Joe Bonamassa se supera ao ‘soar britânico’ no álbum ‘Royal Tea’; ouça e leia resenha

Guitarrista trouxe o blues rock do Reino Unido como temática e não escondeu, em entrevistas, que quis "soar britânico"

O guitarrista Joe Bonamassa lançou um novo álbum solo nesta sexta-feira (23). Intitulado ‘Royal Tea‘, o disco é o 14° de sua carreira solo e sai pro meio da J&R Adventures, com distribuição da Provogue / Mascot Label Group.

‘Royal Tea’ traz, ao todo, 10 faixas que foram gravadas no lendário Abbey Road Studios, em Londres, na Inglaterra. Joe Bonamassa, que é americano, disse que se inspirou em seus ídolos britânicos, como John Mayall, Jeff Beck, Eric Clapton, Led Zeppelin e Cream, para desenvolver este trabalho.

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Para conceber o álbum, Bonamassa convidou músicos que fizeram parte da construção deste cenário do blues rock britânico, como o guitarrista Bernie Marsden, ex-Whitesnake, e Pete Brown, ex-letrista do Cream, além do pianista Jools Holland. Todos eles ajudaram em composições ou mesmo em performance, no caso de Holland.

A banda de apoio, por sua vez, traz Anton Fig (bateria), Michael Rhodes (baixo) e Reese Wynans (teclados). A produção é assinada por Kevin Shirley.

Ouça ‘Royal Tea’ abaixo, via Spotify ou YouTube (playlist). Confira resenha a seguir.

Joe Bonamassa soa britânico (e incrível) em ‘Royal Tea’

Parece redundante dizer que Joe Bonamassa lançou, novamente, um de seus melhores trabalhos, mas é difícil não ter essa sensação ao ouvir ‘Royal Tea’. Curiosamente, ele obteve essa conquista enquanto tentava manipular um pouco sua essência.

Em entrevistas, o guitarrista tem dito que fez seu novo álbum buscando soar britânico. A ideia surgiu ainda em 2018, quando ele colaborou com o álbum-tributo ‘Acoustic Cream’, junto de Bernie Marsden e Pete Brown.

Na ocasião, o músico gravou ‘Sunshine of Your Love’ com o baterista original, Ginger Baker, que nos deixou em 2019. “Ele é do mesmo jeito que falam por aí”, brincou Joe, em entrevista ao site ‘Cleveland’, sobre o mau-humor do agora saudoso Baker.

Fato é que a relação com Marsden e Brown se estreitou naquele período e Bonamassa decidiu gravar um álbum que resgatava suas influências do blues rock britânico, especialmente aquele produzido na década de 1960. O guitarrista também diz em entrevistas que, ao longo de toda a sua carreira, várias pessoas pensam que ele veio do Reino Unido – onde fez sucesso primeiro -, e não dos Estados Unidos.

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‘Royal Tea’ foi composto durante as cinco semanas em que Joe Bonamassa esteve hospedado em Londres, na metade de 2019. Bernie Marsden e ele criavam as melodias, enquanto Pete Brown trazia as letras. As gravações aconteceriam em seguida, mas Anton Fig quebrou o tornozelo. Por sorte, o guitarrista optou por adiar as gravações para janeiro deste ano em vez de substituir Fig – que é um gigante baterista.

Sente-se uma energia quase inexplicável em boa parte deste álbum. Soa diferente dos outros – e, no geral, excelentes – trabalhos de Bonamassa. Além da banda de apoio muito bem montada, as colaborações de Marsden e Brown trouxeram elementos que, em essência, o guitarrista só ouviu falar. Afinal, ele, que nasceu em 1977, nem sequer viveu a artisticamente prolífica década de 1960.

