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BBM: quando o Cream “voltou” com Gary Moore no lugar de Eric Clapton

O Cream fez história em menos de três anos de carreira. Tornou-se uma das bandas mais aclamadas do efervescente rock psicodélico da década de 60 e foi um dos pioneiros do heavy metal.

Desde que o Cream encerrou suas atividades, no fim da década de 60, não se falou em reunião. Cada músico foi para o próprio canto. O destino não foi generoso com todos: o guitarrista Eric Clapton virou uma grande estrela, enquanto o baixista Jack Bruce e o baterista Ginger Baker não conseguiram alçar o mesmo nível de popularidade dos tempos de trio.

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Em 1993, surgiu a oportunidade para o Cream se reunir: a indução ao Rock And Roll Hall Of Fame. O trio tocou junto durante a cerimônia e uma turnê era discutida, mas a ideia foi abandonada por Clapton. Fala-se que o guitarrista propôs que o grupo saísse em turnê sob a alcunha “Eric Clapton & Cream”, o que gerou discordância entre ele e os demais integrantes.

Ainda em 1993, no mês de novembro, Jack Bruce celebrou seu 50° aniversário com dois shows comemorativos na Alemanha e convidou, entre outros músicos, Gary Moore para tocar com ele. O resultado foi tão envolvente que Bruce convidou Moore para um projeto com Ginger Baker, que, na verdade, seria a reunião do Cream – só que sem Eric Clapton.

(No vídeo acima, Jack Bruce e Gary Moore com o baterista Gary Husband, em 1993)

O resultado

Foram necessários apenas seis meses para que o trio se formasse, se entrosasse e lançasse, sob a alcunha BBM (Bruce-Baker-Moore), o disco “Around The Next Dream”, em 1994. Como era possível que um trabalho tão fantástico fosse feito em tão pouco tempo?

“Talento” e “experiência” respondem à questão. Gary Moore, o maior “novato” dali, estava na ativa como músico profissional desde o início da década de 1970. Além de sua carreira solo, integrou o Skid Row (não o de Sebastian Bach) e o Thin Lizzy. Jack Bruce e Ginger Baker dispensam apresentações: são doutores em blues rock.

“Around The Next Dream” é um disco fantástico. Uma pena que seja o único lançado pelo trio. Suas dez faixas apresentam um blues rock de cozinha incrível, vozes bem colocadas e a guitarra de timbres gordos de Gary Moore, além de um repertório de ótimo gosto, composto por oito faixas autorais e duas duas canções eternizadas por Albert King, “High Cost Of Loving” e “I Wonder Why (Are You So Mean To Me)”.

As comparações com o Cream são inevitáveis. E, em alguns momentos, o BBM realmente soa como o antológico trio da década de 60. Em outros, soa mais tradicional, aliado a uma pegada bluesy menos efervescente do que aquela praticada por Jack Bruce e Ginger Baker no passado. Apostou-se em progressões melódicas menos inesperadas e até em leves camas de teclados no background de determinadas canções.

Faixas como “Waiting In The Wings” e “City Of Gold” têm o “padrão Cream” de excelência. Por outro lado, houve espaço para inventividade em momentos como a balada “Where In The World”, a groovy “Glory Days” e a arrastada “Naked Flame”, que aliam as digitais de Gary Moore à cozinha classuda que apenas Jack Bruce e Ginger Baker poderiam proporcionar.

Os problemas

Com três nomes de peso juntos após tantas décadas de experiência, o ego, em algum momento, falaria mais alto. Foi o que aconteceu. Entretanto, aconteceu de forma tão rápida que mal deu tempo do BBM fazer uma curta turnê pela Europa.

O encrenqueiro Ginger Baker não se deu bem com o metódico Gary Moore. O baterista também se estranhou com Jack Bruce, que, supostamente, o tratava como “músico de estúdio”, mas os verdadeiros conflitos partiram de Baker e Moore.

“Ao contrário do Cream, tudo com Gary Moore era artificial. Todo solo que ele tocou era o mesmo. E eu gosto de improviso. Sem o meu conhecimento, eles fizeram um ensaio na Brixton Academy e quando cheguei, ouvi a guitarra de Gary Moore do outro lado da rua. Tocamos perfeitamente. No dia seguinte, o empresário dele me disse que ele havia estourado seus ouvidos novamente e eles o levaram para o médico. Eu disse: ‘Por que vocês não o levam a um maldito psiquiatra?'”, disse Baker, à Classic Rock.

O baterista relatou, ainda, que shows foram cancelados graças aos efeitos causados pelos valorosos decibéis e até por uma ocasião em que Gary Moore feriu o dedo com uma lata. “Foi uma época terrível, tocando com o Topetudo Mimado do Pop. Um show foi cancelado quando ele (Gary Moore) cortou seu dedo abrindo uma maldita lata. Eric (Clapton) teria colocado um curativo e tocado. Ah, não… não o Gary”, afirmou.

Paralelo a isto, “Around The Next Dream” não fez o sucesso esperado. Chegou ao Top 10 das paradas do Reino Unido, mas nada além disto. Também pudera: o trabalho de divulgação se restringiu a apenas uma porção de shows em festivais. Ginger Baker reconhece, também, que o público não deu o crédito necessário a Gary Moore, tão comparado com Eric Clapton neste trabalho.

O Cream, com Clapton, reuniu-se em maio de 2005 para uma série de shows em Londres. Já o BBM nunca voltou a tocar junto. Gary Moore morreu em 2011, aos 58 anos, vítima de um ataque cardíaco, enquanto Jack Bruce faleceu em outubro de 2014, aos 71, com problemas no fígado.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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