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Por que o Kiss decidiu abandonar a maquiagem em “Lick It Up”

Baixa popularidade e mudanças de formação fizeram a banda tomar decisão que era impensável até poucos anos antes

Nos primeiros anos da década de 80, o Kiss esteve próximo de encerrar as atividades. E toda essa história nos leva ao abandono das maquiagens no álbum “Lick It Up” (1983).

Ainda em 1980, a banda perdeu seu baterista original, Peter Criss. A popularidade já não era a mesma dos anos 1970, com shows cada vez menores. A inconstante trinca de discos composta pelo pop “Unmasked” (1980), o excêntrico “Music From ‘The Elder’” (1981) e o pesado “Creatures of the Night” (1982) – o último já sem o guitarrista Ace Frehley – mostra que o grupo estava realmente perdida sobre qual direção seguir.

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O único caminho possível acabou sendo aquele que era mais impensável. Para o lançamento de “Lick It Up”, em 1983, o Kiss retirou as famosas máscaras e apareceu na mídia pela primeira vez de cara limpa, para o espanto de quem acompanhava o trabalho desde o começo.

A revelação foi feita no dia do lançamento do álbum, em um programa especial na MTV americana, com Paul Stanley (voz e guitarra), Gene Simmons (voz e baixo), Vinnie Vincent (guitarra) e Eric Carr (bateria) em seus visuais “naturais”.

A última cartada do Kiss

Os “chefes” Simmons e Stanley discordavam totalmente entre si a respeito da retirada das máscaras. O guitarrista e vocalista era a favor, tendo motivos pessoais para isso. Stanley se incomodava com o tipo de fama que o Kiss conquistou, onde todos os reconheciam por suas maquiagens, mas ninguém sabia com certeza quem eles eram.

Além disso, conforme o próprio deixou claro em sua biografia “Uma vida sem máscaras”, a troca de integrantes e suas respectivas makes deixaram o Kiss desfigurado.

“Insisti novamente para que Gene concordasse em fazer a coisa mais radical que podíamos: acabar com a maquiagem. Algumas pessoas viram isso como uma escolha cora-josa; eu via como nossa única escolha. Nosso público nos EUA não havia minguado por acaso, mas porque o que fazíamos já não parecia verdadeiro. As pessoas estavam cansadas daquilo que o Kiss havia se tornado. Com os novos personagens, estávamos a um passo de nos tornarmos as Tartarugas Ninjas. Poxa, o que diabos era aquela cruz egípcia do Vinnie? Em vez de mantermos vivas as imagens e as personalidades originais, nos tornáramos um grupo de animais ridículos. O que viria a seguir? O garoto tartaruga?”

Já o baixista era contra a retirada do visual que consagrou o grupo, até mesmo por ele ser parte importante desse aspecto. Nos shows, Simmons era destaque com sua persona “The Demon” ao cuspir fogo ou sangue, por exemplo. Sem isso, ele perderia muito em performance – o que de fato acabou acontecendo.

Porém, o grande problema do baixista naquele período era sua falta de interesse com o trabalho. Ele próprio admite no livro “Kiss Por Trás da Máscara”:

“Naquela época da minha vida, eu tinha mudado da Cher para a Diana Ross, então eu mergulhei na boemia. Foi o que aconteceu. Todos os dias da semana, eu ia para festas e encontrava pessoas que não tinham a mínima preocupação com o rock. Assim, tudo me incomodava, o pessoal da revista People e as capas dos tabloides, o que acaba afetando a sua sensibilidade.”

E deu certo?

Em alguns aspectos, deu certo para o Kiss. Como esperado, Paul Stanley se soltou ainda mais, tanto nos discos quanto nos palcos, e assumiu a direção criativa da banda de certa forma. Gene Simmons, por sua vez, começou a nova fase totalmente deslocado, muito também por conta da tentativa paralela de engrenar uma carreira como ator em Hollywood. Ele só mostraria mais sinais de adaptação nos últimos anos antes do retorno das maquiagens, que se deu em 1996.

Musicalmente, “Lick It Up”, o primeiro álbum sem maquiagens, não era tão diferente de “Creatures of the Night”, o último com as pinturas no rosto. A partir daquele momento, porém, a banda mergulhou de vez na sonoridade do hard rock oitentista, presente na sequência de álbuns “Animalize” (1984), “Asylum” (1985), “Crazy Nights” (1987) e, de forma mais discreta, “Hot in the Shade” (1989).

https://www.youtube.com/watch?v=v_bHmlA16AI

Durante o início da fase sem máscaras, o Kiss também sofreu com a rotatividade na guitarra solo. Vinnie Vincent foi demitido logo após a turnê de “Lick It Up” e substituído por Mark St. John, que gravou parte do álbum seguinte e fez pouquíssimos shows, já que questões de saúde o impediriam de tocar. A estabilidade só viria a partir da entrada de Bruce Kulick, que seguiu até o fim daquela era.

Musicalmente, também demorou um pouco até que o grupo se reencontrasse em uma sonoridade própria. De pegada mais sóbria, “Hot in the Shade” está mais próximo do resultado almejado durante toda a década de 1980. As coisas só voltariam aos trilhos em “Revenge” (1992), já sem o baterista Eric Carr, falecido no ano anterior.

Sem maquiagem, nunca mais

De qualquer forma, o Kiss sem maquiagem nunca foi tão popular do que com maquiagem. O retorno da formação original, com toda a produção visual, em 1996, só provou isso.

Desde então, mesmo com mudanças de formação, o grupo nunca mais mudou as consagradas pinturas de Starchild, Demon, Spaceman e Catman. Apresentações sem os personagens só se deram em raras ocasiões, em eventos especiais no cruzeiro anual Kiss Kruise.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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