O baterista Roger Taylor refletiu sobre os shows feitos pelo Queen na África do Sul em meio ao Apartheid. Em entrevista à revista Classic Rock, o músico reconheceu a decisão como um erro.
O regime de segregação racial foi instituído em 1948 pelo primeiro-ministro e pastor protestante Daniel François. Foi mantido até 1994 pelos sucessivos governos do Partido Nacional, negando direitos civis básicos à maioria dos habitantes, favorecendo a minoria branca no poder. Como destaca a Wikipédia:
“A nova legislação dividia os habitantes em grupos raciais (negros, brancos, de cor e indianos), segregando as áreas residenciais, muitas vezes através de remoções forçadas. A partir de finais da década de 1970, os negros foram privados de sua cidadania, tornando-se legalmente cidadãos de uma das dez pátrias tribais autônomas chamadas de bantustões. Nessa altura, o governo já havia segregado a saúde, a educação e outros serviços públicos, fornecendo aos negros serviços inferiores aos dos brancos.”
A banda tocou no casino resort Sun City, frequentado apenas pela elite. A ação gerou uma avalanche de críticas, também sofrida por nomes como Rod Stewart, Elton John, Status Quo, The Beach Boys, Frank Sinatra e Black Sabbath, entre tantos outros artistas que também se apresentaram no local.
Por anos, o grupo se defendeu das críticas, alegando não se envolver com questões políticas, além de não ter conhecimento da realidade do país. Porém, hoje, reconhecem não ter sido apropriado.
“Recebemos muitas críticas, enquanto Rod Stewart e Barry Manilow passaram limpos. Fomos até lá com as melhores intenções. Brian (May, guitarrista) chegou a entregar alguns prêmios no Festival de Soweto. Mas, olhando para trás, acredito que tenha sido um erro.”
Queen na África do Sul com Apartheid
O Queen realizou um total de nove shows em Sun City, entre os dias 5 e 20 de outubro de 1984. A banda chegou a exigir em contrato que não houvesse discriminação racial na plateia.
Como os preços dos ingressos eram inviáveis a qualquer pessoa fora do minúsculo nicho elitista, mil ingressos por apresentação foram distribuídos à população carente.
Para aplacar o criticismo após voltar à Inglaterra, o quarteto doou o valor do cachê para escolas especiais. No ano seguinte, fariam a famosa participação no Live Aid, megafestival que visava combater a fome na Etiópia.
Boicote da ONU
Em 1976, a Organização das Nações Unidas incluiu o Apartheid na lista de crimes contra a humanidade, promovendo boicote de eventos internacionais na África do Sul até que o regime fosse extinto. O país ficou impedido de disputar competições esportivas como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Empresas e investidores internacionais foram pressionados a retirar incentivos enquanto a situação prevalecesse. Ainda assim, alguns não aderiram, como a Fórmula 1, que seguiu realizando suas provas no autódromo de Kyalami até 1985, quando a situação ficou insustentável – ainda que outras duas edições tenham sido realizadas em 1992 e 1993.
Um ano após os concertos do Queen, surgiu a aliança Artists United Against Apartheid, liderada por Steven Van Zandt. Nomes como Bruce Springsteen, Bob Dylan, Ringo Starr, Peter Gabriel, Bono, Keith Richards, Ronnie Wood, Joey Ramone, George Clinton, Lou Reed e Bob Geldof participaram do single “Sun City”.
A música arrecadou mais de um milhão de dólares para projetos anti-Apartheid. Algumas rádios americanas se recusaram a tocá-la pelo conteúdo lírico que atacava o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan.