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10 curiosidades sobre Brave New World, o álbum dos retornos do Iron Maiden

Em 29 de maio de 2000, o Iron Maiden lançava seu 12° álbum de estúdio, ‘Brave New World’. O trabalho tinha um sabor especial, pois marcava a volta do vocalista Bruce Dickinson e do guitarrista Adrian Smith, fora da formação desde 1993 e 1990, respectivamente.

Bruce, claro, ocupou a vaga de Blaze Bayley, mas a chegada de Adrian não comprometeu a presença de Janick Gers, seu substituto desde então. Pela primeira vez, o Iron Maiden gravou e fez turnê como um sexteto oficial.

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‘Brave New World’ segue aclamado, por uma série de razões, como um dos melhores álbuns do Iron Maiden. A lista a seguir cita 10 curiosidades sobre o contexto em que o disco foi concebido e divulgado, o que pode explicar, também, por que se trata de um trabalho tão adorado.

1) A saída de Blaze Bayley

Blaze Bayley foi demitido do Iron Maiden em janeiro de 1999. As razões eram claras, mas nunca foram esclarecidas, se é que você, caro leitor, me entende.

– Leia opinião: E se Blaze Bayley tivesse ficado para mais um disco com o Iron Maiden?

Todos sabemos que Blaze foi convidado a deixar o Maiden por não ter se adaptado ao estilo vocal que a banda exigia. Inclusive, chama atenção que o cantor, de estilo um pouco diferente, tenha sido contratado e tenha sofrido cobrança para soar como Bruce Dickinson – até porque, nos shows, as músicas sequer foram rearranjadas para acomodar melhor seu timbre, mais grave.

Vale destacar que Janick Gers reconhece, em entrevista ao Talking Metal Radio Pirate, que o Iron Maiden não facilitou a vida de Blaze Bayley nos palcos. A performance do cantor sofreu um declínio considerável na turnê do “Virtual XI”, em 1998, mas Gers destaca que a banda insistiu em tocar as músicas em tonalidade original, mesmo que aquilo custasse até mesmo a saúde vocal de Blaze.

2) As voltas de Bruce e Adrian – e o ‘fico’ de Janick

Com a saída de Blaze Bayley, o campo estava aberto para a volta de Bruce Dickinson, que foi convidado para conversar com o empresário Rod Smallwood e o baixista Steve Harris, os chefes do Iron Maiden. Na época, Bruce estava trabalhando com Adrian Smith e, claro, o guitarrista também foi convidado a voltar.

Curiosamente, isso não representou risco para Janick Gers. O guitarrista foi convidado a permanecer e formar um trio do instrumento com Adrian Smith e Dave Murray.

Em recente entrevista à Classic Rock Magazine, o baterista Nicko McBrain disse que Janick chegou a colocar seu cargo à disposição para o retorno de Adrian. “Quando me falaram sobre a possibilidade, eu estava em um bar no Japão com Rod e Janick. Rod contou que Adrian e Bruce estavam voltando e pediu a minha opinião. Eu disse: ‘não acho que seja uma boa ideia’. Janick falou: ‘Somos uma banda de dois guitarristas. Três guitarras? Eu não entendo. Vou sair fora’”, contou.

Apesar da reação de Gers, a intenção era contar com a presença dele na banda. “Rod disse: ‘você não vai a lugar nenhum, meu caro’. Olhei para Rod e perguntei: ‘por falar nisso, você vai reduzir a sua comissão?’. Ele perguntou sobre o que diabos eu estava falando. Eu respondi: ‘agora temos seis membros que devem ser pagos’’ Ele só olhou para mim e resmungou: ‘p*rra, típico baterista’”, afirmou McBrain.

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Adrian Smith era outro que achava que não daria certo ter três guitarristas no Iron Maiden, conforme revelou em entrevista recente ao Talk is Jericho. “Eu pensava em fazer só um show ou uma turnê. Achava que nunca aceitaria isso, mas as coisas mudam. Steve tem essas ideias que você pensa que não vão funcionar, como ter três guitarristas, mas funcionou e a personalidade ajudou. Se tivéssemos três Yngwie Malmsteen ou três Ritchie Blackmore, sairia fogo após 5 minutos. Dave é um dos meus amigos mais antigos, trabalhamos juntos por anos. Janick é um cara amável. E Janick não mudaria o que ele toca, então, eu mudei meu jeito de tocar”, disse.

3) Bruce Dickinson voltaria para o Samson

Antes do convite para voltar ao Iron Maiden, Bruce Dickinson desenhava um retorno, ainda que não em tempo integral, para o Samson. Tudo começou quando, em meados de 1998, o vocalista começou a trabalhar com sua então gravadora, a Air Raid Records, para relançar trabalhos da banda que integrou antes do próprio Maiden.

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Retomando o contato com os ex-colegas, Bruce sentiu vontade de fazer alguns shows esporádicos com o Samson, com direito à formação clássica: Paul Samson na guitarra, Chris Aylmer no baixo e Thunderstick na bateria. Porém, com o retorno de Dickinson ao Iron Maiden, os planos não deram certo.

Os demais músicos do Samson aproveitaram que estavam juntos novamente para trabalhar. Então, chamaram o vocalista Nicky Moore, sucessor de Bruce Dickinson na banda ainda na década de 1980, e voltaram a fazer shows. Paul Samson acabou por falecer em 2002, de câncer, e qualquer chance de Dickinson se apresentar junto com o antigo colega foi descartada para sempre.

4) O convite

Por mais que o clima entre Steve Harris e Bruce Dickinson não tenha sido bom desde o rompimento, eles não tinham, ao certo, uma razão propriamente dita para ficarem brigados. Afinal, Dickinson saiu do Iron Maiden porque desejava fazer alguns experimentos musicais que a banda não aceitava. Não houve uma treta e nada caiu no campo pessoal.

Considerando isso, a reconciliação foi bem mais fácil do que o esperado. Rod Smallwood convenceu Harris a chamar Dickinson de volta logo quando Blaze Bayley foi demitido. O baixista queria um vocalista 100% novo, mas a ideia de retomar a parceria com Bruce não era nada mal. Tanto o Maiden quanto o cantor estavam fazendo turnês em locais bem modestos, sem a repercussão dos anos 1980 ou início dos 1990.

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Não demorou muito até que todos se acertassem e retomassem as atividades: em junho de 1999, teve início a turnê “The Ed Hunter Tour”, que marcou as voltas de Bruce e Adrian Smith. Foram 28 shows, até outubro de 1999. Em seguida, o trabalho em torno do novo álbum de estúdio teria início.

5) Capa, arte e ‘conceito’ de Brave New World

Tanto a capa quanto o título ‘Brave New World’ fazem menção ao romance de mesmo título, de autoria de Aldous Huxley e lançado em 1932. No Brasil, a obra é intitulada ‘Admirável Mundo Novo’.

Um clássico da distopia literária, o livro ‘Brave New World’ se passa em Londres no ano 2540, ou 632 DF (depois de Ford). Conceitos que vão de tecnologia de reprodução a manipulação psicológica foram antecipados na obra, o que a torna histórica por muitas razões.

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Essa ideia, de certa forma, inspirou a composição de algumas letras do álbum ‘Brave New World’. Porém, não se trata de um disco conceitual.

Vale destacar que a capa desse álbum foi a última a ter colaboração de Derek Riggs, autor de diversas artes lendárias do Maiden. Ele criou a parte superior da imagem, com o semblante do mascote Eddie formando uma nuvem, enquanto a cidade futurista é de Steve Stone.

6) Legado da era Blaze

Há quem repudie os trabalhos do Iron Maiden com Blaze Bayley, mas é inegável que a sonoridade inicialmente desenvolvida em ‘The X Factor’ (1995) e ‘Virtual XI’ encontrou continuidade em ‘Brave New World’. A banda seguiu apostando em uma pegada mais progressiva, com elementos de orquestra sendo usados vez ou outra, ainda que músicas como ‘The Wicker Man’ apresentem um resgate mais evidente da pegada heavy oitentista do grupo.

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O legado deixado pela “era Blaze” vai além da influência. Adrian Smith diz que as músicas ‘The Nomad’, ‘The Mercenary’ e ‘Dream of Mirrors’ foram compostas, originalmente, para ‘Virtual XI’. A última canção mencionada, inclusive, teria contribuições de Bayley para a letra que acabaram sem os devidos créditos a ele.

7) Evolução

Bruce Dickinson estipulou uma espécie de “condição” para voltar a trabalhar em período integral com o Iron Maiden, sem mexer mais com sua carreira solo: ele queria uma evolução da banda. Por isso, a pegada mais progressiva foi bem aceita pelo cantor, mesmo que ainda trouxesse referências ao trabalho feito com Blaze Bayley.

