Roger Waters publicou carta aberta direcionada a Olena Zelenska, primeira-dama da Ucrânia. O longo texto se baseou em recente entrevista da esposa de Volodymyr Zelensky à BBC. O líder do Pink Floyd em sua fase mais popular discordou de alguns pontos e pediu explicações.
Segue a publicação em sua íntegra:
“Prezada Senhora Zelenska,
Meu coração sangra por você e todas as famílias ucranianas e russas devastadas pela terrível guerra na Ucrânia. Estou em Kansas City, EUA. Eu li um artigo na BBC.com aparentemente tirado de uma entrevista que você já gravou para um programa chamado Sunday with Laura Kuenssburg que foi transmitido na BBC em 4 de setembro.
BBC.com cita você dizendo que se o apoio à Ucrânia for forte, a crise será mais curta. Hmmm? Acho que isso pode depender do que você quer dizer com ‘apoio à Ucrânia?’ Se por ‘apoio à Ucrânia’, você quer dizer que o Ocidente continue fornecendo armas aos exércitos do governo de Kiev, temo que você possa estar tragicamente enganada. Jogar combustível, na forma de armamentos, em um tiroteio nunca funcionou para encurtar uma guerra no passado e não funcionará agora, principalmente porque, neste caso, a maior parte do combustível está (a) sendo jogado no fogo por Washington DC, que está a uma distância relativamente segura da conflagração, e (b) porque os ‘abastecedores’ já declararam interesse na guerra pelo maior tempo possível.
Pessoas como você e eu realmente querem paz na Ucrânia, não querem que o resultado seja que você tenha que lutar até a última vida ucraniana – e possivelmente até, se o pior acontecer, até a última vida humana.
Se, em vez disso, desejamos alcançar um resultado diferente, podemos ter que buscar um caminho diferente e esse caminho pode estar nas boas intenções anteriormente declaradas de seu marido.
Sim, refiro-me à plataforma sobre a qual ele tão louvavelmente concorreu ao cargo de Presidente da Ucrânia, a plataforma sobre a qual conquistou sua vitória histórica e esmagadora nas eleições democráticas de 2019.
Ele ficou nas seguintes promessas:
Acabar com a guerra civil no Leste e trazer paz ao Donbas e autonomia parcial a Donetsk e Luhansk.
E ratificar e implementar o restante do corpo dos acordos de Minsk 2.
Pode-se apenas supor que as políticas eleitorais de seu marido não se encaixaram bem com certas facções políticas em Kiev e que essas facções o persuadiram a mudar diametralmente o curso, ignorando o mandato do povo. Infelizmente, ele concordou com essas remoções totalitárias e antidemocráticas da vontade do povo ucraniano, e as forças do nacionalismo extremo que espreitavam, malévolas, nas sombras, desde então governaram a Ucrânia. Desde então, eles também cruzaram várias linhas vermelhas que foram claramente estabelecidas ao longo de vários anos pelos seus vizinhos, a Federação Russa, e, consequentemente, eles, os nacionalistas extremistas, colocaram o seu país no caminho para esta desastrosa guerra.
Não vou me estender.
Se eu estiver errado, por favor me ajude a entender como?
Se eu não estiver errado, por favor, ajude-me em meus esforços honestos para persuadir nossos líderes a parar com a carnificina, que serve apenas aos interesses das classes dominantes e dos nacionalistas extremistas, tanto aqui no Ocidente quanto em seu belo país, à custa do resto de nós, pessoas comuns, tanto aqui no Ocidente quanto na Ucrânia, e, de fato, pessoas comuns em todo o mundo.
Não seria melhor exigir a implementação das promessas eleitorais de seu marido e pôr fim a esta guerra mortal?
Com amor,
Roger Waters”
Anteriormente, Roger já havia se manifestado contra os conflitos e cobrado de autoridades uma solução que amenize o sofrimento do povo. Entre suas críticas, chamou o presidente russo Vladimir Putin de “gângster capitalista neoliberal”.
Roger Waters e as críticas aos EUA
Durante os recentes shows pelos Estados Unidos, na turnê “This is Not a Drill”, Roger Waters incluiu o nome do atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em uma lista de criminosos de guerra. Em entrevista à CNN, explicou seu ponto de vista.
“Bem, ele está alimentando as chamas na Ucrânia, pra começar. Isso é um crime enorme. Por que os Estados Unidos da América não encorajam Zelensky a negociar, removendo a necessidade dessa guerra horrenda?”
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