Entrevista: The Poodles, nova referência do hard rock, lança disco com covers de pop

Quando bandas de rock resolvem gravar discos de covers, o repertório costuma ser baseado em… músicas de rock. É comum que as influências desses músicos sejam representadas na lista de faixas – e, em algumas ocasiões, as performances costumam ser idênticas às originais.

Em seu primeiro disco de covers e sétimo da carreira no todo, o The Poodles – formado por Jakob Samuel (vocais, ex-baterista do Talisman), Henrik Bergqvist (guitarra), Christian Lundqvist (bateria) e Germain Leth (baixo) – resolveu fazer diferente. Em vez de homenagear as influências no rock, a banda sueca de hard rock prestou tributo a artistas fora do estilo, apostando, especialmente, em nomes do pop. Intitulado “Prisma”, o álbum traz canções de artistas antigos, como The Osmonds, Fleetwood Mac e Elton John, e atuais, como David Guetta, Adele e Swedish House Mafia.

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Em entrevista exclusiva, o vocalista Jakob Samuel falou sobre o novo disco, comentou as múltiplas influências que tem e refletiu sobre a carreira do The Poodles, que tem visto sua popularidade crescer após bons discos, como “Performocracy” (2011), “Tour de Force” (2013) e “Devil in the Details” (2015), que atingiram, respectivamente, as posições de número 1, 5 e 27 nas paradas da Suécia.

Segundo Jakob Samuel, focar em covers de músicas pop na concepção de “Prisma” foi uma ideia “louca”, mas coerente. “Conversávamos há algum tempo sobre gravar um disco tributo com a trilha sonora de nossas vidas, mas não queríamos gravar músicas do Iron Maiden, Guns N’ Roses ou Def Leppard. Queríamos pegar algo de um estilo totalmente diferente e colocar nosso sabor. Várias bandas de hard rock lançam covers de hard rock, sem rearranjar, apenas tocando. Eu não queria fazer isso, queria pegar as músicas que gostamos e ‘chacoalhar’ a estrutura delas, em harmonia e arranjos”, disse o vocalista.

Os pontos mais distantes do convencional em “Prisma” são as músicas de artistas mais contemporâneos, já que mesmo os nomes pop de antigamente, como Elton John e Fleetwood Mac, têm um pé no rock. “A ideia era trazer boas músicas que nos impactaram de alguma forma. Poderia ser uma música atual, antiga, de qualquer época. Quanto mais ampla a perspectiva, melhor. Há muitas músicas boas feitas no passado, assim como no presente. Depende de onde você está olhando”, afirmou Samuel, que descreveu Adele e Beyoncé como como artistas “fantásticas e talentosas” e revelou não ouvir muitas bandas de som pesado em seu tempo livre – geralmente, ele escuta músicas de jazz ou até música erudita, geralmente sem vocais acompanhando.

A sonoridade do The Poodles em seus discos autorais já mostrava a inclinação de seus músicos na construção de bons refrãos, melodias que entrem facilmente na cabeça e ganchos de impacto. Por isso, a predileção da banda por alguns artistas pop não chega a assustar. “Sempre componho músicas no violão ou piano. Às vezes, faço alguns riffs, mas geralmente são acordes e melodias. Sem uma boa melodia, não há nada. Você pode ter um bom riff, mas se não tem uma música, é como não ter nada. É a minha opinião”, afirmou Jakob Samuel.

Apesar do repertório diferente do usual, “Prisma” não teve um processo de gravação muito diferente dos outros discos do The Poodles, segundo Jakob Samuel. “Você precisa ter uma mente ainda mais aberta para regravar músicas, mas não foi tão diferente. Geralmente embarco para o estúdio com o produtor para apresentar ideias, fazemos demos para que todos possam ouvir e, então, separamos algumas coisas para entrar no disco”, disse o vocalista.

Ghost, conterrâneos também inclinados ao pop

Assim como o The Poodles, outra banda sueca que está cada vez mais conectada ao pop é o Ghost. Em “Prequelle”, disco mais recente do grupo de metal liderado por Tobias Forge, há influências do pop convencional e new wave, além de pitadas de rock progressivo e hard rock da década de 1970.

E o que Jakob Samuel acha sobre o Ghost? “Estou começando a gostar. Não curti tanto de início, mas estou realmente gostando das coisas que estão fazendo. Acho que, agora, eu poderia até gostar do que eles fizeram no passado, mas não me conectei à música deles até pouco tempo atrás. Acho que estão tendo uma jornada fantástica e muito interessante”, afirmou o vocalista.

A voz dos Poodles destacou que não gostou tanto do Ghost de início devido às temáticas de algumas de suas letras. “Não entendia as coisas satânicas, não gosto de nada disso. Mas, recentemente, me conectei à música deles por várias razões, eu as ouvi em diferentes lugares e, de repente, tornou-se interessante. Não sou um grande fã, não sei tanto sobre eles, mas gostei do que ouvi recentemente”, disse.

Europa produz hard/metal mais melódico que a América?

Muito se comenta que as bandas de hard rock e metal europeias têm mais músicas direcionadas a ganchos melódicos e harmonias melhor trabalhadas do que as americanas, bastante focadas nos riffs e no rítmico. Isso parece ocorrer especialmente no hard rock, já que a Europa se tornou o grande berço do chamado “melodic hard rock”, muito próximo do AOR e, por vezes, até do power metal.

