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Blackjack, a banda de Michael Bolton e Bruce Kulick que (quase) ninguém ouviu

Carreiras dos artistas funcionaram melhor separadamente, mas projeto que os uniu tem boas músicas - algumas delas, sampleadas até por Kanye West e Jay-Z

O início das carreiras de Michael Bolton (aqui ainda usando seu sobrenome de batismo, Bolotin) e Bruce Kulick com o Blackjack mostra como o sucesso é traiçoeiro e interessante. Muitas vezes, talentos natos acabam não o alcançando juntos, mas ao se distanciarem, aparentemente perdendo força, é justamente quando a coisa começa a acontecer como esperado.

Antes de conquistarem a fama, Bolton e Kulick fizeram dois grandes discos – que passaram despercebidos pelo grande público – com a banda. Uma pena, pois o som tem tudo para agradar os fãs de um hard/classic rock setentista, remetendo a nomes como o Whitesnake da primeira fase, Boston e Bad Company, entre outros da época.

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À época, Michael já possuía experiência profissional, tendo gravado dois trabalhos solo para a RCA Records. Ambos contavam com repertório mais voltado para o R&B. Já Bruce tinha participado – junto a seu irmão, Bob Kulick – da banda de apoio de Meat Loaf durante a turnê do clássico “Bat Out of Hell”. Completam o grupo o baixista Jimmy Haslip (Tommy Bolin, Allan Holdsworth, Al Jarreau) e o baterista Sandy Gennaro. Os teclados foram gravados pelo músico contratado Jan Mullaney.

A Polydor, gravadora do quarteto, deu grande apoio, divulgando-os como a próxima grande banda da cena. Não vingaram, mas incentivo não faltou.

Apoio de Bob Kulick

Bruce Kulick credita o saudoso irmão como a pessoa que o colocou na empreitada, em entrevista à Rolling Stone.

“Bob estava envolvido com o início do projeto junto a Michael. Foi uma grande oportunidade para mim, o momento em que rompi o cordão umbilical com ele. Inicialmente, seria um trabalho solo de Bolton, mas a gravadora insistiu para que se formasse uma banda. Jimmy era o nosso John Paul Jones, ganhou vários Grammy tocando jazz posteriormente. E Sandy era um grande baterista de Staten Island. Éramos apaixonados pelo rock inglês tipo Led Zeppelin e Bad Company.”

Blackjack chega ao mundo

Lançado em 18 de junho de 1979, o disco de estreia do Blackjack, homônimo, é uma verdadeira aula no estilo. São dez ótimas faixas, feitas sob medida para agradar os rockers de todas as gerações.

A empolgante abertura “Love Me Tonight” já dá uma mostra do que espera o ouvinte. Em “Heart of Stone”, Michael parece incorporar o David Coverdale do começo de carreira, assim como em “Southern Ballad”, música de título autoexplicativo.

A pegada hard volta a tomar conta em “Fallin’”, que assim como “I’m Aware of Your Love” (com seu refrão simples e cativante) conta com backing vocals femininos que se encaixam de maneira perfeita.

Mesmo com tantas boas músicas, a repercussão passou longe do esperado. Bruce conta:

“A gravadora investiu muito dinheiro, mas não éramos o tipo de rock que fazia sucesso. ‘Breakfast in America’, do Supertramp, era o número um nas paradas. Ficamos de mãos atadas quando a coisa não vingou.”

Última tentativa

Apesar da recepção morna, o Blackjack voltou para o estúdio e registrou aquele que seria seu derradeiro álbum. O desempenho nas paradas foi ainda mais fraco, mas “Worlds Apart”, lançado em 1980, não deixa de trazer momentos memoráveis.

A abertura com “My World is Empty Without You” traz um Bolton ainda mais inspirado, cantando com a alma. “Love is Hard to Find” indicava a aproximação ao AOR que o cantor faria no começo de sua carreira-solo.

Por sua vez, “Welcome to the World” é a música mais pesada que o grupo fez em sua curta existência, lembrando Uriah Heep e com Bruce Kulick mostrando toda sua desenvoltura nas seis cordas. “Really Wanna Know” também merece ser citada, com uma levada irresistível. Mas nem isso foi o suficiente para evitar o fracasso comercial.