Logo na primeira música, ‘When One Door Opens‘, a química flui. A canção, de ares melancólicos, surpreende pelo bom trabalho vocal em sua primeira etapa e pelos contornos épicos adquiridos a partir de sua segunda metade, com mudanças de andamento bem inseridas. A faixa-título ‘Royal Tea‘, em seguida, aposta em um formato mais tradicional, de 12-bar blues, com um timbre de guitarra irresistível.

Why Does It Take So Long To Say Goodbye‘ retoma a melancolia da faixa de abertura e remete muito a Gary Moore, um dos maiores ídolos de Bonamassa. ‘Lookout Man!‘, por sua vez, é ainda mais climática, já que adota uma pegada mais dark e até pesada. Além do groove diferenciado, o solo de gaita também caiu bem.

A veia típica do “British blues” volta a ser explorada em ‘High Class Girl‘, onde os teclados de Reese Wynans aparecem com destaque. ‘A Conversation With Alice‘, com maior influência da música americana, tem um astral envolvente. A letra, autobiográfica, aborda as sessões de terapia que teve com uma profissional identificada aqui como Alice. A melhor coisa que ele já fez, segundo a própria composição.

I Didn’t Think She Would Do It‘ também deixa o terreno do blues rock britânico para dialogar com uma de suas evoluções: o hard rock da década de 1970. A pegada acelerada e até cavalgada remete, de forma quase imediata, a UFO e Wishbone Ash. O freio de mão é devidamente puxado em ‘Beyond The Silence‘, talvez a mais lenta do álbum. Remete a diversos momentos do disco anterior de Joe, ‘Redemption’, e surpreende pelo instrumental de extrema classe, com direito a momentos de brilho de Jools Holland no piano.

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A divertida ‘Lonely Boy‘ encaminha a audição ao fim com uma pegada rock and roll retrô, quase rockabilly. Além dos sopros bem introduzidos, a faixa chama atenção por trazer Bonamassa em, talvez, um de seus momentos mais confortáveis e precisos no vocal. A balada ‘Savannah‘ fecha o álbum com uma gostosa influência country/southern, que, evidentemente, traz o guitarrista de volta aos Estados Unidos.

Os pontos positivos de ‘Royal Tea’ são incontáveis. As colaborações externas fizeram a diferença, não só do trio mencionado (Marsden, Brown e Hooland), como, também, das backing vocals que aparecem em diversos momentos. Joe Bonamassa soa cada vez mais à vontade no front e a banda montada por ele é do tipo que “toca de terno”, tamanha a classe.

Nota-se, inclusive, que há um trabalho conjunto entre músicos e produção. Kevin Shirley conseguiu extrair timbres fantásticos de todos, desde as várias guitarras de Bonamassa à bateria de Anton Fig, que soa grandiosa sem abdicar do som típico do instrumento.

Em uma discografia marcada por tantos pontos altos, é difícil garantir em qual ponto ‘Royal Tea’ se posicionaria, mas imagino que não seja exagero de minha parte ao apontar esse álbum como um dos melhores da carreira de Joe Bonamassa, seja solo ou em seus diversos projetos. Ou seja: o mérito aqui conquistado é muito grande.

‘Royal Tea’ está representado em minha playlist de lançamentos, atualizada semanalmente. Siga e dê o play:

Joe Bonamassa – ‘Royal Tea’

1. When One Door Opens
2. Royal Tea
3. Why Does It Take So Long To Say Goodbye
4. Lookout Man!
5. High Class Girl
6. A Conversation With Alice
7. I Didn’t Think She Would Do it
8. Beyond The Silence
9. Lonely Boy
10. Savannah

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

1 COMENTÁRIO

  1. Dia 27/01/2021, 01:09h da manhã. Acabo de escutar o álbum, e a única coisa a dizer dele nesse momento é : que fod***!!!!!!

    Incrível todas as músicas, pra quem é fã de blues britânico é um deleite aos ouvidos. A performance do Joe Bonamassa é incontestável, desde a guitarra até a voz. Estou eufórico de tanta música boa e tantas notas perfeitamente encaixadas.

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