No final na década de 1990, muitas coisas estavam de cabeça para baixo no mundo do Iron Maiden. A banda tentava seguir com o vocalista Blaze Bayley, na vaga deixada por Bruce Dickinson, mas parecia faltar algo. A carreira solo de Dickinson, embora bem recebida pelos fãs, também não decolou a ponto de chegar ao patamar do Maiden.
Embora não houvesse uma briga propriamente dita entre Bruce e o baixista e líder do Iron Maiden, Steve Harris, uma reunião não era vista como algo provável. As coisas começaram a mudar entre 1998 e 1999, quando uma volta de Dickinson começou a se desenhar, com o vocalista ainda trazendo junto o guitarrista Adrian Smith, com quem tocava em sua banda solo.
Em um artigo publicado originalmente em 1999, ano da reunião, na revista BW&BK, o cantor da era clássica do Iron Maiden deu suas impressões de como as conversas para que seu retorno – ao lado do guitarrista Adrian Smith, que o acompanhava na carreira solo – aconteceram. Tudo foi mediado pelo empresário da banda, Rod Smallwood, em sua casa.
“Nos reunimos na cada de Rod, que ficava em Brighton, costa sul da Inglaterra. Eu já vinha ‘trombando’ socialmente com os caras da banda nos último 6 anos, de qualquer forma. Janick (Gers, guitarrista) e eu sempre fomos grandes amigos, mas nenhum de nós nunca falou sobre uma reunião, porque pensávamos que estava fora dos limites, basicamente. Eles tinham a carreira deles e estavam bem, eu tinha minha carreira e estava muito feliz com ela.”
Bruce Dickinson
O que despertou a possibilidade de Bruce Dickinson retornar foi uma já planejada saída de Blaze Bayley.
“Em algum ponto, obviamente, eles tomaram a decisão de que Blaze ia, você sabe, sair, e eu não sei nada sobre isso ou as circunstâncias disso. Nem quero saber – não é da minha conta. Rod me ligou e disse: ‘como você se sente sobre uma reunião?’. Eu falei: ‘bem, vamos nos encontrar e falar sobre isso’. Sempre indiquei que fazer uma reunião da banda seria incrível e que seria legal produzir algo que fosse além dos compromissos relacionados a gravar álbuns, ver como trabalhamos juntos e coisas assim.”
Bruce Dickinson
O vocalista ficou surpreso com o empenho da equipe do Maiden em transformar aquela reunião em algo a mais. Não seriam apenas shows, mas, sim, uma grande produção que levaria a um álbum, “Brave New World”, lançado em 2000.
“Quando nos encontramos, fiquei surpreso com a disposição das pessoas que poderiam ir até o inferno para obter um grande produtor, chegar a uma grande sonoridade e colocar o Maiden de novo como a melhor banda de heavy metal do mundo.”
Bruce Dickinson
Por outro lado, ele reconhece que sua carreira solo não “estourou” da forma como esperado. Na época, o cantor ainda cogitava fazer mais trabalhos solo, o que não aconteceu – desde seu retorno ao Maiden, apenas um álbum, “Tyranny of Souls” (2005), foi lançado.
“É assim que as coisas são, infelizmente. Acho que se eu continuasse trabalhando por mais 5 anos, poderia ter construído uma espécie de circuito de teatros para shows. Mas eu ainda posso fazer álbuns solo interessantes e fazer turnês com a maior banda de heavy metal do mundo. Nossa formação está completa – está até mais completa, pois ficou um pouco maior, com três guitarristas. Temos a chance de fazer algo diferente, pois não lembro de outra banda com três guitarristas.”
Bruce Dickinson
Iron Maiden como sexteto
Junto com o retorno de Bruce Dickinson, ficou acertado que Adrian Smith também voltaria para o Iron Maiden. A situação poderia ter colocado em cheque a permanência de Janick Gers na banda, mas não foi o que aconteceu.
Smith saiu do grupo ainda em 1990, dando lugar a Gers, que havia tocado no primeiro disco solo de Dickinson, “Tattooed Millionaire” (1990). O Maiden enfrentava problemas com Blaze, mas não com Janick, então, a demissão do guitarrista não foi cogitada.
Dessa forma, a banda passou a se apresentar como sexteto pela primeira vez em sua história. Eram três guitarristas: Adrian, Janick e Dave Murray.
Em entrevista mais recente à Classic Rock Magazine, o baterista Nicko McBrain disse que Janick Gers chegou a colocar seu cargo à disposição para o retorno de Adrian Smith.
“Quando me falaram sobre a possibilidade, eu estava em um bar no Japão com Rod e Janick. Rod contou que Adrian e Bruce estavam voltando e pediu a minha opinião. Eu disse: ‘não acho que seja uma boa ideia’. Janick falou: ‘Somos uma banda de dois guitarristas. Três guitarras? Eu não entendo. Vou sair fora.’”
Nicko McBrain
O próprio Adran Smith acreditava que não daria certo ter três guitarristas no Iron Maiden, conforme revelou em entrevista também recente ao Talk is Jericho.
“Eu pensava em fazer só um show ou uma turnê. Achava que nunca aceitaria isso, mas as coisas mudam. Steve tem essas ideias que você pensa que não vão funcionar, como ter três guitarristas, mas funcionou e a personalidade ajudou. Se tivéssemos três Yngwie Malmsteen ou três Ritchie Blackmore, sairia fogo após 5 minutos. Dave é um dos meus amigos mais antigos, trabalhamos juntos por anos. Janick é um cara amável. E Janick não mudaria o que ele toca, então, eu mudei meu jeito de tocar.”
Adrian Smith
Admirável Maiden Novo
Agora com seis integrantes, o Iron Maiden marcaria a reunião com uma turnê em 1999, a “Ed Hunter Tour”, que divulgava um game lançado pela banda. Ao fim da excursão, a reunião evoluiu para um novo álbum, que acabou se tornando “Brave New World”.
Em entrevista à rádio RockFM, em 2019 transcrita pelo Blabbermouth, Bruce Dickinson refletiu sobre o caminho que a reunião tomou após a primeira turnê com os seis integrantes. O vocalista se mostrou satisfeito com o primeiro esforço conjunto, que rendeu o ao vivo “Rock in Rio” (2002), gravado em uma apresentação histórica da banda na terceira edição do festival.
“Tudo o que eu precisava saber é que não iríamos voltar para uma espécie de ‘reunião’. Eu não queria voltar ao passado. Deveria ser uma banda para olhar adiante, para o futuro – fazer um ótimo novo álbum e reiniciar todo o ímpeto e direção da banda. Steve disse que era aquilo que ele queria e eu disse: ‘ok, vamos fazer isso’. E, claro, o primeiro álbum que lançamos após isso foi ‘Brave New World’ – acho que é um dos melhores álbuns que o Maiden já fez até hoje.”
Bruce Dickinson
* Texto desenvolvido em parceria por Igor Miranda e André Luiz Fernandes. Pauta, edição geral e argumentação-base por Igor Miranda; redação geral e apuração adicional por André Luiz Fernandes.
lembro de estar escutando a Rádio Cult 22 de Brasília e ali foi anunciado a volta de Bruce nos vocais…foi alegria total!!!! Naquela época a internet ainda estava engatinhando aos poucos em termos de velocidade e não existia o youtube, lembro!!!! Estava jogando muito fliperama e playstation na casa de amigos…tantas e boas lembranças da época antes do Brave New World ser lançado!!!! bons tempos!!!! valeu