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Com setlist caprichado, Metallica faz show de muita entrega em São Paulo

Apresentação no estádio do Morumbi com abertura de Greta Van Fleet e Ego Kill Talent mostrou o quanto a veterana banda de metal estava com saudade dos palcos sul-americanos

Show do Metallica não é para amadores. Especialmente se você vai em alguma das pistas. O nível de entrega física transcende o headbanging: envolve mosh pits e outras interações que só se vê no âmbito da música pesada, do metal ao punk.

Quando se trata de um show adiado em dois anos em função de uma maldita pandemia, a entrega do público (e dos músicos) é ainda maior. Foi o que se viu na gelada noite de terça-feira, 10 de maio de 2022, no estádio do Morumbi. Metallica, com abertura do Greta Van Fleet e Ego Kill Talent, puderam matar a saudade do público brasileiro – o qual deveriam ter visto ainda em abril de 2020.

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Boa noite, Greta Van Fleet

Infelizmente, não pude ver o Ego Kill Talent, banda que merece toda a admiração. Para um dia de semana, o show começou cedo: por volta das 18h30, em um curto set de 30 minutos. Como não deu para conferir a apresentação, fica a recomendação: ouça o novo álbum dos caras, “The Dance Between Extremes”. Representa um grande salto de qualidade, em termos de composição, se comparado ao disco anterior, o debut homônimo.

Cheguei a tempo para o Greta Van Fleet e pude testemunhar que hater, mesmo, só existe na internet. O quarteto liderado pelos irmãos Kiszka – Josh (voz), Jake (guitarra) e Sam (baixo) – foi abraçado pelo público do início ao fim, contrariando expectativas de que os fãs de heavy metal não iriam curtir o hard rock zeppeliano dos caras.

A recepção da plateia veio mesmo com um show que, embora competente, não faz o perfil que se espera de uma abertura do Metallica. A apresentação do Greta é feita para viajar no som, especialmente através das jams que surgem em quase todas as músicas. Também não há todo o aparato tecnológico que a atração principal dispõe: os jovens músicos tocaram apenas com a imagem da capa de seu novo álbum, “The Battle at Garden’s Gate”, no telão principal e filmagens ao vivo deles próprios com tratamento preto e branco nas telas laterais.

Apesar dos poucos diálogos com os presentes, Josh Kiszka conquistou quem estava por ali logo em suas primeiras palavras: “boa noite, São Paulo”, em português bem ensaiado. E quem queria ser vencido pelo som acabou se rendendo à sua espetacular performance vocal, com recorrentes e duradouros berros em meio às canções.

Por sua vez, o trio instrumental – Jake, Sam e o baterista Danny Wagner – mostrou entrosamento tanto nas jams quanto nos momentos mais tradicionais. Jake, em especial, se destaca com diversos solos, enquanto Danny é uma verdadeira máquina de groove e Sam preenche o som de forma dinâmica, mas discreta.

Só senti que, mesmo com o pouco tempo de show (pouco mais de 50 minutos, das 19h30 às 20h23), dava para escolher algumas músicas que se encaixassem um pouco mais com a proposta do evento. A opção por faixas mais arrastadas do novo álbum como “Built by Nations”, “Caravel” e “The Weight of Dreams” não se provou tão eficaz, tanto que elas só empolgaram nas já mencionadas passagens de improviso.

As já clássicas “Black Smoke Rising”, “Lover, Leaver (Taker, Believer)” (com uma das jams mais longas do set), “My Way, Soon” (“sem esta música, não estaríamos aqui hoje”, disse Josh antes de tocá-la) e especialmente “Highway Tune” foram os pontos altos de uma boa performance, encerrada com flores atiradas ao público.

