O sucesso conquistado pelo Pearl Jam com seu álbum de estreia, “Ten”, foi avassalador. E com justiça, já que estamos falando de um grande disco de rock.
Lançado em 27 de agosto de 1991, o disco, curiosamente, demorou um tempo para embalar nas vendas. Quando engrenou, foi um verdadeiro estouro – não à toa, teve mais de 13 milhões de cópias comercializadas somente nos Estados Unidos.
Um sucesso que, aparentemente, foi renegado e “boicotado” pela própria banda, em prol de sua estabilidade e saúde mental. Por incrível que pareça, lutar contra a superexposição foi o que garantiu que o grupo continuasse na ativa até os dias de hoje.
Nasce o Pearl Jam
O Pearl Jam foi formado das cinzas do Mother Love Bone, outra banda do que viria a ser chamado de movimento grunge. O grupo em questão se desfez em 1990, após a morte do vocalista Andrew Wood, que, aos 24 anos, sofreu uma overdose fatal de heroína.
O baixista Jeff Ament e o guitarrista Stone Gossard, do Mother Love Bone, se juntaram ao guitarrista Mike McCready para ensaios. Rolou química e o trio apostou em Eddie Vedder como vocalista e Dave Krusen como baterista, após gravarem uma demo com Matt Cameron, então do Soundgarden (e futuro baterista do Pearl Jam), provisoriamente na formação.
Vedder, em especial, foi um achado e tanto para a banda. O vocalista trabalhava como caixa de uma posto de gasolina quando foi descoberto pelos colegas, através do baterista Jack Irons (ex-Red Hot Chili Peppers, que também tocaria com o Pearl Jam anos depois).
Depois de produzirem um álbum em tributo a Andrew Wood, no projeto Temple of the Dog, os músicos do Pearl Jam concentraram suas forças em seu disco de estreia. “Alive”, que se tornaria um grande hit da banda, foi uma das primeiras composições a surgirem daquela nova união.
As gravações do que se tornaria “Ten” rolaram em um período de aproximadamente um mês, entre março e abril de 1991, em um estúdio de Seattle, terra natal do Pearl Jam. Logo após tocar no disco, Dave Krusen abandonou o posto de baterista do grupo, devido a problemas pessoais causados pelo abuso de drogas. O músico foi substituído por Dave Abbruzzese.
Ten é grunge?
É difícil classificar “Ten” como um álbum tipicamente grunge. Os elementos estão ali e a banda participava do movimento, nascido em sua própria cidade, mas a sonoridade se inclina bem mais para o hard rock de pegada clássica. Os integrantes eram ligados em sons alternativos, mas também adoravam Kiss, AC/DC, Led Zeppelin e outros nomes mais “convencionais” do rock.
Tudo isso se mesclou em um álbum de sonoridade única. A pegada clássica se moldou às letras reflexivas do grupo, que explorou temas pessoais e sociais em suas composições. Depressão, suicídio, assassinato e problemas relacionados a pessoas em situação de rua foram alguns dos assuntos evidenciados nos versos entoados por Eddie Vedder.
Hoje em dia, curiosamente, os músicos do Pearl Jam não gostam de como “Ten” soa nesse sentido. Para eles, o álbum foi mixado de uma forma que o faz ter uma pegada “classic rock demais”, especialmente pelo uso de efeitos, como delay e reverb.
Isso chegou a render críticas, na época, de outro ícone grunge: Kurt Cobain, líder do Nirvana que reprovava quem, segundo ele, aproveitava-se do estouro do movimento para “virar a casaca”.
Em entrevista à Flipside, em 1992, Cobain declarou:
“Tenho sentimentos muito fortes com relação ao Pearl Jam, ao Alice in Chains e a bandas assim. Obviamente, (essas bandas) são só fantoches corporativos que estão tentando entrar para o movimento alternativo – e nós estamos sendo agrupados nessa mesma categoria.
Eles estiveram na cena do hard rock de spray de cabelo / cock-rock. De repente, eles param de lavar o cabelo e começam a usar camisas de flanela. Não faz sentido para mim. Há bandas saindo de Los Angeles para morar em Seattle e falando que moraram em Seattle a vida toda para conseguir contratos com gravadoras. Isso me ofende.”
O disco chegou a ser relançado em uma versão remixada, chamada “Ten Redux”, em 2009. Com nova produção de Brendan O’Brien’, o projeto teve a proposta de, justamente, suprimir os efeitos e deixar a pegada um pouco mais visceral.
Em entrevista ao podcast Cobras & Fire, o engenheiro de áudio Dave Hillis, que trabalhou no álbum sob a batuta do produtor Rick Parashar, declarou:
“A forma como Tim Palmer mixou o álbum foi o que o fez se sair tão bem nas rádios da época. Mas sei que Jeff não gostava desse som ‘carregado’, sei que Eddie também não curtia. Ed estava cada vez mais seguindo para o lado punk das coisas. Eu meio que vi como eles haviam se arrependido e que eles viram a direção que tomariam para os próximos álbuns.”
