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Resenha: Ride To Nowhere mostra, enfim, a que veio o Inglorious e seu hard rock

Inglorious – “Ride To Nowhere” (2019)

O Inglorious é uma das grandes revelações do hard rock nesta década. A banda britânica foi formada em 2014 e é capitaneada pelo vocalista Nathan James, que ficou conhecido depois de suas participações nas edições britânicas dos programas de TV “The Voice” e “Superstar”, bem como passagens pelo Trans-Siberian Orchestra e o grupo solo do ex-guitarrista do Scorpions, Uli Jon Roth.

Dois álbuns, “Inglorious” (2016) e “Inglorious II” (2017), foram lançados pela banda até agora – e este terceiro, “Ride To Nowhere”, já estava gravado quando os guitarristas Andreas Eriksson e Drew Lowe e o baixista Colin Parkinson resolveram sair da banda. A razão principal chega a ser clichê: em entrevista ao Sleaze Roxx, Parkinson disse que o ego de Nathan James deixou a situação insustentável.

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“É uma questão de ego! Você pode adivinhar de quem vem. Era mais um teatro do que uma banda. Compus muito para a banda, ofereci muita energia mental e emocional, mas estava gasto. Não havia muito a oferecer quando tive problemas com a forma que as coisas estavam rolando com os empresários. Nada mudava, então, decidi sair. Fizemos apenas duas semanas de turnê para ‘II’, morávamos longe um do outro. Não é uma banda, é o projeto de Nathan”, explicou o baixista.

Os três já foram substituídos pelos guitarristas Danny Dela Cruz e Dan Stevens e pelo baixista brasileiro Vinnie Colla, mas, claro, isso gerou um grande problema para Nathan James e o baterista Phil Beaver. E, curiosamente, essa não foi a primeira situação conflituosa para James nos últimos anos. O vocalista tem dito, em entrevistas, que “Ride To Nowhere” tem as suas primeiras composições de tom mais pessoal, inspiradas pelas recentes mortes de seu melhor amigo e de seu avô, bem como os já citados embates com empresários.

O conflito faz crescer

Todos os conflitos parecem ter feito de “Ride To Nowhere” o álbum mais inspirado e maduro do Inglorious até agora. Nos dois trabalhos anteriores, a banda se contentava em apenas divertir. Isso gerava estranheza, pois com tanto talento envolvido, a sensação era de que eles poderiam sair um pouco mais da sombra de suas influências, que vão de Led Zeppelin e Deep Purple até Aerosmith e Whitesnake, para apresentar “algo mais”. Felizmente, o “algo mais” chegou nesse novo disco.

Em “Ride To Nowhere”, o quinteto explorou (conscientemente, segundo Nathan James) influências que saíam do espectro “classic/hard rock”. O apelo ao blues ficou de lado e as composições ganharam mais peso, sem, necessariamente, flertar tanto com alguma vertente do metal. Além disso, um “quê” de modernidade deu frescor a certas canções, especialmente por apresentar construções melódicas menos óbvias e fazer a banda funcionar como banda – nos dois primeiros discos, focava-se muito nos excelentes vocais de James e nas guitarras.

Ride To Nowhere, faixa a faixa

O álbum tem início sem tantas surpresas com “Where Are You Now?”, um hardão típico do Inglorious que apresenta riffs envolventes e o vozeirão esperado de Nathan James. “Freak Show”, na sequência, começa a dar as cartas do disco, por seu andamento pesado e por transitar em campos melódicos mais inesperados. “Never Alone”, por sua vez, surpreende por soar como uma balada rocker contemporânea, com destaque às harmonias vocais. Uma das melhores.

“Tomorrow” segue a linha de “Never Alone”, ainda que busque referências no primeiro álbum do Inglorious, e gruda na mente graças, especialmente, ao refrão. “Queen”, outra grande música do disco, coloca o baixo de Colin Parkinson na linha de frente e apresenta um groove irresistível. Já na pesada “Liar”, Nathan James não economiza na interpretação e transmite bem a raiva expressa na letra. “Time To Go”, por sua vez, retoma a pegada “hard clássico” e soa como algo que o Aerosmith faria nos dias de hoje, se a banda ainda criasse.

Mais um grande momento do álbum, “I Don’t Know You” é melancolia pura – e não perde a “tristeza” nem por alternar entre momentos bluesy e passagens de peso. O solo de Andreas Eriksson e o acréscimo de vocais femininos são os destaques por aqui. Nas duas canções seguintes, “While She Sleeps” e a faixa-título, a banda flerta com o heavy metal: na primeira, com êxito, graças ao groove e o foco na cozinha; na segunda, nem tanto, apesar de soar correta e até surpreender um pouco a partir da metade. A acústica “Glory Days” encerra o álbum com dose extra de melancolia. Aqui, Nathan James prova – de novo – o quanto sua voz é incrível.

Precisamos do Inglorious?

A afirmação anterior sobre a voz de Nathan James serve para todo o álbum e, também, para concluir esse texto. O cantor, um dos melhores do estilo na atualidade, é conhecido como um sujeito de ego “forte” – já chegou a dizer, em algumas entrevistas, que o rock “precisa” de sua banda –, mas, em “Ride To Nowhere”, pareceu entender que um grupo precisa de todos os seus integrantes para funcionar bem. Era essencial que algo realmente novo e de esforço conjunto fosse apresentado para que o estilo “precisasse” do Inglorious.

O objetivo foi conquistado com sucesso. Em suma, “Ride To Nowhere” é um ótimo álbum e conclui, com glórias, o ciclo iniciado nos dois primeiros discos. E mais: o novo registro vai além ao superar os anteriores em originalidade, envolvimento e solidez. Todos os integrantes aparecem bem e dão suas contribuições, o que oferece uma sonoridade ligeiramente mais identitária.

A função do Inglorious já não é mais apenas divertir: é convencer. E, agora, pode ser que Nathan James consiga te convencer sobre o quanto o rock precisa do Inglorious atualmente.

Inglorious – ‘Ride to Nowhere’

Nathan James (vocal)
Andreas Eriksson (guitarra)
Drew Lowe (guitarra)
Colin Parkinson (baixo)
Phil Beaver (bateria)

Músico adicional:
Tony Draper (teclados, piano)

1. Where Are You Now?
2. Freak Show
3. Never Alone
4. Tomorrow
5. Queen
6. Liar
7. Time To Go
8. I Don’t Know You
9. While She Sleeps
10. Ride To Nowhere
11. Glory Days

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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