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Bruce, aliás, já mostrou ser fã dos discos gravados com Blaze. Não à toa, chegou a cantar algumas músicas da fase com seu antecessor em shows, como ‘Sign of the Cross’ e ‘The Clansman’.

A principal ruptura com o passado veio com o uso de um novo produtor, Kevin Shirley (Silverchair, Journey, Aerosmith, Dream Theater), para gravar ‘Brave New World’. Shirley acabou mantido em todos os trabalhos posteriores da banda.

Dickinson também fez questão que outros integrantes fossem mais participativos no processo de composição. Steve Harris ainda assina praticamente todas as músicas do álbum, mas quase sempre com, pelo menos, um co-autor. Apenas uma faixa, ‘Blood Brothers’, foi concebida inteiramente pelo baixista – uma grande diferença em comparação às quatro que ele assinou solitariamente em ‘Virtual XI’.

8) Plágio?

Em 2017, o músico Brian Quinn acusou o Iron Maiden de plágio por duas músicas: ‘Hallowed Be Thy Name’, clássico lançado em 1982, e ‘The Nomad’, presente em ‘Brave New World’. Ele alegou que o Maiden utilizou trechos de uma composição dele, intitulada ‘Life’s Shadow’ (por vezes, creditada como ‘Lying In My Shadow’) e lançada pela banda Beckett, em ambas as canções.

‘The Nomad’ não chegou a virar um grande hit do Iron Maiden, mas ‘Hallowed Be Thy Name’ é tocada em, praticamente, todos os shows da banda. Na época da acusação, o Maiden teve que retirar a clássica canção dos shows da turnê ‘The Book of Souls Tour’ até que tudo fosse resolvido.

Embora ninguém tenha se manifestado sobre o assunto publicamente, tudo indica que o caso foi resolvido extrajudicialmente, com um acordo financeiro. ‘Hallowed…’ voltou a ser tocada nos shows. Ambas as faixas seguem creditadas a membros do Maiden, sem menção a Quinn.

9) Sucesso

Os retornos de Bruce Dickinson e Adrian Smith renderam bons frutos ao Iron Maiden. Além de voltar a tocar em grandes arenas, a banda conseguiu bater marcas expressivas de vendas com ‘Brave New World’.

O álbum conquistou disco de ouro em, pelo menos, seis países: Reino Unido, Suécia, Alemanha, Finlândia, Canadá e… Brasil. Por aqui, há uma boa explicação: a banda fez um show histórico no festival Rock in Rio, em janeiro de 2001, o que colaborou nas vendas. Mesmo nos Estados Unidos, onde o Maiden não é uma potência em popularidade, estima-se que o trabalho tenha vendido mais de 300 mil cópias em seus 8 primeiros anos no mercado.

Em alguns países, como Suécia e Finlândia, o Iron Maiden não tinha um bom desempenho comercial desde o início da década de 1990, ou seja, com trabalhos ainda lançados com Bruce Dickinson. Já em outros, ‘Brave New World’ superou os números conquistados com os discos feitos com Blaze Bayley, mas não conseguiu superar ‘Fear of the Dark’ (1992), por exemplo. Reflexos de uma indústria musical que já lidava com o compartilhamento gratuito de músicas pela internet.

10) Turnê, Rock in Rio e… Jimmy Page?

Como dito anteriormente, o Iron Maiden veio ao Brasil para tocar no festival Rock in Rio, em 2001. Foi o último show da turnê que promoveu ‘Brave New World’ – e o maior.

Estima-se que 250 mil pessoas estiveram na Cidade do Rock para assistir ao Iron Maiden, que entregou uma performance enérgica. Mais um capítulo do casamento bem-sucedido entre a banda e os brasileiros.

Ciente de que aquele seria um momento único na carreira, o Maiden gravou um álbum e DVD ao vivo naquela noite de 19 de janeiro de 2001. Intitulado apenas ‘Rock in Rio’, o registro é visto como um dos melhores momentos da carreira da banda nos palcos.

Um fato curioso é que o guitarrista Jimmy Page, do Led Zeppelin, esteve no Brasil não só para conferir o show, como participar dele. Ele chegou a marcar presença na coletiva de imprensa antes da apresentação, só que ele acabou não tocando. Ninguém sabe o motivo.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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