As músicas do AC/DC em que Malcolm Young toca a guitarra solo

Faceta pouco conhecida do músico falecido em 2017 era latente nos primórdios da banda

“Se Malcolm Young resolve tocar um solo, manda melhor do que eu”, disse Angus Young certa vez sobre o irmão mais velho e guitarrista base do AC/DC.

Embora tenha entrado para a história do rock como um dos maiores criadores de riffs que já viveram, Malcolm Young possuía inúmeros predicados que o tornavam um músico completo; e, sim, também um grande solista.

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Quem foi Malcolm Young?

Malcolm Mitchell Young nasceu em 6 de janeiro de 1953, em Glasgow, na Escócia. Prestes a completar 10 anos, emigrou com os pais, William e Margaret, e os irmãos George (mais velho) e Angus (mais novo) para Sydney, na Austrália.

Desde pequeno, já demonstrava bom gosto para música. Por influência de George — cuja banda The Easybeats obteve sucesso internacional na segunda metade dos anos 1960 —, começou a ouvir guitarristas como Eric Clapton (John Mayall and the Bluesbreakers, Cream), Peter Green (Fleetwood Mac) e Mike Bloomfield (Paul Butterfield Blues Band). Em seguida, descobriu a velha guarda: Chuck Berry, Fats Domino e Little Richard. Finalmente, começou a fazer as próprias descobertas, como contou a Murray Engleheart, em entrevista reproduzida em “AC/DC: A biografia”, de Mick Wall (Globo Livros, 2014):

“A primeira vez que ouvi ‘My Generation’, do The Who, foi algo especial. Os Beatles e os Stones eram os grandes, e de repente aparece essa coisa mais pesada. Isso mudou tudo para mim. Mais tarde, gostei de ‘Jumpin’ Jack Flash’ e de outras duas, ‘Honky Tonk Women’ e ‘Get Back’, dos Beatles. É puro rock ‘n’ roll se desenvolvendo.”

Em 1973, fundou o AC/DC com Angus e nele permaneceu até 2014, quando problemas de saúde o obrigaram a se afastar do grupo. Morreu em 18 de novembro de 2017 depois de anos de internações decorrentes da doença de Alzheimer e da demência.

Foto: Gretsch.com

Genial e inequívoco

Em bandas anteriores ao AC/DC, Malcolm Young fez nome como guitarrista dos mais versáteis. Seu repertório incluía músicas do Cream, do Jimi Hendrix Experience e até mesmo do Black Sabbath, e chamava a atenção sua fidelidade na reprodução dos solos originalmente gravados por Eric Clapton, Jimi Hendrix e Tony Iommi.

A Mick Wall, o outrora empresário do AC/DC, Ian Jeffery, comentou o assunto:

“Malcolm era um ótimo guitarrista solo, talvez até melhor do que Angus naquele momento. Nos primeiros dias, quando comecei a trabalhar para eles, às vezes dava para vê-lo fazer um solo brilhante ou detonar. Mas ele era ainda melhor como guitarrista base, provavelmente um dos melhores de todos os tempos, e sua genialidade foi perceber isso — e que Angus era melhor na frente.”

Na mesma obra literária, Gordon “Buzz” Bidstrup, do The Angels, engrossa o coro:

“George sempre dizia, na época, que Malcolm era muito melhor guitarrista do que Angus. Malcolm era um guitarrista base muito bom, mas também tocava jazz e blues. Ele tinha mais repertório de técnica de guitarra do que Angus. E não errava.”

Tal qualidade de solista não passou batida no AC/DC. Antes de estabelecidos que Angus seria o guitarrista solo e as dinâmicas de palco que o manteriam sempre em evidência, Malcolm chegou a gravar alguns solos e até mesmo a “duelar” com o caçula em algumas ocasiões.

No meio do caminho entre especulação e certeza, fontes diversas afirmam que Malcolm é o responsável pela guitarra solo, total ou parcial, em sete faixas do AC/DC; curiosamente, todas dos anos 1970 e boa parte delas da fase mais incipiente da banda. Veja abaixo.

As músicas do AC/DC em que Malcolm Young toca a guitarra solo

“Baby, Please Don’t Go”

Da edição australiana do álbum “High Voltage” (1975), relançada internacionalmente em “’74 Jailbreak” (1984)

Segundo o historiador francês Gérard Herzhaft, trata-se de “uma das músicas mais tocadas, rearranjadas e relidas da história do blues”.

Foi a escolhida para ser tocada pela banda em célebre aparição no programa Countdown da TV australiana. No vídeo, Angus aparece vestindo seu tradicional uniforme de estudante e Bon Scott mais parece uma versão endiabrada da personagem infantil Píppi Meialonga.

“Little Lover”

Da edição australiana de “High Voltage” (1975), relançada na edição internacional do álbum no ano seguinte.

“Soul Stripper”

Da edição australiana do álbum “High Voltage” (1975), relançada internacionalmente em “’74 Jailbreak” (1984)

Ouça com atenção, em especial a introdução, e note Malcolm e Angus trocando licks enquanto Rob Bailey (baixo) e Tony Currenti (bateria) mantêm o ritmo quase que num piloto automático.

“You Ain’t Got a Hold on Me”

Da edição australiana do álbum “High Voltage” (1975), relançada internacionalmente em “’74 Jailbreak” (1984)

Talvez o melhor exemplo de Malcolm enquanto solista. Nesta aqui, Angus fica só na guitarra base.

“Show Business”

Da edição australiana do álbum “High Voltage” (1975), relançada internacionalmente em “’74 Jailbreak” (1984)

Uma das raras capturas em vídeo de Malcolm solando ao vivo é justamente dessa faixa, que encerra a edição australiana do álbum “High Voltage”. Nele, os Young “duelam” num desfile de improvisações.

“Can I Sit Next to You Girl”

Do álbum “T.N.T.” (1976), exclusivo da Austrália, relançada na edição internacional do álbum “High Voltage” no mesmo ano.

A versão original de 1974, com Dave Evans nos vocais, foi o primeiro single lançado pelo AC/DC e chegou a uma impressionante 19ª posição nas paradas australianas. Juntamente com o lado B “Rockin’ in the Parlour”, consiste no único registro com o vocalista, que foi demitido por ser “glam demais”.

“Gone Shootin’”

Do álbum “Powerage” (1978)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

1 COMENTÁRIO

  1. Meus parabéns pela matéria publicada,bem detalhada e redigida,é ótimo ver essa grande homenagem ao Malcolm um grande guitarrista da história da música,um dos alicerces do rock,muito obrigado pela publicação

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