O sucesso – e a repulsa
Talvez por unir todos esses elementos de uma vez só, “Ten” demorou a estourar. Os singles de “Alive” e “Even Flow” repercutiram bem em países da Europa e até na Austrália, mas os Estados Unidos ainda não se convenceram da banda.
Coube ao mega-hit “Jeremy“, que aborda uma história real de suicídio em uma escola americana, fazer com que o Pearl Jam estourasse. O videoclipe de cenas fortes, com direção de Mark Pellington, ajudou a catapular o grupo ao estrelato.
A fama, curiosamente, não atraiu aquele conjunto de músicos da relativamente pacata Seattle. Eddie Vedder, em especial, sentiu-se tão pressionado com a perseguição midiática causada pela popularidade da banda que sugeriu aos colegas que, no auge do estrelato, reduzissem o ritmo de entrevistas e produção de videoclipes.
Em entrevista ao Let There Be Talk, Stone Gossard comentou:
“Acho que para Ed, foi uma experiência completamente diferente em termos psicológicos. Ele não era capaz de andar por aí sem que as pessoas viessem até ele e tudo o mais. Foi uma grande mudança para ele.”
A situação gerou controvérsia fora e até dentro do grupo. Mike McCready, por exemplo, opôs-se à ideia, mas foi voto vencido. A gravadora, Epic, insistiu para que a música “Black” fosse lançada como single e ganhasse um videoclipe, todavia, os músicos não quiseram – e bateram o pé.
McCready, em entrevista à Classic Rock, relembrou:
“Lembro de não querer recuar, dizendo: ‘isso é o que queríamos desde garotos, vamos continuar, fazer vídeos, abraçar isso’. Mas eles não queriam, diziam: ‘não, precisamos tomar essa atitude, pois tudo vai desmoronar se não a tomarmos’. E acho que eles estavam certos.
Sinto que ainda estamos aí hoje em dia, talvez, por causa daquela primeira decisão de tentar fazer da nossa forma. Tomamos muitas outras decisões que iam contra o que a gravadora queria que fizéssemos. Tivemos sorte, mas foi nossa decisão: recuar, nós cinco contra um.”
A mecânica de dar poucas entrevistas e não lançar videoclipes foi mantida, inclusive, em lançamentos posteriores – ainda que a agenda de shows tenha sido mantida intacta, pois garantia o contato direto entre músicos e fãs.
Há quem diga que o álbum seguinte a “Ten”, o também multiplatinado “Vs.” (1993), não tenha repetido o mesmo sucesso de seu antecessor em função desse “autoboicote de divulgação”. Será?
Se for… e daí? O êxito comercial conquistado até ali já era mais que o suficiente para consagrar o Pearl Jam como uma das grandes bandas daquele momento – um título que se estendeu e os consolidou como um dos grandes nomes da história do rock como um todo.
Com o passar dos anos, o quinteto de Seattle produziu vários bons álbuns. Mudou sua sonoridade diversas vezes e mostrou que não consegue ficar parado no tempo. Contudo, “Ten” ainda tem um espaço reservado no coração dos fãs. É, para muitos, o melhor álbum do Pearl Jam.
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Esse disco na época, na mão do Butch Vig com a produção do Nevermind, seria mais fantástico ainda.
Pra mim Tem é melhor disco do Pearl Jam e um dos melhores discos já produzidos na história.
Lembro que foi um CD que comprei de um colega no ensino médio, que era chamado de “segundo grau”. Foi quando comecei a abrir os ouvidos para coisas mais novas e parei de escutar somente os clássicos como Led Zeppelin, The Who e Black Sabbath. Gostava muito mais de Pearl Jam do que Nirvana e foi por meio do Ten que tive acesso a outras bandas grunge como Alice in Chains e Soundgarden. Outra que marcou a época foi Stone Temple Pilots. Mais tarde até o Metallica foi influenciado e acabou produzindo os muito criticados Load e Reload, que pra mim são ótimos, embora soem como outra banda totalmente diferente, uma banda grunge com influência metal.
O Ten foi um disco de uma banda na flor da idade, com todos os hormônios a flor da pele, com muita energia. A banda amadureceu com o amadurecimento do Eddie e dos demais, e acabou ficando bem mais “sossegada”. Muita coisa boa surgiu, mas Ten é único, como se fosse uma banda a parte.
Muito bom! Amo PJ e Ten é um dos melhores álbuns de todos os tempos
Bons tempos desse disco em termos de tudo…saudades dos anos 90!!!! até a MTV prestava!!!! valeu!!!!