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As jovens que teriam sido enganadas para ajudar a criar a bomba atômica

Por conta da Segunda Guerra, governo americano contratou muitas mulheres para o trabalho - e elas nem tinham noção do que estavam fazendo

Oppenheimer”, novo filme do diretor Christopher Nolan, retrata o trabalho do físico J. Robert Oppenheimer no desenvolvimento das primeiras bombas atômicas, que eram parte do famoso Projeto Manhattan. Porém, havia outro aspecto controverso do programa: as mulheres que auxiliaram no enriquecimento de urânio e nem sabiam que estavam fazendo isso.

O governo americano construiu, num piscar de olhos, uma cidade no estado do Tennessee e contratou diversas pessoas para trabalhar no local. Muitas delas eram jovens mulheres, que foram atraídas por conta de variadas promessas – mas que não podiam falar demais sobre o que estavam fazendo e eram constantemente vigiadas.

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A seguir, vamos contar esta história sobre as jovens que foram enganadas para ajudar no desenvolvimento da bomba atômica.

Surge Oak Ridge

Em 1942, o governo americano precisava escolher um local para desenvolver os materiais necessários ao Projeto Manhattan, que recebeu luz verde do então presidente americano, Franklin Roosevelt

O general Leslie Groves, diretor do programa, gostou bastante de uma área no interior do Tennessee: por ter poucas pessoas morando nela, sua aquisição seria barata, poderia ser acessada por estradas e linhas férreas e tinha água e eletricidade prontos para uso por conta da recente inauguração de uma represa próxima. 

No final de 1942, os poucos residentes do local logo receberam avisos de que teriam poucas semanas para deixar suas casas, sem que nenhuma explicação fosse dada para eles. Muitos foram forçados a sair de seus lares ainda sem receber uma compensação financeira.

Em questão de meses, a área, que mal era habitada, foi se transformando em uma cidade que recebia diversos ônibus cheios de pessoas, gastava mais energia que Nova York e que ao final da Segunda Guerra Mundial, já tinha 80 mil habitantes. 

Ela foi batizada com o nome de Oak Ridge, mas só foi aparecer nos mapas americanos após o fim do conflito – justamente por conta do sigilo imposto pelo projeto.

Quem testemunhou a rápida construção da cidade notou que chegavam inúmeros caminhões com materiais para construir fábricas, mas que praticamente nada saía de lá. Ou melhor, uma única coisa deixava Oak Ridge: Urânio-235, que era enriquecido no local e encaminhado para o laboratório de Los Alamos, no estado do Novo México.

Era fácil levar o elemento radioativo de Oak Ridge e manter todo o segredo da população. Afinal, ele poderia ser levado em uma caixa pequena tanto de carro quanto de trem até Los Alamos.

Como o governo americano atraiu mulheres ao local

Com tudo pronto, era hora de habitar o local com as pessoas que trabalhariam no programa. Foi aí que Oak Ridge se tornou uma cidade com a maioria de sua população composta por mulheres. Afinal, muitos homens americanos estavam na linha de frente da Segunda Guerra Mundial, seja na Europa ou no Pacífico.

Para poder atrair as trabalhadoras ao local (especialmente as mais jovens), o governo americano garantiu que pagaria bons salários e prometeu que o serviço apenas ajudaria a garantir o fim da Segunda Guerra. Esse era um motivo pra lá de convincente, já que muitas mulheres viram seus maridos ou irmãos defenderem o país no conflito – e que muitas vezes, retornavam sem vida. 

Em Oak Ridge, seus habitantes e os trabalhadores das fábricas responsáveis pelo enriquecimento de Urânio receberam crachás que indicavam quais ônibus poderiam pegar, os locais em que poderiam comer e as instalações que poderiam frequentar.

Por se tratar de uma cidade como qualquer outra, muitas pessoas tinham trabalhos comuns, como professores, cozinheiros, faxineiros e operadores de telefones. Enquanto isso, uma pequena parcela dos novos moradores de Oak Ridge foi designada para trabalhar no enriquecimento do Urânio – claro, sem nem saberem que estavam fazendo este tipo de trabalho.

