O que há de real e inventado no filme “Lords of Chaos”

Longa explora a cena do black metal norueguês, que se envolveu em diversas polêmicas

Lançado em 2019, o filme “Lords of Chaos” retratou a cena do black metal norueguês, com um pouco mais de atenção para o Mayhem. Só que este movimento foi muito além do âmbito musical e se envolveu em  vários casos polêmicos, como igrejas que foram queimadas no país escandinavo e até mesmo o assassinato de um dos seus fundadores.

Como acontece com muitas adaptações cinematográficas de obras e acontecimentos da vida real, “Lords of Chaos” acertou em algumas coisas, enquanto inventou outras. O próprio diretor, Jonas Akerlund, já declarou que o filme é sobre “verdades e mentiras”.

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Então, o que foi exatamente que o filme acertou e aquilo que foi inventado em “Lords of Chaos”? É o que vamos abordar a seguir.

O próprio nome “Lords of Chaos”

Para começar, já podemos te dizer que o próprio nome do filme e do livro que serviu de inspiração para o enredo nunca foi mencionado por seus personagens na vida real.

Os integrantes do Mayhem nunca declaram ser os “Lordes do Caos”, como o músico Dead afirma em determinado momento da obra. A banda também nunca usou esse título para alguma música ou álbum que produziram, por exemplo.

Na realidade, este nome foi usado por um grupo criminoso de adolescentes americanos que matou um professor deles em 1996. Ou seja: não há qualquer relação com a cena do black metal norueguês.

A namorada de Euronymous em “Lords of Chaos”

Uma figura central de “Lords of Chaos” é Euronymous, cofundador e guitarrista do Mayhem, o grande responsável pelo grupo e a cena terem ganhado fama, seja do lado musical ou por conta de suas polêmicas.

No decorrer do filme, vimos que Euronymous começa a namorar uma garota chamada Ann-Marit. Na realidade, ela nunca existiu.

Em seu canal no YouTube – que foi deletado há algum tempo –, o músico Varg Vikernes, único integrante do Burzum e responsável por assassinar Euronymous em 1993, garante que nunca ouviu falar de qualquer Ann-Marit. Ele diz ainda que o guitarrista do Mayhem era homossexual.

“Euronymous era um homossexual não-assumido. Ele não havia saído do armário ainda, mas todos sabíamos. Isso deixou ridícula a personagem inventada Ann-Marit. Ele não tinha namorada, ninguém da cena lembrava desse nome ou do personagem mesmo que remotamente. Provavelmente, ele era gay.”

Desta forma, Ann-Marit não foi a responsável por tirar as famosas fotos de Euronymous, em que ele aparece vestindo um manto e empunhando uma espada, como o filme revela. Na realidade, elas foram tiradas pelo próprio Varg Vikernes.

Os ataques a igrejas católicas

Se há uma coisa que o filme acertou, foi com relação aos ataques que muitas igrejas católicas da Noruega sofreram com as ascensão do black metal norueguês.

De fato, muitas igrejas foram alvos de incêndios causados por integrantes do movimento, conhecidos justamente por suas crenças contrárias à igreja católica.

O caso mais famoso foi o da igreja de Holmenkollen. Ela foi destruída em 1992 por um incêndio causado pelos próprios Euronymous e Varg Vikernes, que também teve a participação de Faust, baterista do grupo Emperor.

Este acontecimento não deixou de ser retratado em “Lords of Chaos”. O filme apenas modificou um pouco a data do ataque ao local, que ocorreu um pouco mais cedo que na realidade.

Varg Vikernes foi julgado e condenado por este e mais dois incêndios a igrejas católicas norueguesas, além de ter sido suspeito de ter orquestrado um quarto ataque. Já Euronymous não teve como ir a julgamento justamente por conta de sua morte.

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O assassinato de Euronymous

Um dos momentos mais chocantes da cena foi a morte de Euronymous, que ocorreu em 10 de agosto de 1993. Ele foi morto pelo próprio Varg Vikernes, com diversas facadas, após um desentendimento entre eles.

Por muito tempo, especulou-se que o assassinato foi motivado por uma disputa de poder entre os dois e possíveis ameaças de morte contra Varg, vindas do próprio Euronymous. Vikernes garante que agiu em legítima defesa – algo que levantou dúvidas entre os próprios membros da cena.

Novamente para seu canal no YouTube, Vikernes desmentiu um detalhe revelado pelo filme: o de que Euronymous havia cortado seu cabelo pouco antes de sua morte.

“Euronymous não cortou o próprio cabelo antes de ser assassinado. E acho que o cineasta chegou a essa bizarra conclusão – e inventou a história – porque viu um laudo de autópsia. Lá, dizia que Euronymous estava sem cabelo porque quando a autópsia foi feita, tiveram de cortar o cabelo devido a um grande ferimento na cabeça, por eu tê-lo matado com uma facada na testa.”

No ano seguinte, Varg foi julgado pela morte de Euronymous, as igrejas em que ateou fogo e por posse de explosivos. O músico recebeu a pena máxima na Noruega, que é de 21 anos, mas recebeu liberdade condicional em 2009.

“Lords of Chaos” também não deixou de abordar outro assassinato que aconteceu na realidade: em 21 de agosto de 1992, Faust assassinou um homem chamado Magne Andreassen, na cidade de Lillehammer. No dia seguinte, ainda ajudou Euronymous e Varg a colocarem fogo na igreja de Holmenkollen.

Faust também foi julgado em 1994 pelo crime e foi sentenciado a 14 anos de prisão, mas foi libertado em 2003.

Helvete

Outra coisa que “Lords of Chaos” acertou foi não ter se esquecido de abordar a loja de discos “Helvete” – que significa “inferno” em norueguês.

Foi justamente neste local, fundado por Euronymous, que a cena do black metal do país costumava se encontrar. Por exemplo, o músico conheceu o próprio Varg Vikernes na loja.

A Helvete também se tornou a sede da gravadora “Deathlike Silence Production”, que lançou os álbuns de vários grupos da cena, e serviu até mesmo de lar temporário para alguns músicos, como foi ocaso de Faust.

A opinião de Varg Vikernes sobre “Lords of Chaos”

Como você já leu, “Lords of Chaos” acertou em algumas coisas, mas inventou e alterou outras. Mas quem afirma que o filme todo é uma mentira é o próprio Varg Vikernes.

Também para seu canal deletado do YouTube, o músico não poupou em suas críticas para o filme e sobrou até para o ator Emory Cohen, seu intérprete em “Lords of Chaos”.

“Então, você assistiu a ‘Lords of Chaos’, filme que tem um ator judeu e gordo me interpretando. A propósito, sou escandinavo… o ator judeu e gordo diz coisas no filme que eu nunca falei. Recebeu coisas que eu nunca recebi. Fez coisas que eu nunca fiz. Fez coisas por razões que eu nunca tive. Conheceu pessoas que eu nunca ouvi falar. Se eles realmente pesquisaram sobre a história, eles devem ter ignorado tudo o que acharam e optaram por inventar uma história. Tudo nesse filme está errado.”

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Augusto Ikeda
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Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua no mercado desde 2013 e já realizou trabalhos como assessor de imprensa, redator, repórter web e analista de marketing. É fã de esportes, tecnologia, música e cultura pop, mas sempre aberto a adquirir qualquer tipo de conhecimento.

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