Vida após a banda

Da esquerda para a direita: Michael Bolton, Bruce Kulick e Sandy Gennaro

Após a dissolução do Blackjack, Michael Bolton partiu para uma bem-sucedida carreira solo, especialmente quando resolveu aderir à música romântica. Bruce Kulick o acompanhou no início, mas logo se juntaria ao Kiss, onde encontraria seu maior sucesso – embora não o maior da banda em si.

Um momento curioso aconteceria quando Bolton compôs “Forever” em parceria com Paul Stanley. A música do álbum “Hot in the Shade” (1989) foi o maior sucesso comercial do grupo na fase com Kulick.

Jimmy Haslip entrou para a história ao fundar o Yellowjackets, grupo considerado um dos pioneiros do Fusion. Curiosamente, sua carreira também se cruzou com o Kiss, pois ele gravou o baixo da música “Danger”, no álbum “Creatures of the Night” (1982).

Sandy Genaro seguiu sua trajetória como músico de apoio. Gravou e excursionou com artistas como Pat Travers, Cindy Lauper e The Monkees, entre outros.

Apesar dos caminhos seguidos de forma separada, a parceria dos protagonistas se mantém, como destacou o guitarrista ao SleazeRoxx em 2020.

“Ainda tenho contato com Michael. Ele me disse que gostaria de fazer algum disco voltado ao rock em algum momento e sabe que é só chamar se quiser que eu participe. Sempre compusemos bem juntos.”

Samples e relançamentos

Neste século, duas músicas do Blackjack foram usadas por artistas consagrados.

Kanye West aproveitou “Maybe It’s The Power of Love” para criar “Never Let Me Down”, presente no álbum “The College Dropout”, de 2004.

Já Jay-Z sampleou “Stay” em “A Dream”, música do disco “The Blueprint 2: The Gift & The Curse”, disponibilizado em 2002 e ainda fruto de uma busca por acordos na justiça que Bruce não pôde detalhar à Rolling Stone por ser uma situação em andamento.

Os discos do Blackjack foram relançados juntos em duas oportunidades diferentes: uma pela própria Polygram em 1990 e outra em 2006 pela Lemon Records.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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Blackjack, a banda de Michael Bolton e Bruce Kulick que (quase) ninguém ouviu

Carreiras dos artistas funcionaram melhor separadamente, mas projeto que os uniu tem boas músicas - algumas delas, sampleadas até por Kanye West e Jay-Z

O início das carreiras de Michael Bolton (aqui ainda usando seu sobrenome de batismo, Bolotin) e Bruce Kulick com o Blackjack mostra como o sucesso é traiçoeiro e interessante. Muitas vezes, talentos natos acabam não o alcançando juntos, mas ao se distanciarem, aparentemente perdendo força, é justamente quando a coisa começa a acontecer como esperado.

Antes de conquistarem a fama, Bolton e Kulick fizeram dois grandes discos – que passaram despercebidos pelo grande público – com a banda. Uma pena, pois o som tem tudo para agradar os fãs de um hard/classic rock setentista, remetendo a nomes como o Whitesnake da primeira fase, Boston e Bad Company, entre outros da época.

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À época, Michael já possuía experiência profissional, tendo gravado dois trabalhos solo para a RCA Records. Ambos contavam com repertório mais voltado para o R&B. Já Bruce tinha participado – junto a seu irmão, Bob Kulick – da banda de apoio de Meat Loaf durante a turnê do clássico “Bat Out of Hell”. Completam o grupo o baixista Jimmy Haslip (Tommy Bolin, Allan Holdsworth, Al Jarreau) e o baterista Sandy Gennaro. Os teclados foram gravados pelo músico contratado Jan Mullaney.

A Polydor, gravadora do quarteto, deu grande apoio, divulgando-os como a próxima grande banda da cena. Não vingaram, mas incentivo não faltou.

Apoio de Bob Kulick

Bruce Kulick credita o saudoso irmão como a pessoa que o colocou na empreitada, em entrevista à Rolling Stone.

“Bob estava envolvido com o início do projeto junto a Michael. Foi uma grande oportunidade para mim, o momento em que rompi o cordão umbilical com ele. Inicialmente, seria um trabalho solo de Bolton, mas a gravadora insistiu para que se formasse uma banda. Jimmy era o nosso John Paul Jones, ganhou vários Grammy tocando jazz posteriormente. E Sandy era um grande baterista de Staten Island. Éramos apaixonados pelo rock inglês tipo Led Zeppelin e Bad Company.”

