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Quando Michael Jackson comprou o catálogo dos Beatles – e irritou Paul McCartney

Artistas eram amigos e lançavam músicas juntos até que rei do pop passou a ser dono da obra do Fab Four, passando na frente de Macca

Michael Jackson, um dos artistas mais bem-sucedidos da história da música pop, decidiu no auge da fama que ser dono do seu próprio catálogo não era suficiente. Ele queria investir na aquisição de direitos autorais de outros artistas.

A ideia não surgiu do nada. Jackson recebeu uma aula sobre o assunto de um bom amigo seu: Paul McCartney, que, após perder os direitos ao catálogo dos Beatles, resolveu investir nas músicas de artistas dos quais era fã quando jovem, como Buddy Holly.

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Seguindo esse conselho, o rei do pop mirou no catálogo mais precioso de todos: justamente o dos Beatles. Isso lhe custou quase US$ 50 milhões e a amizade com Paul, mas acabou virando talvez seu bem mais precioso.

Northern Songs

Antes precisamos falar sobre como os Beatles não eram donos do próprio material. Originalmente, os direitos autorais relacionados ao grupo pertenciam a uma companhia chamada Northern Songs, cujo quadro de sócios consistia em Paul McCartney, John Lennon, o empresário do grupo, Brian Epstein, e o editor musical Dick James.

Quando Epstein morreu em 1967, John e Paul tentaram renegociar os termos da sociedade com James, que recusou a oferta dos Beatles e vendeu o catálogo em 1969 para a ATV, uma editora musical pertencente à Associated Communications Corporation (ACC), do magnata inglês Lew Grade.

McCartney conheceu Michael Jackson ao compor a música “Girlfriend” e oferecê-la ao cantor. Os dois se deram bem e a faixa apareceu tanto no disco do Wings chamado “London Town” (1978) quanto na estreia da chamada “fase adulta” de Michael, “Off the Wall” (1979).

A dupla reeditou a parceria em anos seguintes, rendendo as músicas “The Girl is Mine” – lançada por Michael em “Thriller” (1982) –, “Say, Say, Say” e “The Man” – ambas disponibilizadas no álbum “Pipes of Peace” (1983), de Paul.

Nesse período, o ex-Beatle teria contado para Jackson sobre as possibilidades de investimento presentes em aquisição de catálogo, e Michael se interessou. Em sua autobiografia, “Moonwalk”, o cantor escreveu:

“Paul e eu aprendemos sobre negócios na marra, assim como a importância de editoria e royalties e a dignidade de composição.”

Michael Jackson amigo da onça?

Em 1982, a ACC foi adquirida pelo investidor australiano Robert Holmes à Court, famoso por comprar empresas em baixa e liquidar seus bens mais valiosos. Nesse caso, um dos itens colocados à venda era o controle do catálogo dos Beatles.

Vendo uma oportunidade, Michael Jackson acionou o advogado John Branca para adquirir o catálogo a qualquer preço. Após verificar se Paul e Yoko Ono, viúva de John Lennon, participariam do processo de venda, a equipe de Jackson fez uma oferta de US$ 46 milhões no final de 1984.

Contudo, Holmes à Court torceu o nariz. Ele sabia que Jackson era amigo de McCartney e o então jovem astro poderia estar servindo de fachada para o Beatle burlar um acordo verbal, como uma reportagem do Los Angeles Times contou:

“Parece que a equipe do Paul uma vez disse a um dos oficiais da ATV que seu cliente estava interessado em adquirir os direitos, mas não estavam interessados em negociações longas. Eles disseram, basicamente: ‘vocês achem a melhor oferta e nós pagaremos 10% a mais’. Então, quando Michael apareceu, eles sabem que ele é amigo do Paul e eles suspeitam que a oferta é um jeito pro Paul evitar pagar os 10% adicionais. Demorou muito tempo para convencê-los que Michael estava agindo por conta própria.”

Em agosto de 1985, o acordo foi finalmente fechado, após muitas idas e vindas. O preço final foi de US$ 47,5 milhões – e uma amizade. Ao descobrir que Michael lhe passou a perna e comprou os direitos ao catálogo dos Beatles, Paul cortou relações com o então amigo, como o Beatle revelou numa entrevista à ABC News em 2001:

“Ele não responde às minhas cartas, então não nos falamos e não temos uma relação tão boa. O problema é que escrevi essas canções por nada e comprá-las de volta a esse preço, eu simplesmente não consigo.”

A esse ponto, Michael já havia concordado em fundir seu catálogo ao da Sony, em 1995, lhe gerando US$ 95 milhões. Ao longo dos anos, o cantor utilizou o catálogo como uma de suas principais fontes de gerar dinheiro. Ele chegou a pegar quase 200 milhões de dólares emprestados da Sony, usando o catálogo como garantia.

Boatos e carinho permanente

Quando Michael Jackson morreu, em 2009, correram boatos que ele havia deixado o catálogo dos Beatles para Paul McCartney em seu testamento – algo desmentido pelo próprio Beatle:

“Há algum tempo, a mídia inventou a ideia que Michael Jackson deixaria sua participação nas músicas dos Beatles para mim em seu testamento. Invenção total.”

Fato é que, em 2017, Paul fez um acordo com a Sony para recuperar os direitos, valendo a partir do ano seguinte. Não foram revelados detalhes a respeito.

Apesar da mágoa relacionada a essa história, McCartney falou bem de Jackson após sua morte, se dizendo privilegiado de o ter conhecido e trabalhado com ele.

“É tão triste e chocante. Eu me sinto privilegiado de ter estado e trabalhado com Michael. Ele era um garoto muito talentoso de alma gentil. Sua música será lembrada para sempre e minhas lembranças de nossos momentos juntos serão as lembranças felizes.”

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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