Antes de “Family Tree”, seu sexto álbum de estúdio, o Black Stone Cherry era o tipo de banda que sempre batia na trave. Dava para perceber o talento do quarteto americano, da cidade de Edmonton (Kentucky), mas pré-concepções dentro das cabeças de seus integrantes faziam com que os discos soassem muito cansativos.
O grande vilão era o post-grunge, que aparecia sempre a contragosto daqueles que viam potencial no Black Stone Cherry, mas não conseguiam gostar de um álbum na íntegra. A influência do gênero dava um caráter desnecessariamente datado ao grupo, que parecia estar preso no fim da década de 1990 mesmo produzindo em pleno século 21.
Em “Family Tree”, tudo muda. Neste disco, lançado em abril de 2018 – e com versão em CD nacional pela Hellion Records -, o Black Stone Cherry olhou com carinho para suas raízes e deixou o post-grunge de lado para dar espaço a influências de southern/blues rock, soul e funk. O resultado é um álbum dinâmico, que surpreende a cada música e não apela para afinações graves e melodias forçadamente tristes, como em trabalhos anteriores.
Em entrevista ao site 100% Rock, o guitarrista Ben Wells explicou que o EP “Black To Blues” (2017), com seis covers de blues, fez o Black Stone Cherry repensar o seu direcionamento. “Sempre fomos influenciados por blues, southern, soul e funk, entre outros estilos. O EP nos rejuvenesceu e nos fez ir atrás de nossas influências”, afirmou.
Outro ponto que se destaca em “Family Tree” é a espontaneidade das músicas. O álbum soa divertido e descompromissado – o que passa, diretamente, pelo processo de gravação adotado. “Sequer fizemos pré-produção nesse álbum”, explicou Wells. “Queríamos uma sensação natural, visceral, ao vivo. Gravamos demos, mas nem ensaiamos. O álbum mostra a primeira vez em que tocamos algumas dessas músicas. Há uma sensação de espontaneidade que não existiria se tivéssemos ensaiado”, completou.
A naturalidade se reflete em músicas como a excelente abertura “Bad Habit”, as blueseiras “Ain’t Nobody” e “Carry Me On Down The Road”, a funky “James Brown” (com referência óbvia já no título) e a ótima “Dancin’ In The Rain”, com participação de Warren Haynes (Gov’t Mule). Até mesmo as faixas mais pesadas e que dialogam com o passado da banda soam mais envolventes, a exemplo de “Burnin'”, “Southern Fried Friday Night” e “New Kinda Feelin'”.
Comercialmente, “Family Tree” não repetiu o desempenho dos outros álbuns nos Estados Unidos, obtendo uma modesta 106ª posição nas paradas do país – o cansativo álbum anterior, “Kentucky” (2016), chegou a ficar em 40°. Por outro lado, o disco foi bem recebido em mercados europeus, como Reino Unido (7°), Suíça (9°) e Alemanha (11°).
Saber que “Family Tree” não foi tão bem recebido me deixa preocupado com os próximos passos do Black Stone Cherry. Gostaria, de verdade, que a banda seguisse no caminho apresentado por aqui. É, de longe, o melhor disco do quarteto. Vale cada segundo de audição e até de investimento na versão nacional da Hellion. Não à toa, foi escolhido para a minha modesta lista de melhores álbuns de 2018.
Chris Robertson (vocal, guitarra)
Ben Wells (guitarra)
Jon Lawhon (baixo)
John Fred Young (bateria, percussão, piano)
Músicos adicionais:
Warren Haynes (vocal e guitarra na música 7)
Kevin McKendree (teclados e órgão)
Jonas Butler e Ryan Stiles (trompa)
Jeff “Bongo” Boggs e Brandon Henbest (percussão)
Sandra Dye e Bianca Byrd (backing vocals)
1. Bad Habit
2. Burnin’
3. New Kinda Feelin’
4. Carry Me On Down the Road
5. My Last Breath
6. Southern Fried Friday Night
7. Dancin’ in the Rain (com Warren Haynes)
8. Ain’t Nobody
9. James Brown
10. You Got the Blues
11. I Need a Woman
12. Get Me Over You
13. Family Tree