O setlist foi:

  1. Built by Nations
  2. Black Smoke Rising
  3. Caravel
  4. Lover, Leaver (Taker, Believer)
  5. My Way, Soon
  6. The Weight of Dreams
  7. Highway Tune

Hora dos protagonistas

O aquecimento foi muito bom – esse formato com bandas de grande porte também na abertura, adotado aqui pela produtora Live Nation, deveria pegar no Brasil –, mas todos estavam ali para ver James Hetfield (voz e guitarra), Lars Ulrich (bateria), Kirk Hammett (guitarra) e Robert Trujillo (baixo). E a espera de quase uma hora até a última canção do Greta Van Fleet, com direito a atraso “calculado” de 15 minutos, valeu a pena.

Após as caixas de som tocarem “It’s a Long Way to the Top (If You Wanna Rock ‘n’ Roll)”, clássico do AC/DC, uma vinheta dá início aos trabalhos. Na atual turnê, o Metallica não se limita a reproduzir “The Ecstasy of Gold”: eles também exibem no telão uma cena de “Três Homens em Conflito” (“The Good, the Bad and the Ugly”), filme que utiliza a composição de Ennio Morricone em sua trilha sonora. Mais especificamente, trata-se da cena em que Tuco, o “Feio”, corre pelo cemitério de Sad Hill. Talvez uma das melhores aberturas de show que já testemunhei.

Aos poucos, a passagem cinematográfica dá lugar para uma arte que ocupa o conjunto de cinco telões verticalmente retangulares do possante palco. Traços vermelhos ocupam a tela como se a “bateria” (o dispositivo, não o instrumento) estivesse carregando. Curiosamente, é Lars Ulrich quem sobe ao palco primeiro, seguido de Robert Trujillo, Kirk Hammett e James Hetfield. Tem início um show de excelente repertório e, como já dito, muita entrega.

Mal deu para ver o palco durante “Whiplash”, música que abre o set. Como eu estava no olho do furacão, um mosh pit gigantesco se abriu em meu entorno. A mais sincera forma de celebrar a música pesada. Uma sensação de pertencimento me preencheu – e certamente contemplou vários dos colegas que ali estavam. Mesmo tendo ido a um show também incrível do Kiss pouco mais de uma semana antes, foi ali que deu para sentir que estamos perto de vencer essa maldita pandemia que nos impediu de ter shows presenciais por tanto tempo.

Se a abertura com “Whiplash” parecia enérgica o suficiente, o restante daquela parte inicial de apresentação ainda iria surpreender muita gente. Logo teríamos “Ride the Lightning”, tocada emendada na sequência novamente com a facada nos dentes, e “Fuel”, aceleradíssima, gastando horrores em pirotecnia e antecedida por um comentário breve de James Hetfield sobre o bebê nascido durante performance da banda no estádio Couto Pereira, em Curitiba, três dias antes. Êxtase coletivo.

Com uma sequência matadora dessas, mal deu tempo para conversar com o público. James Hetfield, então, fez as honras: deixou claro seu respeito pelo público por terem esperado tanto tempo até aquele show. De todos, era ele quem parecia o mais grato por estar de volta aos palcos. E novamente com “fome de jogo”, puxou “Seek & Destroy”, mais um clássico old school muito bem interpretado pelos agora senhores.

Os recursos visuais são muito bem explorados nessa nova etapa da turnê “WorldWired”. Os telões sempre estão preenchidos com excelentes animações ou filmagens ao vivo pra lá de dinâmicas, com direito a uma câmera giratória que acompanha Lars Ulrich de diversos ângulos. O baterista, aliás, faz questão de montar sua bateria em um espaço bem central no palco.

“Holier Than Thou”, ausente dos shows anteriores em Porto Alegre e Curitiba, foi resgatada de forma certeira para esta noite. Um lado B que funciona bem. Mas a sensação de catarse coletiva é retomada mesmo com “One”. A clássica música emociona desde a abertura pré-gravada, com uma vinheta que resgata diálogos do filme “Johnny Vai à Guerra” enquanto recursos de palco interagem com as falas, até a performance musical, com direito a fogos de artifício e labaredas no palco e um competente jogo de iluminação fazendo a diferença. Mesmo alguns erros de Kirk Hammett (que entra errado com seu solo inicial) e Lars Ulrich (cujo bumbo duplo no ápice da música parece falhar) não tiram a mística da faixa.

