A estreia de Lauryn Hill em carreira solo, no ano de 1998, rendeu um dos álbuns mais incríveis da década de 90. “The Miseducation of Lauryn Hill”, lançado no dia 25 de agosto daquele ano, convenceu e surpreendeu ao trazer a artista ex-Fugees mesclando hip hop, neo soul, R&B, reggae e até elementos progressivos.
O trabalho foi um sucesso absoluto. Hoje, “The Miseducation of Lauryn Hill” registra mais de 20 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, sendo que metade desse número foi conquistado somente nos Estados Unidos. Tornou-se o disco mais vendido de uma artista mulher em toda a história do hip hop.
O reconhecimento também veio de segmentos especializados, incluindo 5 prêmios Grammy em 1999, em categorias como Álbum do Ano e Artista Revelação.
Seria o início de uma carreira prolífica e de enorme sucesso? Por incrível que pareça, não.
Após “The Miseducation of Lauryn Hill”
Até os dias de hoje, “The Miseducation of Lauryn Hill” segue como o único álbum de estúdio lançado por Lauryn Hill, que impôs a si própria um exílio do mundo das celebridades após sentir que havia perdido o controle de tudo.
Em entrevista à Essence, em 2009, a artista comentou:
“As pessoas precisam entender que a Lauryn Hill que conheceram no início era tudo o que era permitido na época. Tive que me afastar quando percebi que, pelo bem da máquina, eu estava sendo muito comprometida. Eu me sentia desconfortável por ter que sorrir na cara de alguém quando eu realmente não gostava da pessoa, ou mesmo não a conhecia bem o suficiente para gostar dela.
Por 2 ou 3 anos, fiquei longe de toda interação social. Foi um momento muito introspectivo, porque tive que enfrentar meus medos e dominar todos os pensamentos demoníacos sobre inferioridade, sobre a insegurança ou o medo de ser negra, jovem e talentosa nesta cultura ocidental.”
Lauryn chegou a gravar um disco acústico, grávida, para a MTV: “MTV Unplugged No. 2.0”, que foi registrado em 2001 e lançado em 2002. O trabalho conta com faixas inéditas, mas não é um álbum de estúdio propriamente dito. Além disso, o material dividiu opiniões e há quem diga que a artista não estivesse bem naquela época.
Por que sem outros álbuns?
Em meio a hiatos, Lauryn Hill deu sequência à sua carreira, especialmente com shows. Mas por que nunca mais lançou um álbum de estúdio após “The Miseducation of Lauryn Hill”? Em entrevista ao podcast 500 Greatest Albuns, da Rolling Stone, com transcrição da People, a artista contou que, simplesmente, nunca teve apoio da gravadora, Columbia, para um novo projeto do tipo.
“A coisa estranha é que ninguém do meu selo nunca me ligou e perguntou ‘como podemos ajudá-la a fazer outro álbum?’ Nunca… nunca. Eu disse ‘nunca’? Nunca.”
A cantora alega que era perseguida e tinha sua criatividade podada na gravadora, o que levou à sua saída.
Por outro lado, ela tem total noção do impacto causado pelo álbum e o porquê de ele ser considerado relevante até hoje. Também acha que não mudou sua forma de fazer música desde então.
“Eu desafiei as normas e introduzi um novo padrão. Acho que ‘The Miseducation of Lauryn Hill’ fez isso e acredito que eu ainda faço isso. Desafiar a convenção quando a convenção é questionável.”
Contradição?
Uma reportagem publicada também pela Rolling Stone, mas em 2003, indica que a Columbia investiu cerca de US$ 2,5 milhões naquela época para que Lauryn Hill gravasse um novo álbum. A imagem deixada por ela após o show para a MTV não era tão boa, mas os executivos estariam confiantes de que ela conseguiria entregar um novo trabalho tão bom quanto “The Miseducation of Lauryn Hill”.
O investimento feito pela Columbia consistiu, basicamente, na construção de um estúdio dentro da casa de Lauryn. A ideia era deixá-la mais confortável para gravar.
O novo disco, porém, nunca chegou. Houve novas tentativas para que ela gravasse material inédito em 2007 e 2013, pelo menos. Sem sucesso.
Talvez isso faça de “The Miseducation of Lauryn Hill” um álbum ainda mais especial na história da música. É o retrato único da genialidade da cantora em estúdio durante sua carreira solo.
* Texto produzido com colaboração de André Luiz Fernandes.