O álbum mais vendido da história da música é ‘Thriller’, de Michael Jackson. Lançado em 30 de novembro de 1982, o trabalho revolucionou o pop em vários sentidos, inclusive em questões que vão além da música, como os passos de dança inovadores e o debate sobre a questão racial no segmento. Quando se fala de som, claro, ‘Thriller’ se destaca – e, curiosamente, vários músicos da banda Toto contribuíram para tal.
Musicalmente, ‘Thriller’ chama atenção por incorporar uma série de elementos de outros gêneros ao pop. O caldeirão de influências reuniu elementos que foram do R&B e rock ao funk. Houve, ainda, um grande êxito em não insistir na fórmula da disco music, que estava em baixa no período e já havia sido explorada por Michael Jackson em ‘Off the Wall’.
Um clássico do tamanho de ‘Thriller’ não pode ser feito a duas mãos. Além da genialidade intrínseca de Michael enquanto cantor, compositor e showman como um todo – sim, a divulgação com clipes e shows também faz parte de um álbum como esse -, outros talentos da música colaboraram para chegar ao resultado final. Desse cenário, o nome de maior destaque é o de Quincy Jones, não só por seu trabalho como produtor, como, também, por escalar os músicos certos para o projeto.
Um dos grandes acertos de Jones foi convocar uma série de músicos do Toto para trabalhar no álbum. A banda já estava fazendo muito sucesso naquele período, especialmente com o álbum ‘Toto IV’, lançado em abril de 1982 – mês em que ‘Thriller’ começou a ser gravado. Mesmo assim, eles seguiram trabalhando como “músicos de sessão”, que são contratados para tocar apenas em estúdio. Jones já os conhecia de outros tempos e fez o convite.
Os principais membros do Toto desempenhavam esse trabalho em estúdio: o guitarrista Steve Lukather, os tecladistas David Paich e Steve Porcaro e o baterista Jeff Porcaro. Os quatro acabaram envolvidos em ‘Thriller’, de formas diferentes, mas igualmente importantes.
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Em recente entrevista ao canal Professor of Rock, no YouTube, Steve Lukather e David Paich relembraram que o primeiro trabalho feito para ‘Thriller’ foi a música ‘The Girl is Mine’, um dueto de Michael Jackson com Paul McCartney. Paich se recorda que chegou a ter conselhos de George Martin, lendário produtor dos Beatles, ao trabalhar na canção.
“O dia em que fomos gravar essa música foi fenomenal. É um dos dias em que você sente que algo grande está acontecendo. Estava tocando com Paul McCartney e Michael Jackson, os dois maiores artistas da música pop naquele momento. Começamos a tocar músicas de Stevie Wonder e havia uma energia muito legal. Paul e Linda McCartney foram incríveis. Paul chegou a me chamar Jeff e eu para trabalhar com ele depois disso”, afirma Lukather.
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Abaixo, a nível de curiosidade, um registro de Michael cantando ‘Superstition’, de Stevie Wonder, ainda nos tempos de Jackson 5:
O Toto em ‘Thriller’, de Michael Jackson
Após ‘The Girl is Mine’, os músicos do Toto partiram para outras colaborações no álbum. Veja, abaixo, as contribuições musicais de cada integrante da banda a ‘Thriller’:
Steve Lukather
‘The Girl is Mine’: guitarra;
‘Beat It’: guitarra (exceto solo) e baixo;
‘Human Nature’: guitarra e concepção dos arranjos.
David Paich
‘Baby Be Mine’: sintetizadores;
‘The Girl is Mine’: piano e concepção dos arranjos rítmicos;
‘Human Nature’ sintetizadores e arranjos;
‘The Lady in My Life’: sintetizadores.
Steve Porcaro
‘Baby Be Mine’: programação de sintetizadores;
‘The Girl is Mine’: programação de sintetizadores;
‘Beat It’: sintetizadores e programação de sintetizadores;
‘Human Nature’: sintetizadores, programação de sintetizadores, arranjos musicais e co-autoria;
‘The Lady in My Life’: sintetizadores.
Jeff Porcaro
‘The Girl is Mine’: bateria;
‘Beat It’: bateria;
‘Human Nature’: bateria;
‘The Lady in My Life’: bateria.
É importante observar que as únicas músicas em que os quatro integrantes do Toto estão tocando juntos no álbum são ‘The Girl is Mine’ e ‘Human Nature’. Esta última é a que conta com mais participação dos caras, já que Steve Porcaro é co-autor da composição e tanto Steve Lukather quanto David Paich ajudaram com arranjos.
Steve Porcaro, inclusive, foi o criador da primeira versão de ‘Human Nature’, cuja letra foi inspirada em uma situação vivenciada pela filha dele: a menina foi empurrada para fora de um escorregador por um garoto. Steve tinha três teorias: o menino gostava dela, as pessoas podem ser estranhas ou essa é apenas a “natureza humana”.
A demo foi produzida quando o Toto estava mixando a música ‘Africa’. Por algum motivo, a canção nem entrou em ‘Toto IV’, mas encontrou lugar em ‘Thriller’. Depois que a canção foi apresentada a Michael Jackson, o letrista John Bettis fez colaborações.
Quincy Jones relembrou de ‘Human Nature’ em uma antiga entrevista transcrita pelo Now Toronto. “De repente, no fim da música, tem todo aquele silêncio, só com: ‘why, why, dah dah da-dum dah dah, why, why’. Um trecho de letra bobo, quase um esqueleto, mas eu fico arrepiado só de falar. Foi quando eu disse: ‘esse é o caminho que devemos seguir, pois tem um sabor incrível'”, afirmou.
Há de se destacar, ainda, a participação de três dos quatro músicos do Toto em ‘Beat It’. Eddie Van Halen sempre leva os créditos pela música, mas, na verdade, ele só gravou o solo do meio da canção. Steve Lukather é responsável por todo o restante das guitarras, incluindo o clássico riff, e o baixo. Jeff Porcaro assumiu a bateria e Steve Porcaro cuidou dos sintetizadores. Apesar de David Paich não ter tocado nessa faixa, foi o mais próximo do Toto – e do rock – naquele disco, pois houve liberdade para trabalhar na canção, inicialmente concebida por Rod Temperton.
Em entrevista também resgatada pelo Now Toronto, Steve Lukather comenta que Eddie Van Halen gravou o solo na parte errada de ‘Beat It’. “Quincy Jones e Michael levaram uma versão bem inicial para Eddie Van Halen, pois queriam que ele fizesse o solo. Porém, ele tocou em uma parte onde tinham mais mudanças de acordes. Para encaixar o solo onde deveria, os engenheiros de som precisaram fazer cortes na fita, o que levou muito tempo para sincronizar devidamente”, disse.
Alguns músicos do Toto também participaram de ‘Baby Be Mine’ e ‘The Lady in My Life’, duas composições de Rod Temperton que entraram no álbum. Ou seja: mais da metade do disco contou com participações dos caras.
O próprio Toto fez história com seus álbuns, inclusive naquele período. Porém, não há dúvidas de que ‘Thriller’ acabou se tornando a principal obra dos quatro integrantes envolvidos.
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