Enquanto os músicos trocam instrumentos, James Hetfield volta a interagir com o público e brinca: “Vocês gostaram dessa última música? Gostaram mesmo? Agora vamos tocar uma que vocês não gostam, tem alguma?”. Se queria desagradar, Papa Het escolheu mal: logo emendou “Sad But True”, uma das mais aclamadas do set. Como diferencial, agora ele tem tocado um trechinho do refrão a capella antes do pesado riff entrar de vez.

“Dirty Window”, na sequência, foi uma das surpresas do repertório. A faixa vem do criticado álbum “St. Anger” (2003), o que motivou nova interação de James antes de iniciá-la: ele perguntou se os fãs gostavam do disco, obtendo resposta positiva. Esta foi apenas a terceira vez que o quarteto tocou a pesada canção desde 2004, quando foi encerrada a turnê de divulgação do trabalho original. E não dá para negar: ela soa muito melhor ao vivo, com timbres de bom gosto e interpretação mais equilibrada.

Hora da troca de roupa de Hetfield, que parece ter rejuvenescido quase 10 anos (especialmente em fôlego de performance) depois de ter passado por uma reabilitação recentemente. Enquanto isso, rola uma vinheta para introduzir “No Leaf Clover”, que esteve fora dos outros shows pelo Brasil. Foi bem recebida pelo público, mas senti que a faixa do álbum “S&M” (1999) quebrou um pouco do clima intenso proporcionado pelas anteriores. Mas tudo bem: a incontestavelmente clássica “For Whom the Bell Tolls”, também iniciada após vídeo no telão, recolocou tudo nos eixos. Nem os errinhos de Kirk Hammett ao tocar o lick inicial tiraram o brilho deste que foi um dos pontos altos da noite.

De um clássico para outro, os caras logo emendam em “Creeping Death”, responsável por gerar, provavelmente, o maior mosh pit da noite – ao menos de onde eu estava. E vamos de vinheta novamente, desta vez em uma pegada bem realista, para introduzir “Welcome Home (Sanitarium)”. Sou grande fã desta canção, mas senti que o público não reagiu de forma tão empolgada como eu.

Tudo bem. “Master of Puppets”, a última do set regular, colocou todo mundo para gritar e bater cabeça. A filmagem de centenas de covas imitando a capa do álbum de mesmo nome que a faixa, reproduzida durante o solo cruzado de James Hetfield e Kirk Hammett, rendeu um dos grandes momentos visuais da noite.

Tanto em “Master” quanto em “Creeping Death”, rolaram dois momentos curiosos: Hetfield deixou de tocar guitarra brevemente para apontar o microfone ao público. Em ambas as ocasiões, percebe-se como o som da banda fica vazio sem suas palhetadas ferozes. James é a engrenagem que faz o Metallica girar. Chega a surpreender como o instrumento dele soa mais alto que o de Kirk, o solista, na maior parte das músicas – e momentos como esses citados mostram sua importância para o resultado final.

Antes da saída inicial do palco, o grupo tem seu nome estampado no telão – o escrito “etallic” casa com as gigantescas letras “M” e “A” que ficam fixas nas bordas. Não demora muito até que seja iniciado o bis, com três músicas. A primeira, “Spit Out the Bone”, foi a única representante do álbum mais recente, “Hardwired… To Self-Destruct” (2016). A ótima canção foi interpretada com James Hetfield e Robert Trujillo se revezando nos vocais, enquanto o telão ao fundo trazia uma arte com a bandeira do Brasil.

Os dois grandes hits do quarteto ficam para o fim. O primeiro, “Nothing Else Matters”, arranca suspiros de um público que certamente bateu muita cabeça nos números anteriores. A iluminação azul que transcende o palco e vai até a plateia é bastante caprichada. O segundo e derradeiro, “Enter Sandman”, retoma a pegada de catarse coletiva, mas sem mosh pits. Fogos de artifício no início e no fim reforçam o entendimento de que tudo aquilo é uma celebração.

