereogum, Alice Cooper havia dito:
“Entendo que existam casos de transexuais, mas temo que também seja uma moda passageira, que haja muita gente afirmando ser isso só porque quer ser. Você tem um filho de seis anos que não tem ideia. Ele só quer brincar, e você o confunde dizendo: ‘sim, você é um menino, mas pode ser uma menina se quiser ser’. Eu acho que isso é tão confuso para uma criança. É confuso até para um adolescente. Você ainda está tentando encontrar sua identidade, mas aqui está uma coisa acontecendo, dizendo: ‘sim, mas você pode ser o que quiser; você pode ser um gato, se você quiser’. Quero dizer, se você se identifica como uma árvore… E eu digo: ‘onde é que estamos, em um romance de Kurt Vonnegut?’ É tão absurdo que agora chegou ao bizarro.”
A seguir, o cantor se valeu de outra tática discursiva bastante conhecida: a do “não sou preconceituoso, mas…”
“A coisa toda da cultura woke… Ninguém pode responder a essa pergunta. Talvez você possa. Quem está ditando as regras? Existe algum prédio em algum lugar de Nova York onde as pessoas se sentam todos os dias e dizem: ‘ok, não podemos dizer ‘mãe’ agora, temos que dizer ‘pessoa que dá à luz’, divulgue isso agora mesmo.’ Quem é essa pessoa que está fazendo essas regras? Eu não entendo. Não estou sendo antiquado, estou sendo lógico sobre isso.”
Cooper prosseguiu com um exemplo que simplesmente não encontra precedentes lógicos na sociedade:
“Está chegando ao ponto em que é ridículo. Se alguém estava tentando enfatizar, acabou transformando em uma grande comédia. Não conheço uma pessoa que concorde com a coisa do woke. Eu não conheço uma pessoa. Todo mundo com quem converso diz: ‘não é estúpido?’ E eu digo: ‘bem, eu respeito as pessoas e quem elas são, mas não vou dizer a um menino de sete anos para colocar um vestido porque talvez você seja uma menina; ele dirá que é um garoto’.
Então eu digo para que alguém pelo menos se torne sexualmente consciente de quem é antes de começar a pensar se é menino ou menina. Muitas vezes, vejo as coisas desta forma, da maneira lógica: Se você tem esses órgãos genitais, você é um menino. Se você tem esses órgãos genitais, você é uma menina. Há uma diferença entre ‘Eu sou um homem que é mulher, ou sou uma mulher que é homem’ e querer ser mulher. Você nasceu homem. Ok, então isso é um fato. Você tem essas coisas aqui. Agora, a diferença é que você quer ser mulher. Ok, isso é algo que você pode fazer mais tarde, se quiser. Mas você não é um homem que nasceu mulher.”
O entrevistador apontou para Alice que os pais não estão incentivando dúvidas sobre a identidade de seus filhos e estão apenas ouvindo-os e encontrando pediatras que forneçam cuidados adequados. A resposta foi estilo tiozão do zap:
“Bem, posso ver alguém realmente tirando vantagem disso. Um cara pode entrar no banheiro de uma mulher a qualquer momento e simplesmente dizer: ‘hoje me sinto uma mulher’ e se divertir muito ali, e ele não está nem um pouco… ele está apenas aproveitando disso, dessa situação. Bem, isso vai acontecer. Alguém vai ser estuprado e o cara vai dizer: ‘bem, eu me senti como uma garota naquele dia, e então me senti como um cara’. Onde você traça essa linha? Algo vai acontecer e, de repente, as pessoas vão começar a dizer: ‘espere um minuto, precisamos manter isso sob controle’. É quase assim com a inteligência artificial. As pessoas diriam: ‘bem, e quanto à IA?’. E eu falo: ‘a única pessoa que não deveria ter IA é Paul McCartney’. É perigoso.”
Contexto
A pauta abordada por Alice Cooper vem sendo discutida por políticos em vários estados americanos tentando restringir a capacidade das pessoas trans de buscar tratamentos médicos de afirmação de gênero. Em alguns, como Geórgia e Tennessee, as proibições para menores já foram decretadas no primeiro trimestre de 2023.
Também no Tennessee, Estados Unidos, um projeto de lei tentou proibir shows de drag queen em propriedade pública ou em qualquer lugar onde menores de idade possam estar presentes. A medida foi considerada incondicional por um juiz federal.
Em 2021, cerca de 42 mil crianças e adolescentes nos Estados Unidos receberam diagnóstico de disforia de gênero, quase o triplo do número de 2017, segundo dados compilados para a agência de notícias Reuters. Ela é definida como o sofrimento causado por uma discrepância entre a identidade de uma pessoa e aquela que lhe foi atribuída no nascimento.
Transgênero é um termo amplo para pessoas cuja “identidade, expressão de gênero ou comportamento não está de acordo com aquele tipicamente associado ao sexo ao qual foram atribuídos no nascimento”, de acordo com a American Psychological Association (APA).
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Pena que ninguém levante a mesma discussão para aqueles que fizeram a transição e se arrependeram depois, já que para a sociedade hoje, o que vale é a primeira decisão, sem contestação.
A taxa de arrependimento é de menos de 1% (https://biapagliarinibagagli.medium.com/5-mitos-mais-comuns-sobre-crian%C3%A7as-e-jovens-transg%C3%AAneros-77b60ea9af65). Também é um problema, obviamente, e precisa ser resolvido especialmente com informação. Mas é bem menor do que os 99% de casos de disforia de gênero que são tratados com sucesso. Vamos nos ater ao problema? Ou apenas tentar encontrar escapatórias para não discuti-lo?