Na lista dos dez filmes da minha vida, “Avatar” (2009) encontra-se em alguma posição. Apesar de sua história simples, a experiência vivida na sala de cinema é inesquecível.
Agora, treze anos depois, eu volto a enxergar a mudança na história da sétima arte acontecer – e nas mãos do mesmo gênio, o diretor James Cameron. Porém, apenas na parte técnica, pois, infelizmente, a história de “Avatar: O Caminho da Água” é praticamente uma versão aquática do que vimos em 2009 com direito a uma série de clichês. Ainda assim, a obra consegue se sustentar devido a questão poética a qual seu diretor aborda.
Espetáculo sem limites
Jake Sully (Sam Worthington), agora em definitivo na forma de um Na’vi, e a nativa Ney’tiri (Zoë Saldaña) conseguem manter a paz em seu povo e formam uma grande família – grande mesmo, com quatro filhos. Porém, após anos de calmaria, o povo do céu volta a pousar em Pandora, trazendo consigo um antigo inimigo, agora na pele de um Avatar.
Sem saída, Jake decide fugir com sua família e se refugiar em um longínquo reino aquático de Pandora. Assim, para sobreviverem, eles precisam aprender a cultura local e ser aceitos.
James Cameron demorou 13 anos para fazer a continuação de “Avatar” alegando a falta de tecnologia necessária para que ele contasse tal história. Em tela, fica nítido que o diretor estava certo. Afinal de contas, nem nos seus maiores sonhos ele seria capaz de contar essa história há alguns anos – lembrando que “Avatar 2” começou a ser filmado em 2017.
As ferramentas aqui utilizadas são absurdas. Cameron consegue dar um notório upgrade em relação ao seu primeiro filme. As cores são mais vivas, o florescente usado é uma das coisas mais belas já vistas e o 3D é elegante, pois ajuda a contar a história e a apresentar a ambientação do filme em vez de ser apenas algo atirado em cima do público.
A captura de movimentos nunca foi tão impecável e sem falhas. É um nível de realismo tão absurdo que você é capaz de ver inclusive detalhes da pele pessoal dos atores em questão. Todas as cenas de guerra, luta ou cenas envolvendo maquinários são perfeitas. Chega a ser enlouquecedor não saber o que é de verdade e o que é CGI.
Mas são as cenas aquáticas que serão responsáveis pelo salto de mudança na indústria cinematográfica daqui pra frente. Não há palavras para descrever o espetáculo embaixo d’água proporcionado.
Tudo é vivo nessas águas, tudo molha de verdade: as ondas, os respingos, as bolhas de respiração, a forma como o corpo dos atores reage ao toque com a água… é tudo real. Às vezes você até se pega respirando junto com os personagens tamanho o nível de realismo de tais cenas. É impressionante, e histórico, o que foi feito embaixo d’água.
O único pecado de James Cameron se deu nos quadros utilizados para o filme. Por falta de uma melhor tecnologia, o diretor optou por uma mescla de 48 quadros para 24 quadros por segundo, o que é incômodo. Em determinadas cenas, estamos imersos no filme feito por 48 quadros; de repente, muda para 24. A diferença é notória e chega a causar até certa ânsia. Contudo, por ser um filme de mais de 3 horas, acaba por acostumar.
História requentada
A premissa de “Avatar: O Caminho das Águas” é a mesma do longa de 2009. O roteiro é fraco, simplório e repleto de clichês típicos de novelas. Situações repetidas com exaustão, atitudes tomadas sem sentido algum, decisões genéricas, um arco do antagonista que beira a galhofa – nada é concluído e tudo parece girar na mesma nota, até por haver dois filmes confirmados para os próximos anos.
Ainda assim, funciona de forma impecável, em função da ideia de que “Avatar” é muito mais do que uma história, mas praticamente uma ode à natureza. A questão técnica e poética do longa envolvendo a natureza é tão forte que você passaria quatro, cinco horas assistindo ao espetáculo.
É maravilhoso, gostoso, reconfortante, emocionante e muito grandioso. Só não dá para saber se apenas isso vai bastar para os próximos filmes.
O limite para Avatar
James Cameron novamente fez história e obrigou o cinema a dar um salto. Além do espetáculo em si, “Avatar: O Caminho da Água” oferece personagens carismáticos e importantes à obra, ainda que dentro de um roteiro mal escrito e sem novidades, com direito até mesmo a falas que já foram ouvidas a exaustão em 2009.
Por outro lado, a construção deste universo é rica e Cameron o faz da forma que sua mente ordena, afinal, além de roteirista e diretor, ele é o montador do filme. É preciso confiar no trabalho do cineasta e acreditar que, no fim, quando tudo for estabelecido da forma como ele deseja, o final será épico em termos de história.
“Avatar: O Caminho da Água” já está em exibição em todos os cinemas e merece ser visto na melhor sala 3D IMAX que você encontrar. É um espetáculo único, daqueles que não se vive todo dia.
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