O show acaba, mesmo, com os quatro músicos se reunindo na frente do palco e disparando palhetas e baquetas para os fãs. Além disso, é exibido um vídeo que mostra desde a montagem do palco até cenas do show que acabou de rolar.

O Metallica deixou evidente sua gratidão em diversas situações desta noite. Os fãs, claro, retribuíram. A noite beirou a perfeição e rendeu aquele que certamente foi, especialmente pelo repertório escolhido, um dos melhores shows da banda no Brasil – e olha que eles já fizeram 20 apresentações por aqui. Que o próximo retorno não demore tanto.

Metallica – ao vivo em São Paulo

  • Local: Estádio do Morumbi
  • Data: 10 de maio de 2022
  • Turnê: WorldWired – América do Sul

Repertório:

  1. Whiplash
  2. Ride the Lightning
  3. Fuel
  4. Seek & Destroy
  5. Holier Than Thou
  6. One
  7. Sad but True
  8. Dirty Window
  9. No Leaf Clover
  10. For Whom the Bell Tolls
  11. Creeping Death
  12. Welcome Home (Sanitarium)
  13. Master of Puppets
    Bis:
  14. Spit Out the Bone
  15. Nothing Else Matters
  16. Enter Sandman

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

2 COMENTÁRIOS

  1. Estava la e foi muito bom, so discordo do st anger, estava na pista e ouvi um couro ne “noooooooo” “uuuuuuuu”.
    Inclusive vi muitas pessoas comentando antes da musica começar “meu deus que vergonha”.

    Infelizmente para eles, o st anger n é um álbum querido

  2. Cara, fui em Curitiba.
    O setlist lá sim foi melhor, sério. Pode comparar com Buenos Aires, Porto alegre… aguardaremos BH hehe

    Tocaram fade to black, battery, unforgiven.

    Compara ai:

    CURITIBA
    https://www.setlist.fm/setlist/metallica/2022/estadio-couto-pereira-curitiba-brazil-63b78a5f.html

    SP
    https://www.setlist.fm/setlist/metallica/2022/estadio-do-morumbi-sao-paulo-brazil-3bb7e830.html

    Não tive fuel? Não… nem Sanitarium, mas mesmo assim foi melhor que SP.

    Agora a arte do telão em SP, foi infinitamente mais foda!

    Vlw abraços!! Mto METAAAAL pra todos!!

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Apresentação no estádio do Morumbi com abertura de Greta Van Fleet e Ego Kill Talent mostrou o quanto a veterana banda de metal estava com saudade dos palcos sul-americanos

Show do Metallica não é para amadores. Especialmente se você vai em alguma das pistas. O nível de entrega física transcende o headbanging: envolve mosh pits e outras interações que só se vê no âmbito da música pesada, do metal ao punk.

Quando se trata de um show adiado em dois anos em função de uma maldita pandemia, a entrega do público (e dos músicos) é ainda maior. Foi o que se viu na gelada noite de terça-feira, 10 de maio de 2022, no estádio do Morumbi. Metallica, com abertura do Greta Van Fleet e Ego Kill Talent, puderam matar a saudade do público brasileiro – o qual deveriam ter visto ainda em abril de 2020.

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Boa noite, Greta Van Fleet

Infelizmente, não pude ver o Ego Kill Talent, banda que merece toda a admiração. Para um dia de semana, o show começou cedo: por volta das 18h30, em um curto set de 30 minutos. Como não deu para conferir a apresentação, fica a recomendação: ouça o novo álbum dos caras, “The Dance Between Extremes”. Representa um grande salto de qualidade, em termos de composição, se comparado ao disco anterior, o debut homônimo.

Cheguei a tempo para o Greta Van Fleet e pude testemunhar que hater, mesmo, só existe na internet. O quarteto liderado pelos irmãos Kiszka – Josh (voz), Jake (guitarra) e Sam (baixo) – foi abraçado pelo público do início ao fim, contrariando expectativas de que os fãs de heavy metal não iriam curtir o hard rock zeppeliano dos caras.

