Led Zeppelin II, o álbum que construiu e consolidou a banda que conhecemos

Segundo álbum da banda foi lançado em 22 de outubro de 1969, menos de um ano após a estreia

Nem o sujeito mais ambicioso da história dá início a um projeto, seja dentro ou fora da música, com o pensamento de que ainda será comentado 50 anos depois. Parece impossível pensar que o Led Zeppelin não tenha planejado todo o sucesso que conquistou, mas, realmente, não dava para prever que a banda soaria tão imponente meio século após seus primeiros trabalhos.

Uma combinação de fatores alçou o Led Zeppelin ao seleto rol de ícones eternos da música. Alguns deles se encontraram em “Led Zeppelin II”, segundo álbum da banda, que foi lançado em 22 de outubro de 1969.

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A história da formação já foi contada por aqui quando escrevi sobre o primeiro disco, homônimo, divulgado em 12 de janeiro de 1969 – ou seja, menos de um ano do sucessor. A banda, sob liderança do guitarrista Jimmy Page, foi montada quase que às pressas no segundo semestre de 1968 para cumprir datas de seu grupo anterior, The Yardbirds. A tour foi feita e o disco se trancou no estúdio, logo após, para conceber seu primeiro registro com apenas 36 horas de gravação e mixagem.

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O sucesso veio e, com ele, a cobrança por um novo álbum, pois, sim, naquela época, discos rendiam bastante dinheiro para artistas e gravadoras. Porém, já não havia tanta pressa, então os músicos gastaram alguns meses (abril a agosto de 1969) para concluir seu próximo registro. Foram utilizados mais de 10 estúdios entre Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, já que as gravações (e composições) eram feitas durante a turnê que promovia “Led Zeppelin I”.

Apesar do processo fragmentado em que “Led Zeppelin II” foi concebido, foi a primeira ocasião em que o Led Zeppelin funcionou de fato como banda em estúdio. O vocalista Robert Plant teve seus primeiros créditos autorais (já que, no primeiro, um contrato anterior com a CBS o impedia de colaborar) e tanto o baixista John Paul Jones quanto o baterista John Bonham puderam ajudar mais na criação. Também pudera: com as músicas sendo criadas na estrada, em meio a jams e passagens de som, o resultado acabaria sendo mais coletivo – e espontâneo.

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Tudo isso fez com que “Led Zeppelin II” se tornasse o álbum que, realmente, construiu a identidade do Led Zeppelin. A mistura entre rock, blues (especialmente o chamado Delta blues) e psicodelia, com elementos folk aparecendo de forma tímida, resultaram na “roupagem” que consagraria a banda em definitivo. “II” ainda se beneficia por ser um dos registros mais pesados do grupo, pelo uso mais reforçado de guitarras e menor presença de instrumentos alternativos por parte de John Paul Jones, como teclados e outros mais que ele se habituou a acrescentar nos álbuns seguintes.

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A paulada “Whole Lotta Love” abre o disco em um misto soberbo de rock, blues e psicodelia, com direito a uma cópia descarada da letra de “You Need Love” (Willie Dixon). Os riffs de guitarra, acompanhados pelo baixo, são avassaladores e a passagem “viajada” ao meio, com sons que vão de orgasmo feminino a explosão de bombas, soa como um grande diferencial. Na sequência, a volátil “What Is And What Should Never Be” se assemelha mais com o primeiro álbum do Led Zeppelin, pelas variações entre momentos calmos e pesados. Os recursos de estúdio nesta faixa são incríveis: a mixagem estéreo tenta reproduzir, entre as guitarras e os vocais, uma “bad trip” de ácido.

“The Lemon Song” é um blues rock carismático, com um show a parte do genial Jimmy Page, enquanto que “Thank You”, composição de Page com Robert Plant, oferece um pouco de doçura à tracklist. Entre as músicas mais lentas da carreira da banda, esta é uma das melhores, por sua essência aconchegante e estética que é copiada, até hoje, pelas “power ballads” do rock.

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“Heartbreaker” coloca um pé no acelerador e outro na distorção. Jimmy Page não nega, em declarações posteriores, que fez a música como uma tentativa de “exibir-se” na guitarra. Não à toa, o grande destaque da música é a performance de Page, seja com os riffs ou solos. Em seguida, a injustiçada “Living Loving Maid (She’s Just A Woman)” chama atenção: apesar de sua gostosa levada classic rock e atenção dada como lado B do single de “Whole Lotta Love”, a faixa nunca foi tocada ao vivo pela banda. Page já declarou, inúmeras vezes, que essa é a canção que ele menos gosta de todo o catálogo do Zeppelin.

“Ramble On”, altamente folk, é influenciada pelo livro “O Senhor Dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien. O estilo da composição dá o tom dos próximos álbuns do Led Zeppelin. John Bonham brilha nessa faixa, seja pela criatividade na bateria ou pela introdução criada batucando um case de guitarra e uma lixeira (!), mas o verdadeiro “show” do lendário percussionista está na próxima: a instrumental “Moby Dick”. Após ser iniciada com riffs incríveis de John Paul Jones e Jimmy Page, Bonzo dispara um solo de bateria durante a gravação – algo raramente visto naquela época.

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O encerramento fica por conta da readaptação de “Bring It On Home”, composta por Willie Dixon e popularizada por Sonny Boy Williamson II. Apenas a introdução e algumas outras nuances remetem à canção original. A maioria das modificações foi realizada por Jimmy Page e Robert Plant. Um desfecho apoteótico para um álbum indispensável para qualquer fã de rock.

“Led Zeppelin II” fez ainda mais sucesso que o primeiro álbum, com 3 milhões de cópias vendidas nos Estados Unidos em 6 meses. Pouco mais de um mês após o lançamento, o disco chegou ao topo das paradas do país em questão, desbancando “Abbey Road” (1969), dos imponentes Beatles. Em 1999, estimava-se que “II” tivesse vendido mais de 12 milhões de cópias apenas na “terra do Tio Sam”.

O sucesso se reproduziu, também, no Reino Unido. E com um fato curioso nenhum single foi lançado para promover o álbum no país, somente nos Estados Unidos. A estratégia tinha o intuito de fazer o público britânico comprar o disco, sem “espalhar” as vendas para o compacto de divulgação.

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O Led Zeppelin fez trabalhos mais inovadores e arrojados do que “Led Zeppelin II”, mas, talvez, a influência e a importância não tenham sido a mesma deste. “II” consolidou não só uma banda em ascensão, como definiu uma geração inteira que se inspirou nesses caras – em especial, neste álbum – para criar rock. O impacto foi tão grande que, 50 anos depois, ainda o definimos como um dos melhores discos da história do estilo.

Robert Plant (vocal, gaita)
Jimmy Page (guitarra, violão)
John Paul Jones (baixo, órgão, teclados)
John Bonham (bateria, tímpano, percussão)

01. Whole Lotta Love
02. What Is And What Shoud Never Be
03. The Lemon Song
04. Thank You
05. Heartbreaker
06. Living Loving Maid (She’s Just A Woman)
07. Ramble On
08. Moby Dick
09. Bring It On Home

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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