Trabalho sob constante vigilância

Muitas dessas jovens mulheres contratadas para trabalhar no local – algumas delas mal haviam concluído o ensino médio – passaram a operar os chamados calutrons, um equipamento usado para separar os isótopos de urânio.

Todo dia, durante o conflito, elas tinham uma tarefa simples para contribuir com algo pra lá de complexo e perigoso: manter a agulha do ponteiro do equipamento sempre no meio. Caso se mexesse demais para algum dos lados, bastava acionar uma alavanca para colocá-la de volta ao centro. Além disso, se o ponteiro brilhasse demais, deveriam chamar seus supervisores.

Claro, aquilo tudo gerou uma enorme curiosidade nas jovens trabalhadoras de Oak Ridge, que não tinham ideia do que estavam fazendo. No entanto, para o azar das fofoqueiras de plantão, quem falasse demais poderia perder não apenas o emprego, mas também sua casa na cidade. Era comum ver alguns calutrons vazios de repente, que eram logo ocupados por outra pessoa.

Para piorar, quem trabalhava diretamente com o enriquecimento do urânio ainda era vigiada por agentes do governo americano mesmo quando não estava no laboratório. Quem fosse pega conversando sobre o trabalho ou espalhando boatos sobre ele recebia uma “visita” dos espiões mais tarde e tinha de dar explicações.

Toda essa vigilância constante tinha um motivo: o Projeto Manhattan era altamente secreto. Tanto que ele só foi divulgado pelo governo americano após o fim da Segunda Guerra Mundial. Por isso, nada podia sair dos muros de Oak Ridge.

A situação era ainda mais complicada para a população preta: além de não poderem levar seus filhos para Oak Ridge, homens e mulheres também eram impedidos de ficar juntos e tinham de dormir em alojamentos separados. Além disso, os horários em que podiam se ver eram limitados. 

Ao menos, para não deixar a população tão tensa e cansada – além de toda essa vigilância e segredos que não poderiam vazar, a fábrica de enriquecimento de urânio funcionava 24 horas por dia -, Oak Ridge tinha suas distrações: times esportivos foram criados, pistas de boliches abertas e até mesmo clubes noturnos foram autorizados a funcionar na cidade.

A verdade é revelada

Apenas após o lançamento da bomba atômica em Hiroshima que a população de Oak Ridge descobriu a verdade sobre o local, quando o então presidente americano, Harry Truman, fez um discurso para todo o país.

Após explicar que a bomba foi fruto de muito trabalho científico, Truman explicou que, em breve, o Secretário de Guerra divulgaria um comunicado sobre tudo que aconteceu nos últimos anos nas proximidades das cidades de Pasco, no estado de Washington (neste local, era enriquecido plutônio), Santa Fé, no Novo México, e em Oak Ridge.

No entanto, não foi preciso aguardar o comunicado do secretário para que todos os habitantes de Oak Ridge descobrirem que passaram os últimos anos auxiliando o desenvolvimento da bomba atômica sem nem saberem disso, o que gerou as mais diversas reações entre a população.

Oak Ridge após a guerra e atualmente

Dois anos após o fim da Segunda Guerra, Oak Ridge passou a ser administrada por civis, mas ainda estava sob supervisão da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos. Apenas em 1959 que ela foi incorporada e se tornou uma cidade “comum”, passando a contar com um prefeito e vereadores eleitos pela população.

Dois dos quatro laboratórios criados para auxiliar na produção da bomba atômica ainda continuam de pé. Eles se tornaram atrações turísticas na cidade e existem até mesmo filas de espera para visitá-las.

A população de Oak Ridge caiu drasticamente e atualmente, ela conta com pouco mais de 30 mil habitantes. Apesar de pequena, nem é preciso dizer que ela tem uma história pra lá de rica e interessante e cumpriu seu papel em ajudar a botar um fim na Segunda Guerra Mundial.

*Texto construído com informações do artigo escrito por Denise Kiernan, autora de um livro sobre o assunto (The Girls Of Atomic City: The Untold Story of the Women who Helped Win World War II), para a Rolling Stone.

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Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua no mercado desde 2013 e já realizou trabalhos como assessor de imprensa, redator, repórter web e analista de marketing. É fã de esportes, tecnologia, música e cultura pop, mas sempre aberto a adquirir qualquer tipo de conhecimento.

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