A recepção da plateia veio mesmo com um show que, embora competente, não faz o perfil que se espera de uma abertura do Metallica. A apresentação do Greta é feita para viajar no som, especialmente através das jams que surgem em quase todas as músicas. Também não há todo o aparato tecnológico que a atração principal dispõe: os jovens músicos tocaram apenas com a imagem da capa de seu novo álbum, “The Battle at Garden’s Gate”, no telão principal e filmagens ao vivo deles próprios com tratamento preto e branco nas telas laterais.

Apesar dos poucos diálogos com os presentes, Josh Kiszka conquistou quem estava por ali logo em suas primeiras palavras: “boa noite, São Paulo”, em português bem ensaiado. E quem queria ser vencido pelo som acabou se rendendo à sua espetacular performance vocal, com recorrentes e duradouros berros em meio às canções.

Por sua vez, o trio instrumental – Jake, Sam e o baterista Danny Wagner – mostrou entrosamento tanto nas jams quanto nos momentos mais tradicionais. Jake, em especial, se destaca com diversos solos, enquanto Danny é uma verdadeira máquina de groove e Sam preenche o som de forma dinâmica, mas discreta.

Só senti que, mesmo com o pouco tempo de show (pouco mais de 50 minutos, das 19h30 às 20h23), dava para escolher algumas músicas que se encaixassem um pouco mais com a proposta do evento. A opção por faixas mais arrastadas do novo álbum como “Built by Nations”, “Caravel” e “The Weight of Dreams” não se provou tão eficaz, tanto que elas só empolgaram nas já mencionadas passagens de improviso.

As já clássicas “Black Smoke Rising”, “Lover, Leaver (Taker, Believer)” (com uma das jams mais longas do set), “My Way, Soon” (“sem esta música, não estaríamos aqui hoje”, disse Josh antes de tocá-la) e especialmente “Highway Tune” foram os pontos altos de uma boa performance, encerrada com flores atiradas ao público.

O setlist foi:

  1. Built by Nations
  2. Black Smoke Rising
  3. Caravel
  4. Lover, Leaver (Taker, Believer)
  5. My Way, Soon
  6. The Weight of Dreams
  7. Highway Tune

Hora dos protagonistas

O aquecimento foi muito bom – esse formato com bandas de grande porte também na abertura, adotado aqui pela produtora Live Nation, deveria pegar no Brasil –, mas todos estavam ali para ver James Hetfield (voz e guitarra), Lars Ulrich (bateria), Kirk Hammett (guitarra) e Robert Trujillo (baixo). E a espera de quase uma hora até a última canção do Greta Van Fleet, com direito a atraso “calculado” de 15 minutos, valeu a pena.

Após as caixas de som tocarem “It’s a Long Way to the Top (If You Wanna Rock ‘n’ Roll)”, clássico do AC/DC, uma vinheta dá início aos trabalhos. Na atual turnê, o Metallica não se limita a reproduzir “The Ecstasy of Gold”: eles também exibem no telão uma cena de “Três Homens em Conflito” (“The Good, the Bad and the Ugly”), filme que utiliza a composição de Ennio Morricone em sua trilha sonora. Mais especificamente, trata-se da cena em que Tuco, o “Feio”, corre pelo cemitério de Sad Hill. Talvez uma das melhores aberturas de show que já testemunhei.

Aos poucos, a passagem cinematográfica dá lugar para uma arte que ocupa o conjunto de cinco telões verticalmente retangulares do possante palco. Traços vermelhos ocupam a tela como se a “bateria” (o dispositivo, não o instrumento) estivesse carregando. Curiosamente, é Lars Ulrich quem sobe ao palco primeiro, seguido de Robert Trujillo, Kirk Hammett e James Hetfield. Tem início um show de excelente repertório e, como já dito, muita entrega.

Mal deu para ver o palco durante “Whiplash”, música que abre o set. Como eu estava no olho do furacão, um mosh pit gigantesco se abriu em meu entorno. A mais sincera forma de celebrar a música pesada. Uma sensação de pertencimento me preencheu – e certamente contemplou vários dos colegas que ali estavam. Mesmo tendo ido a um show também incrível do Kiss pouco mais de uma semana antes, foi ali que deu para sentir que estamos perto de vencer essa maldita pandemia que nos impediu de ter shows presenciais por tanto tempo.