Blackjack chega ao mundo

Lançado em 18 de junho de 1979, o disco de estreia do Blackjack, homônimo, é uma verdadeira aula no estilo. São dez ótimas faixas, feitas sob medida para agradar os rockers de todas as gerações.

A empolgante abertura “Love Me Tonight” já dá uma mostra do que espera o ouvinte. Em “Heart of Stone”, Michael parece incorporar o David Coverdale do começo de carreira, assim como em “Southern Ballad”, música de título autoexplicativo.

A pegada hard volta a tomar conta em “Fallin’”, que assim como “I’m Aware of Your Love” (com seu refrão simples e cativante) conta com backing vocals femininos que se encaixam de maneira perfeita.

Mesmo com tantas boas músicas, a repercussão passou longe do esperado. Bruce conta:

“A gravadora investiu muito dinheiro, mas não éramos o tipo de rock que fazia sucesso. ‘Breakfast in America’, do Supertramp, era o número um nas paradas. Ficamos de mãos atadas quando a coisa não vingou.”

Última tentativa

Apesar da recepção morna, o Blackjack voltou para o estúdio e registrou aquele que seria seu derradeiro álbum. O desempenho nas paradas foi ainda mais fraco, mas “Worlds Apart”, lançado em 1980, não deixa de trazer momentos memoráveis.

A abertura com “My World is Empty Without You” traz um Bolton ainda mais inspirado, cantando com a alma. “Love is Hard to Find” indicava a aproximação ao AOR que o cantor faria no começo de sua carreira-solo.

Por sua vez, “Welcome to the World” é a música mais pesada que o grupo fez em sua curta existência, lembrando Uriah Heep e com Bruce Kulick mostrando toda sua desenvoltura nas seis cordas. “Really Wanna Know” também merece ser citada, com uma levada irresistível. Mas nem isso foi o suficiente para evitar o fracasso comercial.

Vida após a banda

Da esquerda para a direita: Michael Bolton, Bruce Kulick e Sandy Gennaro

Após a dissolução do Blackjack, Michael Bolton partiu para uma bem-sucedida carreira solo, especialmente quando resolveu aderir à música romântica. Bruce Kulick o acompanhou no início, mas logo se juntaria ao Kiss, onde encontraria seu maior sucesso – embora não o maior da banda em si.

Um momento curioso aconteceria quando Bolton compôs “Forever” em parceria com Paul Stanley. A música do álbum “Hot in the Shade” (1989) foi o maior sucesso comercial do grupo na fase com Kulick.

Jimmy Haslip entrou para a história ao fundar o Yellowjackets, grupo considerado um dos pioneiros do Fusion. Curiosamente, sua carreira também se cruzou com o Kiss, pois ele gravou o baixo da música “Danger”, no álbum “Creatures of the Night” (1982).

Sandy Genaro seguiu sua trajetória como músico de apoio. Gravou e excursionou com artistas como Pat Travers, Cindy Lauper e The Monkees, entre outros.

Apesar dos caminhos seguidos de forma separada, a parceria dos protagonistas se mantém, como destacou o guitarrista ao SleazeRoxx em 2020.

“Ainda tenho contato com Michael. Ele me disse que gostaria de fazer algum disco voltado ao rock em algum momento e sabe que é só chamar se quiser que eu participe. Sempre compusemos bem juntos.”

Samples e relançamentos

Neste século, duas músicas do Blackjack foram usadas por artistas consagrados.

Kanye West aproveitou “Maybe It’s The Power of Love” para criar “Never Let Me Down”, presente no álbum “The College Dropout”, de 2004.

Já Jay-Z sampleou “Stay” em “A Dream”, música do disco “The Blueprint 2: The Gift & The Curse”, disponibilizado em 2002 e ainda fruto de uma busca por acordos na justiça que Bruce não pôde detalhar à Rolling Stone por ser uma situação em andamento.

Os discos do Blackjack foram relançados juntos em duas oportunidades diferentes: uma pela própria Polygram em 1990 e outra em 2006 pela Lemon Records.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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