Como o instintivo Iggor Cavalera mudou a história da bateria no metal

Da escola clássica do thrash metal oitentista à percussão brasileira, o baterista fez história e criou uma sonoridade marcante

Em seus primeiros anos, o Sepultura era uma potência indomável. E muito disso vinha da visceral bateria de Iggor Cavalera, um dos grandes nomes da história do instrumento dentro do heavy metal.

O irmão do frontman Max Cavalera começou na escola de thrash metal dos anos 80 e, com o tempo, agregou elementos típicos de ritmos brasileiros e até da música nativa. Uma contribuição gigantesca para que o Sepultura criasse uma identidade sonora tão forte, que persiste até hoje, mesmo após a saída dos irmãos.

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Nascido em 4 de setembro de 1970, em Belo Horizonte, Iggor começou a tocar bateria ainda criança – sozinho, pois não curtiu pegar aulas, conforme revelado pelo próprio em entrevista ao Music Radar.

“A bateria foi a minha primeira verdadeira paixão, junto do futebol, desde quando tinha 6 ou 7 anos. Tentei fazer algumas aulas de bateria e odiei. Era muito parecido com a escola: muita teoria. Eu só queria tocar bateria, então, desisti das aulas após algumas semanas. Comecei a tocar sozinho em casa para gravar, foi assim que aprendi.”

Referências e méritos de Iggor Cavalera

Em termos de influências, Iggor Cavalera sempre citou grandes nomes do som pesado. Nomes como Dave Lombardo (Slayer, Suicidal Tendencies) e Bill Ward (Black Sabbath) são frequentemente mencionados como suas principais referências na bateria.

De Ward, em especial, ele parece ter herdado uma característica peculiar: a famosa “mão pesada”, que chegou a ser citada em entrevistas por Scott Burns, que produziu o Sepultura no álbum “Beneath the Remains” (1989).

A música brasileira, claro, também corria naturalmente nas veias de Iggor, de acordo com o próprio, também em entrevista ao Music Radar.

“A influência do samba era natural, de quando comecei. Na minha carreira, fui vendo onde poderia incorporar esses ritmos latinos, e o samba, na minha forma de tocar. Daí, as batidas afro-brasileiras começaram a se encaixar mais.”

No entanto, dá para dizer que é a partir de 1993, com o lançamento de “Chaos A.D.”, que o Sepultura passou a adotar de vez as influências musicais brasileiras em seu som. E tudo isso começa pela bateria.

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Músicas como “Refuse/Resist” e “Territory” contam com introduções marcantes, ajudando ainda mais a colocar o nome de Iggor Cavalera como influência para bateristas mais novos e até contemporâneos. Ao Music Radar, ele fala especificamente sobre “Chaos A.D.”:

“A maior mudança no ‘Chaos A.D.’ foi o fato de que eu estava disposto a experimentar mais. Lembro de trazer para o estúdio um monte de peças de percussão diferentes que não havíamos testado antes. O produtor Andy Wallace disse: ‘traga a bateria com a qual você se sente confortável, não vamos tentar complicar’. Mesmo no ‘Arise’ e nos álbuns anteriores, eu tentava 30 armadilhas para ver o que soava certo e no final eu sempre voltava para o um que eu estava acostumado.”

Em “Roots” (1996), isso foi ainda mais longe, a ponto de o Sepultura passar um tempo em uma tribo indígena Xavante para entender ainda mais as origens da sonoridade nativa brasileira. Essa pegada nunca deixou de ser explorada pela banda, ainda que Iggor tenha deixado a formação em 2006.

Em entrevista ao canal de YouTube “The New York Hardcore Chronicles”, transcrita pelo Blabbermouth, ele definiu “Roots” como um trabalho “necessário” para a banda naquele momento.

“Estávamos fazendo experimentos com um monte de coisas e lembro que tive uma conversa com Max onde sentimos que não havia como ir mais fundo em nossas raízes do que fazer algo com as tribos brasileiras. Isso nos inspirou ao longo de todo o disco.

Foi uma grande inspiração em como eles (os indígenas) estavam lá antes de qualquer outro – e eles já estavam fazendo música. Então, a conexão mais profunda que poderíamos ter encontrado, em minha opinião, eram os nativos do Brasil. E ter a chance de gravar com eles foi incrível, uma loucura.

Na época, pessoas como Dave Grohl e Moby estavam prestando atenção no que fazíamos. Há pessoas que acham que não é o nosso melhor disco, mas ‘Roots’ foi um disco necessário para a época, onde forçamos os limites da música. A partir dali, influenciamos muitas bandas a buscarem suas raízes. Até bandas de black metal norueguês começaram a fazer coisas com as raízes deles. Foi um grande passo na direção certa de quebrar barreiras e ter pessoas de mente mais aberta.”

Embora o Sepultura não seja uma banda de nu metal, a sonoridade dos caras influenciou todo o movimento em questão. Outras correntes de som pesado que destacam mais o groove também carregam muito da pegada do grupo brasileiro. Muito disso, claro, vem da pegada do influente baterista.

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Todas as possibilidades

Um traço do estilo de Iggor Cavalera é a grande variedade de setups que ele usou em sua bateria ao longo dos anos. Ao Music Radar, ele chegou a citar um episódio onde um produtor teve dificuldades em montar seu kit de bateria devido ao grande número de referências que encontrava na internet, em fotos de vários anos.

“Outro dia, o produtor estava montando minha bateria no estúdio para o álbum do Cavalera (Conspiracy, banda onde toca ao lado de Max) e ele procurou no Google por fotos da minha bateria e ele estava tão confuso. Ele estava tipo: ‘cara, tem um milhão de jeitos que você já montou sua bateria!’”

Em seus últimos anos de Sepultura, Iggor adotou um setup um pouco mais minimalista, especialmente em relação aos pratos.

Para outros trabalhos, como o Cavalera Conspiracy e até com o Mixhell, de música eletrônica, ele continua experimentando bastante. Ao mesmo tempo, criou uma identidade sonora tão forte ao longo dos anos que torna impossível não reconhecer sua batida logo de cara.

Como o próprio diz:

“Eu sempre digo aos jovens bateristas que não existe um jeito certo ou errado de tocar. Para mim, esse foi o melhor jeito.”

* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta, redação complementar e edição geral por Igor Miranda; redação e apuração adicional por André Luiz Fernandes.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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