Se a abertura com “Whiplash” parecia enérgica o suficiente, o restante daquela parte inicial de apresentação ainda iria surpreender muita gente. Logo teríamos “Ride the Lightning”, tocada emendada na sequência novamente com a facada nos dentes, e “Fuel”, aceleradíssima, gastando horrores em pirotecnia e antecedida por um comentário breve de James Hetfield sobre o bebê nascido durante performance da banda no estádio Couto Pereira, em Curitiba, três dias antes. Êxtase coletivo.

Com uma sequência matadora dessas, mal deu tempo para conversar com o público. James Hetfield, então, fez as honras: deixou claro seu respeito pelo público por terem esperado tanto tempo até aquele show. De todos, era ele quem parecia o mais grato por estar de volta aos palcos. E novamente com “fome de jogo”, puxou “Seek & Destroy”, mais um clássico old school muito bem interpretado pelos agora senhores.

Os recursos visuais são muito bem explorados nessa nova etapa da turnê “WorldWired”. Os telões sempre estão preenchidos com excelentes animações ou filmagens ao vivo pra lá de dinâmicas, com direito a uma câmera giratória que acompanha Lars Ulrich de diversos ângulos. O baterista, aliás, faz questão de montar sua bateria em um espaço bem central no palco.

“Holier Than Thou”, ausente dos shows anteriores em Porto Alegre e Curitiba, foi resgatada de forma certeira para esta noite. Um lado B que funciona bem. Mas a sensação de catarse coletiva é retomada mesmo com “One”. A clássica música emociona desde a abertura pré-gravada, com uma vinheta que resgata diálogos do filme “Johnny Vai à Guerra” enquanto recursos de palco interagem com as falas, até a performance musical, com direito a fogos de artifício e labaredas no palco e um competente jogo de iluminação fazendo a diferença. Mesmo alguns erros de Kirk Hammett (que entra errado com seu solo inicial) e Lars Ulrich (cujo bumbo duplo no ápice da música parece falhar) não tiram a mística da faixa.

Enquanto os músicos trocam instrumentos, James Hetfield volta a interagir com o público e brinca: “Vocês gostaram dessa última música? Gostaram mesmo? Agora vamos tocar uma que vocês não gostam, tem alguma?”. Se queria desagradar, Papa Het escolheu mal: logo emendou “Sad But True”, uma das mais aclamadas do set. Como diferencial, agora ele tem tocado um trechinho do refrão a capella antes do pesado riff entrar de vez.

“Dirty Window”, na sequência, foi uma das surpresas do repertório. A faixa vem do criticado álbum “St. Anger” (2003), o que motivou nova interação de James antes de iniciá-la: ele perguntou se os fãs gostavam do disco, obtendo resposta positiva. Esta foi apenas a terceira vez que o quarteto tocou a pesada canção desde 2004, quando foi encerrada a turnê de divulgação do trabalho original. E não dá para negar: ela soa muito melhor ao vivo, com timbres de bom gosto e interpretação mais equilibrada.

Hora da troca de roupa de Hetfield, que parece ter rejuvenescido quase 10 anos (especialmente em fôlego de performance) depois de ter passado por uma reabilitação recentemente. Enquanto isso, rola uma vinheta para introduzir “No Leaf Clover”, que esteve fora dos outros shows pelo Brasil. Foi bem recebida pelo público, mas senti que a faixa do álbum “S&M” (1999) quebrou um pouco do clima intenso proporcionado pelas anteriores. Mas tudo bem: a incontestavelmente clássica “For Whom the Bell Tolls”, também iniciada após vídeo no telão, recolocou tudo nos eixos. Nem os errinhos de Kirk Hammett ao tocar o lick inicial tiraram o brilho deste que foi um dos pontos altos da noite.

