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Como o Queen apostou alto em sua obra-prima “A Night at the Opera”

Raiva de ex-empresários, ambição e buraco financeiro motivaram concepção da obra que traz a clássica "Bohemian Rhapsody"

A carreira do Queen seguia a passos lentos na primeira metade da década de 70. Em seu terceiro álbum, “Sheer Heart Attack” (1974), eles até conseguiram emplacar o single “Killer Queen” como hit, mas o retorno financeiro não chegava, devido a problemas com empresários. Dessa briga, nasceria não só uma música, mas também um álbum: o clássico “A Night at the Opera” (1975).

Enquanto os voos artísticos da banda começavam a ficar mais altos, a situação financeira era cada vez pior. Os culpados pelo fracasso seriam os empresários Norman e Barry Sheffield, também donos do Trident Studios. Eles, que dirigiam carrões e regulavam a grana da banda a conta-gotas, foram demitidos com a ajuda de Don Arden, pai de Sharon Osbourne e já consagrado manager de bandas.

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Foi iniciado, assim, um período de buscas por um novo empresário. O baterista Roger Taylor, que compunha a formação ao lado de Freddie Mercury (voz), Brian May (guitarra) e John Deacon (baixo), resume:

“Logo antes de ‘A Night at the Opera’, estávamos passando por um período realmente difícil. Tínhamos lançado um álbum de muito sucesso, ‘Sheer Heart Attack’. Pensamos que era um bom disco, tinha ido muito bem. Tivemos um grande hit mundial com ‘Killer Queen’, mas estávamos quebrados – e queríamos saber o porquê.”

A chegada de John Reid

Para o lugar dos irmãos Sheffield – mais especificamente de Norman Sheffield, que assumia a função diretamente -, o Queen sondou pelo menos três grandes nomes do showbusiness britânico da época. O primeiro era Peter Rudge, que estava acompanhando a turnê dos Rolling Stones e acabou não sendo contatado. O segundo era o famoso Peter Grant, empresário do Led Zeppelin, que se interessou muito em trabalhar com o grupo, mas também estava atarefado.

Nesse período, Grant sugeriu que a banda assinasse com a Swan Song Records, selo criado recentemente pelo Zeppelin. Os músicos até toparam, mas tinham ressalvas, pois achavam que o empresário iria priorizar o grupo de Jimmy Page. Surgiu, aí, o terceiro e definitivo nome para cuidar da carreira deles: John Reid, que na época trabalhava para Elton John.

Do Trident, o Queen foi para a EMI, gravadora que ofereceu um contrato bem mais vantajoso. Para deixar o buraco financeiro no qual a banda havia se metido, a orientação do novo empresário foi simples e complexa ao mesmo tempo: o melhor disco dos caras até então deveria ser produzido naquele momento.

Não dá para negar: o conselho foi seguido à risca.

O ambicioso A Night at the Opera

A revolta com os irmãos Sheffield e o desejo de se tornar a maior banda do mundo foram utilizados como combustível para que o Queen criasse seu trabalho mais ambicioso até ali. Lançado em 21 de novembro de 1975, “A Night at the Opera” foi costurado de forma tão gigantesca que acabou se tornando o álbum mais caro feito na história da música até aquela época.

O orçamento para aquele disco era de 40 mil libras, o que hoje equivale a 338 mil libras – ou quase 2,5 milhões de reais – em valores atualizados. Em 4 meses, o grupo trabalhou em sete estúdios diferentes pelo Reino Unido junto do produtor Roy Thomas Baker, responsável pelos trabalhos anteriores.

Capa de “A Night at the Opera”, álbum do Queen

O profissional, inclusive, foi importante no processo ao ajudar o Queen a caminhar por terrenos pouco explorados. Além de novos instrumentos, Baker apresentou técnicas de produção diferentes nesse registro, dando forma às grandiosas ideias do quarteto que envolviam vocalizações distintas, enormes camadas de som e outros truques de estúdio.

A já mencionada vingança contra os Sheffield viria logo na abertura do disco, com “Death on Two Legs (Dedicated to…)”. A letra da música, escrita por Freddie Mercury, despeja tanto rancor que Brian May se sentia até mal por tocá-la ao vivo. A provocação acabou indo parar na justiça: Norman Sheffield processou a banda por difamação, em um caso que foi resolvido com um acordo fora dos tribunais.

Mas esta faixa está longe de ser o único destaque. Além da grandiosa “Bohemian Rhapsody”, que foi divulgada como single e é provavelmente a música mais famosa do Queen, o trabalho apresenta ótimos momentos como a viagem progressiva “The Prophet’s Song”, com seus mais de 8 minutos; “You’re My Best Friend”, composição de John Deacon que também saiu como single; e a balada “Love of My Life”, que ganhou vida própria nos shows, entre outras.

O Queen no alto escalão do rock

“A Night at the Opera” fez enorme sucesso e é considerado por muitos até hoje como o melhor álbum do Queen. É claro que a explosão da genial “Bohemian Rhapsody”, tocada a exaustão nas rádios, colaborou para que o disco vendesse bem – e a estratégia de lançá-la como single foi bem ousada para a época, já que a faixa foge dos padrões de uma canção comercial.

Foi a partir daqui que o Queen entrou para o alto escalão da época, com um reconhecimento merecido finalmente sendo alcançado. Todos os integrantes realizaram um bom trabalho nesse álbum e a extravagância sonora que marcaria muitos pontos altos na carreira do grupo chegava ao seu ápice.

Mas no fim das contas, “A Night at the Opera” também foi o resultado do esforço de uma banda que começava a sair dos trilhos, mas que felizmente colocou-se de volta. No livro “Queen: Complete Works”, de George Purvis, Brian May fez uma boa análise da situação na época do lançamento.

“Tínhamos confiança porque tínhamos um hit. Tínhamos quase que um desespero sobre nós também, porque estávamos totalmente falidos naquele ponto. Fizemos álbuns bem-sucedidos, mas não tivemos nenhum retorno financeiro. Se ‘A Night at the Opera’ não tivesse sido um grande sucesso, acho que teríamos desaparecido no oceano em algum lugar. Então fizemos esse disco sabendo que era vida ou morte. Cada um de nós, individualmente, queria alcançar nosso potencial enquanto compositores, produtores e tudo mais.”

Além das vendas satisfatórias na Europa, atingindo o primeiro lugar em vários países, o disco se saiu muito bem no Japão e até mesmo nos Estados Unidos, mercado quase nunca simpático ao som do quarteto.

A fórmula sonora seria tão bem-sucedida que a banda tentaria repeti-la no álbum seguinte, “A Day at the Races” (1976), mas sem o mesmo sucesso. Apesar desse ponto baixo, o futuro seria glorioso – e tudo começou de verdade em “A Night at the Opera”.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição de Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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