Ao colocar para tocar o álbum de estreia do Led Zeppelin, não é preciso ser um crítico musical ou grande conhecedor do assunto para perceber que há algo especial ali. A música, por si só, impressiona. Mas quando se descobre as circunstâncias em que o álbum foi feito, bem como a inovação simples e efetiva da produção, o trabalho se torna ainda mais incrível.
“Led Zeppelin I”, como é conhecido hoje, foi todo gravado em 36 horas, incluindo o processo de mixagem. O guitarrista Jimmy Page tem certeza absoluta do tempo que levou, já que ele mesmo foi o produtor e, junto com o empresário Peter Grant, pagou o estúdio pelas sessões. O custo exato também foi registrado: 1.782 libras esterlinas por aquelas horas alugadas.
Nessa época, o Zeppelin não possuía nenhum contrato com uma gravadora, o que tinha seu lado bom e seu lado ruim. A parte legal foi a total liberdade em estúdio. Como ponto negativo, justamente o fato de esse tempo de estúdio ser limitado pelo orçamento.
E tudo aconteceu tão rapidamente que quando Page, o vocalista Robert Plant, o baixista John Paul Jones e o baterista John Bonham entraram em estúdio naquele dia 25 de setembro de 1968 para gravar o disco, é possível dizer que eles mal eram o Led Zeppelin de fato. Aquele grupo de músicos havia acabado de ganhar seu novo nome, mas até ali, eles eram o que sobrou dos Yardbirds – ou, mais precisamente, The New Yardbirds.
Escalando o time
Os Yardbirds foram uma banda de relativo sucesso na década de 60. Teve integrantes lendários como Eric Clapton e Jeff Beck, além de Page, músico da formação final.
A última configuração do grupo foi encerrada em julho de 1968, deixando Jimmy sozinho com os direitos sobre o nome, as dívidas pendentes e as obrigações de uma turnê pelos países da Escandinávia nas próximas semanas.
Com um verdadeiro “abacaxi para descascar” nas mãos, o guitarrista tentou recrutar um novo time de músicos para ao menos cumprir os shows escandinavos. A ideia era simples: um velho conhecido, o músico de estúdio John Paul Jones, assumiria o baixo. Para a bateria e os vocais, os nomes cotados eram B.J. Wilson (Procol Harum) e Terry Reid, respectivamente, mas os dois recusaram.
Wilson tinha uma boa explicação: os compromissos com sua banda principal. Já Reid, em um daqueles episódios inexplicáveis da história da música, não se interessou pelo trabalho. Ainda assim, indicou um amigo: Robert Plant, da Band of Joy. Por sua vez, o vocalista trouxe John Bonham, um antigo colega musical para preencher a vaga de baterista. Assim, foi formado o The New Yardbirds.
Da turnê para o estúdio
A turnê pela Escandinávia aconteceu sem problemas. A nova banda tocou músicas já conhecidas do catálogo dos Yardbirds, além de algumas novidades, como a autoral “Communication Breakdown”.
Encerrada a excursão, Jimmy Page mudou o nome da banda para Led Zeppelin. Em menos de dois meses juntos, os músicos estavam entrando no Olympic Studios, em Londres, para gravar seu primeiro álbum.
A química era tão boa que a turnê havia sido usada para ensaiar e entrosar algumas músicas inéditas, o que facilitou o processo de gravação. A lista de músicas do trabalho estava praticamente definida, com músicas próprias e incursões a alguns clássicos do blues, especialmente de Willie Dixon.
O Led Zeppelin inova
Além das guitarras, Page assumiu também a produção do álbum – e se mostrou muito habilidoso na função. Os anos como músico de estúdio lhe renderam boa experiência, algo que se converteu em inovações no que diz respeito a técnicas de gravação. Proposital ou não, um pioneirismo tanto.
“Led Zeppelin I” é um dos primeiros álbuns a usar microfones para captar o som ambiente da banda em vez de posicioná-los direto nos amplificadores e bateria. Com isso, obteve-se uma rara profundidade sonora, apesar de praticamente tudo ter sido gravado ao vivo em estúdio, com raros overdubs.
Um dos grandes trunfos foi a bateria de John Bonham, que soou grandiosa após ser elevada para melhorar a ressonância. Outros pequenos truques foram usados, como o “vazamento” proposital da voz de Robert Plant para outras pistas de gravação, assim como o uso de “eco reverso” nos vocais em alguns momentos num efeito que coloca o eco antes do som original.
A estreia do Led Zeppelin foi um dos primeiros álbuns da história a ser lançado somente em formato estéreo. Quem participou ativamente do processo e ajudou Jimmy a moldar essa sonoridade foi seu amigo de infância, Glyn Johns, que atuou como engenheiro de som e ficou responsável pela mixagem.
Além da parte técnica, “Led Zeppelin I” inova em termos artísticos, já que é um dos primeiros álbuns de heavy metal propriamente dito, ainda que esse tal heavy metal hoje seja considerado hard rock. A poderosa mistura de blues e rock pesado a partir de guitarras distorcidas, vocais agudos, baixo que não se limitava a marcar batidas e bateria visceral ajudou a formatar um novo gênero musical, o que não é pouca coisa.
Sucesso
Com as músicas já gravadas, o Led Zeppelin conseguiu um contrato de lançamento com a Atlantic Records. O resto é história.
O álbum que traz na capa uma imagem chocante do desastre com o dirigível Hindenburg, em 1937, foi lançado em 12 de janeiro de 1969. O sucesso foi tanto que o grupo conseguiu lançar seu segundo álbum no mesmo ano, o também famoso “Led Zeppelin II”.
“Led Zeppelin I” é o início de uma das histórias mais incríveis do rock. Mesmo com sua produção apressada, retrata a genialidade de um grupo que até hoje influencia gerações de músicos.
Led Zeppelin – “Led Zeppelin I”
Robert Plant (vocal, gaita)
Jimmy Page (guitarra, violão, pedal steel, backing vocals)
John Paul Jones (baixo, órgão, backing vocals)
John Bonham (bateria, timpani, backing vocals)
Músico adicional
Viram Jasani (tabla em “Black Mountain Side”)
- Good Times Bad Times
- Babe I’m Gonna Leave You
- You Shook Me
- Dazed and Confused
- Black Mountain Side
- Communication Breakdown
- I Can’t Quit You Baby
- How Many More Times
* Texto por André Luiz Fernandes e Igor Miranda, com pauta e edição por Igor Miranda.
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“Led Zeppelin I” é um dos primeiros álbuns a usar microfones para captar o som ambiente da banda em vez de posicioná-los direto nos amplificadores e bateria. Com isso, obteve-se uma rara profundidade sonora, apesar de praticamente tudo ter sido gravado ao vivo em estúdio, com raros overdubs.-Nenhuma inovação aí pois em 1967,era assim que se gravava,microfonação mais a distância,os engenheiros de jaleco e cachimbo não permitiam microfonação em solo com volume brutal,com medo de danificar o equipamento.Quando Hendrix foi gravar hey Joe,a briga com os engenheiros do Olimpic foi intensa pois Mitch queria um microfone só pro bumbo etc.
Oi, Ricardo. Sim, também publicamos um artigo anteriormente com as inovações de Jimi Hendrix em estúdio. Vale dar uma checada. Importante destacar que embora Jimmy Page tenha adotado técnicas inovadoras (como essa, que era pouquíssimo usada na época), não foi dito que ele foi o primeiro a usar. Foi um dos primeiros e deu novo significado a certas técnicas, mas não exatamente o primeiro.