De um clássico para outro, os caras logo emendam em “Creeping Death”, responsável por gerar, provavelmente, o maior mosh pit da noite – ao menos de onde eu estava. E vamos de vinheta novamente, desta vez em uma pegada bem realista, para introduzir “Welcome Home (Sanitarium)”. Sou grande fã desta canção, mas senti que o público não reagiu de forma tão empolgada como eu.

Tudo bem. “Master of Puppets”, a última do set regular, colocou todo mundo para gritar e bater cabeça. A filmagem de centenas de covas imitando a capa do álbum de mesmo nome que a faixa, reproduzida durante o solo cruzado de James Hetfield e Kirk Hammett, rendeu um dos grandes momentos visuais da noite.

Tanto em “Master” quanto em “Creeping Death”, rolaram dois momentos curiosos: Hetfield deixou de tocar guitarra brevemente para apontar o microfone ao público. Em ambas as ocasiões, percebe-se como o som da banda fica vazio sem suas palhetadas ferozes. James é a engrenagem que faz o Metallica girar. Chega a surpreender como o instrumento dele soa mais alto que o de Kirk, o solista, na maior parte das músicas – e momentos como esses citados mostram sua importância para o resultado final.

Antes da saída inicial do palco, o grupo tem seu nome estampado no telão – o escrito “etallic” casa com as gigantescas letras “M” e “A” que ficam fixas nas bordas. Não demora muito até que seja iniciado o bis, com três músicas. A primeira, “Spit Out the Bone”, foi a única representante do álbum mais recente, “Hardwired… To Self-Destruct” (2016). A ótima canção foi interpretada com James Hetfield e Robert Trujillo se revezando nos vocais, enquanto o telão ao fundo trazia uma arte com a bandeira do Brasil.

Os dois grandes hits do quarteto ficam para o fim. O primeiro, “Nothing Else Matters”, arranca suspiros de um público que certamente bateu muita cabeça nos números anteriores. A iluminação azul que transcende o palco e vai até a plateia é bastante caprichada. O segundo e derradeiro, “Enter Sandman”, retoma a pegada de catarse coletiva, mas sem mosh pits. Fogos de artifício no início e no fim reforçam o entendimento de que tudo aquilo é uma celebração.

O show acaba, mesmo, com os quatro músicos se reunindo na frente do palco e disparando palhetas e baquetas para os fãs. Além disso, é exibido um vídeo que mostra desde a montagem do palco até cenas do show que acabou de rolar.

O Metallica deixou evidente sua gratidão em diversas situações desta noite. Os fãs, claro, retribuíram. A noite beirou a perfeição e rendeu aquele que certamente foi, especialmente pelo repertório escolhido, um dos melhores shows da banda no Brasil – e olha que eles já fizeram 20 apresentações por aqui. Que o próximo retorno não demore tanto.

Metallica – ao vivo em São Paulo

  • Local: Estádio do Morumbi
  • Data: 10 de maio de 2022
  • Turnê: WorldWired – América do Sul

Repertório:

  1. Whiplash
  2. Ride the Lightning
  3. Fuel
  4. Seek & Destroy
  5. Holier Than Thou
  6. One
  7. Sad but True
  8. Dirty Window
  9. No Leaf Clover
  10. For Whom the Bell Tolls
  11. Creeping Death
  12. Welcome Home (Sanitarium)
  13. Master of Puppets
    Bis:
  14. Spit Out the Bone
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  1. Estava la e foi muito bom, so discordo do st anger, estava na pista e ouvi um couro ne “noooooooo” “uuuuuuuu”.
    Inclusive vi muitas pessoas comentando antes da musica começar “meu deus que vergonha”.

    Infelizmente para eles, o st anger n é um álbum querido

  2. Cara, fui em Curitiba.
    O setlist lá sim foi melhor, sério. Pode comparar com Buenos Aires, Porto alegre… aguardaremos BH hehe

    Tocaram fade to black, battery, unforgiven.

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    Não tive fuel? Não… nem Sanitarium, mas mesmo assim foi melhor que SP.

    Agora a arte do telão em SP, foi infinitamente mais foda!

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