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Por que Meg White deixou o mundo da música para nunca mais voltar

Baterista conhecida por estilo rudimentar e comportamento lacônico praticamente sumiu do mapa após desenvolver ansiedade aguda

Os White Stripes foram talvez a última grande banda de rock. Daquelas capazes de fazer estádios cantarem suas músicas mesmo sem estarem lá. Em 2006, o riff de “Seven Nation Army” se tornou o canto de guerra oficial da torcida italiana durante a Copa do Mundo, se espalhando depois para o mundo inteiro.

O duo formado por Jack White e Meg White estava com o mundo na mão, graças a uma combinação de músicas excelentes, um senso estético apuradíssimo e uma dose de auto-mitologia que o rock não produz mais. E aí, num golpe do destino digno de uma banda tão interessada em criar uma aura de mistério, terminou.

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Jack continuou a carreira, seja com os Raconteurs, o Dead Weather ou em seus discos solo. Meg, porém, sumiu dos holofotes. Ela sempre havia sido a introvertida dos dois, adotando uma persona calada e reservada que contrastava com a ferocidade de seu estilo rudimentar na bateria e as expressões faciais durante shows.

Mesmo assim, por que Meg White foi embora?

Por trás dos mitos

Jack White nasceu Jack Gillis em Detroit, Michigan, nos Estados Unidos. Conheceu Meg White no restaurante onde ela trabalhava e ele podia ler suas poesias numa noite de apresentações ao vivo. Os dois namoraram e casaram em 1996. Ele, ao contrário das tradições, adotou o sobrenome dela.

Em 1997, Meg decidiu aprender um instrumento. Jack já era um músico na cena de Detroit, tocando guitarra e bateria para algumas bandas, mas quando ouviu sua esposa tocando o kit como ninguém tocou antes, ele contou à Rolling Stone que algo mexeu dentro dele:

“Quando ela começou a tocar bateria comigo, só de brincadeira, tinha uma sensação de libertação e rejuvenescimento. Tinha algo ali que me abriu.”

Assim, eles formaram os White Stripes, decidindo várias máximas estéticas para o grupo. Só poderiam usar vermelho, preto ou branco. O número 3 apareceria de várias formas em tudo deles. E os dois, então ainda casados, se apresentariam publicamente como sendo irmãos.

Mesmo após a verdade ser revelada publicamente, Jack apresentava Meg como sua irmã mais velha em todo show ou aparição pública dos dois. E era sempre a dupla. Nunca davam entrevistas ou apareciam separados.

Os White Stripes operavam musicalmente numa linha entre o sofisticado e o rudimentar. O erudito e o infantil. E nada representava mais essa dicotomia do que a diferença entre Jack e Meg como instrumentistas.

Enquanto Jack é reconhecido como um dos melhores guitarristas da história contemporânea do rock, capaz de criar riffs poderosos e solos marcantes, Meg era taxada com a notoriedade de ser a baterista que não sabia tocar bateria.

Pouco importa o fato do estilo dela ser deliberadamente daquele jeito, muito menos o aspecto de funcionar perfeitamente no contexto dos White Stripes. Para uma parcela gigantesca de bateristas mundo afora, que suaram para adquirir maestria sobre o instrumento, ela era uma afronta.

Falando à Rolling Stone em 2005, Jack defendeu Meg, falando:

“Eu nunca pensei: ‘Deus, eu gostaria que Neil Peart estivesse nessa banda’. É meio engraçado. Quando pessoas criticam hip hop, elas têm medo de mandar ver por medo de serem chamados de racistas. Mas elas não têm problema nenhum em fazer isso com mulheres músicas, por puro machismo.”

Na mesma entrevista, o vocalista e guitarrista também elogiou a capacidade da baterista de ignorar os holofotes:

“Meg sempre fala: ‘Quanto mais você fala, menos pessoas escutam’. Ela está certa. Ela não abre muito a boca. Meg também me lembra de Rita Hayworth. Rita Hayworth nunca olhou nenhuma foto tirada dela. Ela não ligava como ela se parecia ou o que pessoas pensavam. Isso é impressionante – ser tão forte. Meg é do mesmo jeito. Ela não liga para as fotos ou qualquer uma dessas coisas”

Meg White e a ansiedade

Durante o verão de 2007 no Hemisfério Norte, os White Stripes embarcaram numa turnê inusitada pelo Canadá, se apresentando em arenas e também em locais como pistas de boliche, um moinho e um centro recreativo de idosos. Ao final desses shows, a banda embarcou numa turnê americana curta, de apenas uma semana. Eles dariam uma pausa rápida e continuariam pelo país no outono.

