O Cinderella lançou seu álbum de estreia, “Night Songs”, em 1986. O sucesso era inevitável: a banda americana fazia um som hard rock bem alinhado aos padrões da época, apresentando músicas que se tornariam hit, com destaque a “Nobody’s Fool”.
O que poucos sabem é que o grupo capitaneado pelo vocalista e guitarrista Tom Keifer percorreu uma longa estrada até estourar para o sucesso. Mudanças de formação e tentativas para todos os lados, incluindo um impagável comercial de cachorro-quente, fizeram parte da rotina dos caras nesse período.
Embora “Night Songs” tenha saído em 1986, o Cinderella é bem mais antigo. A banda foi formada em 1982, quando Tom Keifer e o baixista Eric Brittingham se juntaram, no subúrbio da Filadélfia, para montar uma banda. Completavam a formação o baterista Tony Destra e o guitarrista Michael Schermick.
O início, as mudanças e os hot dogs
O começo do Cinderella foi tão difícil quanto o da maioria das bandas naquela época. O grupo mal tinha um lugar para ensaiar e tinha de usar, geralmente, o espaço no sótão da sede da Legião Americana, organização de apoio a veteranos de guerra.
Já naquele momento, o objetivo era bem óbvio e claro naquele momento: chegar à MTV, emissora que revolucionou a cultura americana (e mundial) na década de 80.
A oportunidade de aparecer no canal de TV não demorou a chegar, mas não foi da forma que os integrantes imaginavam. Após enviarem um videoclipe para a emissora e serem ignorados, os músicos receberam de outra empresa, a Pat’s Chili Dogs, em 1983, a inusitada proposta de gravar um comercial de cachorro-quente.
O próprio Tom Keifer relembrou o momento em entrevista ao Loudwire, em 2014, com transcrição do Dangerous Minds.
“Um empresário local, que era dono de um local de cachorro-quente, nos pediu para cantar em um comercial. Ele nos viu em um clube e gostou de nós. Ele disse: ‘vocês faria um comercial de rock ‘n’ roll para o meu estabelecimento?’. E falou: ‘vamos comprar horários de comercial local na MTV’. Aí, a luz acendeu, ficamos: ‘bem, vamos estar na MTV então!’ (risos) Era apenas localmente, mas era o que tínhamos, então dissemos: ‘claro, vamos fazer’. E ainda ganhamos cachorro-quente grátis.”
O comercial, claro, não fez com que a banda estourasse. A situação ficou um pouco mais complicada quando, em 1985, Destra e Schermick saíram do grupo para formar o Britny Fox, outro nome de destaque daquela época.
Por outro lado, a sorte de Keifer e Brittingham mudou logo em seguida, com o encontro de dois nomes famosos do hard rock que ficaram de olho na banda.
Gene Simmons ou Jon Bon Jovi?
Em alguns lugares, há a informação de que o Cinderella foi descoberto por Jon Bon Jovi. Todavia, Tom Keifer revelou anos depois uma história diferente: segundo ele, o primeiro grande nome a ter interesse na banda foi Gene Simmons.
O baixista e vocalista do Kiss teria tentado um contrato para a banda com a gravadora PolyGram, mas acabou não dando certo. É só depois disso que o frontman do Bon Jovi entrou na história. O frontman do Bon Jovi viu o Cinderella tocando na Filadélfia e alertou o executivo Derek Shulman, do mesmo selo, de que havia, ali, uma banda promissora.
O contrato inicial era só de 6 meses e tinha como objetivo apenas profissionalizar a banda, sem garantia de um álbum. Felizmente, isso evoluiu para um acordo para gravar um disco, que seria lançado pela Mercury / PolyGram.
Finalmente, “Night Songs”
O Cinderella, então, recrutou como integrantes oficiais o guitarrista Jeff LaBar e o baterista Jim Drnec. A vaga das baquetas passaria por mais algumas reformulações, mas agora, quase 5 anos depois do início de suas atividades, a banda tinha uma estrutura mais ou menos ajustada para gravar um disco.
Com a ajuda do compositor Barry Benedetta e do baterista Jody Cortez, o grupo finalmente entrou em estúdio para conceber o que seria o álbum de estreia, “Night Songs”. O resultado não poderia ter sido melhor.
Apesar da produção abafada de Andy Johns comprometer alguns detalhes do instrumental, “Night Songs” se sobressai por seu repertório. A climática faixa título, as arena-rockers “Shake Me” e “Somebody Save Me”, a balada “Nobody’s Fool” e a bem construída “Nothin’ For Nothin'” são alguns dos destaques por aqui.
No embalo dos singles “Nobody’s Fool”, “Shake Me” e “Somebody Save Me”, o disco vendeu mais de 3 milhões de cópias e alcançou, já em 1987, o 3º lugar nas paradas dos Estados Unidos. Chegou em um ponto onde 50 mil unidades do trabalho eram comercializadas por semana no país.
Os anos seguintes do Cinderella
O futuro próximo do Cinderella seria ainda mais promissor, já que o álbum seguinte, “Long Cold Winter” (1988), não só repetiu, como amplificou, o sucesso do anterior. Foi, ainda, o trabalho que deu início a uma mudança na sonoridade da banda, que incluiu mais influências do blues, country e rock clássico em suas composições.
Infelizmente, com a queda de popularidade do hard rock e problemas internos frequentes, o quarteto liderado por Tom Keifer não vivenciou o sucesso por tanto tempo. O terceiro álbum, “Heartbreak Station” (1990), obteve boas vendas, mas não repetiu o êxito dos anteriores. O quarto e último, “Still Climbing” (1994), passou completamente despercebido.
Em meio a tudo isso, no ano de 1991, Tom Keifer sofreu paralisia nas cordas vocais, além de ter desenvolvido um cisto na região. Passou por inúmeras cirurgias até corrigir o problema e, apesar de ainda se manter na ativa, não canta mais como antes.
A partir daí, a banda passou por momentos de instabilidade, com hiatos prolongados e retomadas apenas para turnês breves pelos Estados Unidos, Com a morte de Jeff LaBar, já em 2021, o Cinderella nunca mais deve voltar às atividades.
* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta, argumentação base e edição geral por Igor Miranda; redação, argumentação complementar e apuração adicional por André Luiz Fernandes.
talvez a melhor banda daquela era, mais profunda e sólida nas raízes mais relevantes da musica americana, tendo o musico mais completo daquela geração, tom keifer, mais uma criminalmente subestimada sendo hoje jogada na vala comum do nojento e preconceituoso termo “hair metal”, termo esse bem a cara da nojenta preconceituosa “antenada” e elitista “rolling stone magazine” que, junto a alguns outros meios de comunicação dessa estirpe, ajudou a destruir aquela cena, juntamente com os erros e exageros dela claro, mas, passados alguns anos, reconheceu em reviews mais recentes, a qualidade de muitos dos discos lançados no período