Imagine-se como um cantor de relativo sucesso, mas pouca projeção. Você recebe convites para entrar no Led Zeppelin e no Deep Puple. O que você faria? Terry Reid recusou, mas, claro, sem saber que essas bandas seriam imensas.
O artista britânico fez muito mais do que isso em sua trajetória marcada pela solidez e longevidade. Contudo, é inegável: sua carreira jamais foi tão bem-sucedida comercialmente quanto a das bandas que dispensou ao fim da década de 1960.
Conhecido pela voz carregada de influência da soul music, Terry Reid nasceu em 13 de novembro de 1949, em Huntingdon, na Inglaterra, onde começou seu percurso pela música com apresentações em pequenas casas noturnas. Em 1966, sua sorte começou a mudar quando a banda da qual fazia parte na época, o The Jaywalkers, foi convidada para abrir os shows de uma turnê nacional dos Rolling Stones.
Indicado por Graham Nash, então membro do The Hollies, o grupo lançou um single de relativo sucesso, “The Hand Don’t Fit the Glove”, em 1967, antes de se separar. Foi a partir daí que começou a carreira solo de Terry, junto do organista Peter Solley e do baterista Keith Webb, com quem formou um trio.
O álbum “Bang Bang, You’re Terry Reid” foi lançado em 1968 e conquistou relativa notoriedade com o single “Better By Far”. Ainda naquele ano, o artista abriu shows do Cream e foi chamado para fazer outra turnê com os Rolling Stones, agora como um ato solo.
Foi nessa época que ele despertou o interesse de um sujeito chamado Jimmy Page, então guitarrista do The Yardbirds.
Os convites do Led Zeppelin e Deep Purple
Na época, Jimmy Page trabalhava em um grupo que chamava de The New Yardbirds, já que a banda original havia se separado. Como empresário, o guitarrista contava com o hoje célebre Peter Grant, que era sócio de Mickie Most, produtor do álbum solo de Terry Reid.
Nasceu, daí, a conexão entre Jimmy e Terry. Muito possivelmente, o guitarrista teve contato com o disco do cantor e se interessou pelo trabalho apresentado até ali.
A admiração foi convertida em convite: Page chamou Reid para integrar o tal The New Yardbirds, mas o cantor hesitou, devido aos compromissos de turnê com o Cream e os Rolling Stones. Ele chegou a sugerir que o guitarrista conversasse com Keith Richards, dos Stones, sobre como ficaria a turnê caso ele topasse.
No fim das contas, a conversa entre Jimmy Page e Keith Richards nunca aconteceu. E foi o próprio Terry Reid quem indicou, na sequência, um jovem vocalista para ocupar a vaga para a qual foi convidado: Robert Plant, da Band of Joy, que foi atração de abertura de alguns de seus shows. O projeto também contava com o baterista John Bonham, outro nome sugerido por Reid para se juntar ao The New Yardbirds.
O resto é história. Com a chegada do baixista John Paul Jones, que era um experiente músico de estúdio tal qual Page, o The New Yardbirds mudou de nome para Led Zeppelin.
Terry Reid ainda teria uma segunda chance de se juntar a uma grande banda, embora ele também não soubesse disso na época. Em 1969, Rod Evans deixou o Deep Purple, que precisava de um vocalista. Novamente, o convite partiu de um guitarrista: Ritchie Blackmore foi atrás de Reid ao tomar nota de seu bom trabalho. O cantor também disse “não” e a vaga caiu no colo de Ian Gillan.
O resto, de novo, é história. Com Gillan e o baixista Roger Glover, que ocupou o posto deixado por Nick Simper – também dissidente na época -, o Deep Purple viveu seus dias de glória.
Terry Reid se arrepende?
Não dá para culpar Terry Reid pelas recusas. Além de obviamente não saber que essas bandas se tornariam tão gigantes, o vocalista seguia por um caminho em sua carreira solo.
Cada vez mais próximo da soul music e de outros gêneros fora do rock, o cantor chegando a colaborar com artistas como Mick Taylor, Don Henley, Marianne Faithfull, Bonnie Raitt e Joe Perry, entre muitos outros – na maioria das vezes, como músico de estúdio. Lançou três álbuns na década de 1970, embora tenha desacelerado sua carreira a partir daí.
Até mesmo o Brasil faz parte da trajetória de Reid, pois na época dos convites do Zeppelin e do Purple, ele conheceu Gilberto Gil, uma de suas grandes influências em trabalhos subsequentes. Na época da ditadura militar, o britânico chegou a ajudar Gil e sua família a saírem do Brasil por meio de um amigo advogado.
O vocalista também teve contato direto com o mundo cinematográfico. Algumas de suas colaborações nesse nicho incluem filmes de Rob Zombie e gravações para a trilha sonora de “Dias de Trovão” (1990), com Tom Cruise.
Dentro do que se propôs, Terry Reid foi um artista de sucesso. O patamar conquistado pelas bandas após suas recusas é que transcende qualquer objetivo. Nem os próprios grupos devem entender o tamanho de seus legados.
Por outro lado, é claro que deve bater uma ponta de arrependimento em Reid quando para e pensa nesses convites recusados. É difícil até saber o que pensa de fato o vocalista, pois ele evita responder perguntas relacionadas a essas duas bandas – e nas raras ocasiões em que o faz, geralmente é com certo mau humor.
Uma das poucas declarações sobre o tema foi concedida em 2016, durante entrevista ao Observer. De forma breve, ele pontuou:
“É uma perda de tempo falar sobre isso. Eles foram realmente bem. Fim da história.”
* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição de Igor Miranda.
Nunca saberemos. Ambas as bandas poderiam ser medianas, com Terry nos vocais. Ou Zeppellin não seria o que foi sem Robert Plant nos vocais. De qualquer forma, obrigado Terry pelas indicações!!! No Deep Purple, Gillan saiu e a banda manteve o nível com David Coverdale, seria uma ótima oportunidade para Terry se redimir, se fosse lembrado.
O cara até canta bem, porém a ironia do destino é imprevisível. Como seria “Black Dog” do Led e “Child in Time” do Purple com a voz dele?
O cara é um músico de exelente qualidade que não fica pra trás dessas bandas. Elas tiveram a fama. Mais de repente ele quis fazer o trabalho dele sem ser muito popular. E na verdade Reid tem belas canções com arranjos fantásticos.
Baita história! Curto demais o som do Terry Reid. Conheci o trabalho dele por meio do filme “Rejeitados pelo Diabo”, do Rob Zombie.