Contudo, no dia 11 de setembro, a banda anunciou o cancelamento de 18 datas nos Estados Unidos devido à ansiedade aguda de Meg. Alguns dias depois, eles cancelaram o resto da turnê, que incluía shows no Reino Unido.

Entre esses dois anúncios houve um pequeno escândalo envolvendo o que seriam imagens de Meg fazendo sexo. O vídeo foi compartilhado por blogs de música, mesmo com a mulher claramente não sendo a baterista, levando uma colunista da MTV a condenar especulações de ter sido a causa do cancelamento da turnê:

“Pessoas foram rápidas em especular que a fita de sexo teria sido a causa da ansiedade, mas era abundantemente claro para qualquer fã que viu de fato o vídeo não se tratar de Meg – então como poderia ter sido?”

Numa entrevista para a New York Times Magazine, Ben Blackwell, sobrinho de Jack e arquivista do White Stripes, revelou que Meg mencionou para ele antes do último show da turnê americana sua vontade de parar:

“Eu mencionei isso para o Jack anos depois, e ele não sabia, mas Meg chegou para mim e falou: ‘Esse é o último show dos White Stripes’. Eu disse, ‘Você quer dizer da turnê’. E ela respondeu: ‘Não. Acho que esse é o último show, ponto’.”

O grupo se reuniu apenas uma vez publicamente, tocando a canção “We’re Going To Be Friends” no episódio final do talk show “Late Night with Conan O’Brien”. O duo tinha uma relação de longa data com o apresentador, que inclui uma residência de quatro noites no programa e O’Brien aparecendo no clipe de “The Denial Twist”.

Numa entrevista para o Music Radar na época dessa minirreunião, Jack falou sobre a possibilidade de músicas novas do grupo e explicou o que poderia ter acontecido com Meg na turnê em 2007:

“Eu tinha vindo de uma turnê com os Raconteurs e entrei direto, então eu já tava à toda. Meg tinha vindo de uma parada completa por um ano e deu de cara com aquela loucura. Meg é uma garota muito tímida, uma pessoa muito quieta e tímida. Ir pra velocidade máxima de uma parada completa é demais, e a gente precisou dar uma parada.”

Apatia e distanciamento

Em fevereiro de 2011, os White Stripes anunciaram oficialmente o fim da banda. Dois anos antes, Meg White havia se casado com Jackson Smith, filho das lendas do rock Patti Smith e Fred “Sonic” Smith, guitarrista do MC5.

Numa entrevista para a Rolling Stone (resgatada pelo Popload) em 2015 para promover sua estreia solo, “Lazaretto”, Jack White se abriu sobre as frustrações com Meg e sua inabilidade de demonstrar emoção durante a vida da banda:

“Ela é uma daquelas pessoas que não me cumprimentava quando fazia algo bom. Ela olhava para mim como quem dissesse: ‘Oh, grande coisa. E daí?’ Em quase todos os momentos do White Stripes ela fazia isso. Podíamos estar em estúdio e rolar alguma coisa fantástica, eu pensava: ‘Uau, acabamos de entrar em um novo mundo neste momento!’ Enquanto isso, ela continuava sentada lá, em silêncio”.

Mesmo assim, Jack se diz na mesma entrevista triste de que ela nunca percebeu a própria importância, além de revelar a perda de contato entre os dois.

“Ela nunca percebeu o quão importante era para a banda, para mim e para a música. Acho que ninguém fala com a Meg. Ela sempre foi uma eremita. Quando vivia em Detroit, tinha sempre de ir até a casa dela se quisesse conversar sobre alguma coisa. Isso indica que agora praticamente não nos falamos mais”.

Pouco se sabe de Meg White desde então. Pouco se sabe dela em geral, afinal, a baterista sempre foi um mistério. Jack a descreveu como alguém alheia a todos os comentários, mas a ansiedade responsável por a afastar da música pinta um retrato possivelmente diferente.

Possivelmente. Nunca saberemos a verdade, porque ela não tem interesse em falar. Só quer ser deixada em paz.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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