Leia também:  Entrevista: Herman Li fala sobre Dragonforce no Knotfest, metal brasileiro e mais

Ao ser questionado sobre isso, Jakob Samuel disse que as bandas de hard rock americanas que ouve são muito melódicas, mas reconheceu que há um tempero diferente nos grupos da Europa – especialmente da Escandinávia, grande celeiro do gênero nos últimos anos. “Posso falar pela música escandinava: temos uma história muito melódica, seja pela música clássica ou folclórica. Além disso, temos grande tradição nesse aspecto, do Abba ao Europe, indo até artistas que são conhecidos apenas aqui na Suécia. É natural termos conexão com esse tipo de música. Também temos educação musical. Não importa se você é rico ou pobre, todas as crianças por aqui conseguem tentar algo na música. Desde muito cedo, se estuda música e se tem a chance de tocar um instrumento musical, então, isso também ajuda”, comentou o vocalista.

Planos futuros

O The Poodles tem feito shows desde que “Prisma” foi lançado, incluindo sua primeira turnê pelo Japão, um dos grandes mercados consumidores de hard rock. “Todos deveriam invejar o profissionalismo e a organização no Japão. Eles são incríveis, é muito fácil fazer turnê pelo Japão. E a plateia é incrível. É a minha opinião, mas muitos colegas disseram a mesma coisa”, disse Jakob Samuel.

Para a turnê no Japão e o restante dos compromissos em 2018, o guitarrista Rob Marcello (Danger Danger, The Defiants) assumiu a vaga de Henrik Bergqvist provisoriamente. “Henrik tem grandes projetos acontecendo. Ele é linguista em uma universidade, então não podia excursionar e Rob Marcello veio para cumprir o ano todo. Ele é incrível, assim como Henrik. Não é fácil chegar a uma banda que conta com seu guitarrista há 10 anos, mas ele aceitou o desafio e está se saindo bem”, afirmou o vocalista.

No horizonte do The Poodles, há uma turnê europeia marcada para setembro, com shows em festivais, mas o fim de 2018 será de planejamento. “Antes de continuar trabalhando com a Sony, queremos sentar e pensar o que queremos fazer no futuro, com quem queremos trabalhar e nos encaixar nos planos, para onde queremos ir e tudo o mais. Não queremos nos apressar, temos seis ou sete discos feitos. Podemos excursionar em cima desses álbuns. Além disso, temos feito muitas músicas novas, estamos compondo constantemente”, disse Jakob, que ainda não tem previsão de quando a banda pode vir à América do Sul – “tivemos uma proposta do Brasil e da Colômbia, mas o promotor nunca retornou, então, quando vier um bom promotor, iremos, pois adoraríamos tocar aí”, garantiu.

Nesse meio tempo, Jakob também trabalha em um disco solo – o último, “Pastpresent”, é de 2013 e trilha caminhos mais pop. “Estou finalizando a gravação do meu novo disco solo, que soa um pouco mais diferente do anterior. Amo o ‘Pastpresent’, é muito próximo de meu coração. Estou trabalhando com pessoas diferentes agora e estou orgulhoso. Será mais pesado que meu disco anterior, mas ainda será diferente do The Poodles”, disse.

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Igor Miranda
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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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Em seu primeiro disco de covers e sétimo da carreira no todo, o The Poodles – formado por Jakob Samuel (vocais, ex-baterista do Talisman), Henrik Bergqvist (guitarra), Christian Lundqvist (bateria) e Germain Leth (baixo) – resolveu fazer diferente. Em vez de homenagear as influências no rock, a banda sueca de hard rock prestou tributo a artistas fora do estilo, apostando, especialmente, em nomes do pop. Intitulado “Prisma”, o álbum traz canções de artistas antigos, como The Osmonds, Fleetwood Mac e Elton John, e atuais, como David Guetta, Adele e Swedish House Mafia.

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Em entrevista exclusiva, o vocalista Jakob Samuel falou sobre o novo disco, comentou as múltiplas influências que tem e refletiu sobre a carreira do The Poodles, que tem visto sua popularidade crescer após bons discos, como “Performocracy” (2011), “Tour de Force” (2013) e “Devil in the Details” (2015), que atingiram, respectivamente, as posições de número 1, 5 e 27 nas paradas da Suécia.

Segundo Jakob Samuel, focar em covers de músicas pop na concepção de “Prisma” foi uma ideia “louca”, mas coerente. “Conversávamos há algum tempo sobre gravar um disco tributo com a trilha sonora de nossas vidas, mas não queríamos gravar músicas do Iron Maiden, Guns N’ Roses ou Def Leppard. Queríamos pegar algo de um estilo totalmente diferente e colocar nosso sabor. Várias bandas de hard rock lançam covers de hard rock, sem rearranjar, apenas tocando. Eu não queria fazer isso, queria pegar as músicas que gostamos e ‘chacoalhar’ a estrutura delas, em harmonia e arranjos”, disse o vocalista.

Os pontos mais distantes do convencional em “Prisma” são as músicas de artistas mais contemporâneos, já que mesmo os nomes pop de antigamente, como Elton John e Fleetwood Mac, têm um pé no rock. “A ideia era trazer boas músicas que nos impactaram de alguma forma. Poderia ser uma música atual, antiga, de qualquer época. Quanto mais ampla a perspectiva, melhor. Há muitas músicas boas feitas no passado, assim como no presente. Depende de onde você está olhando”, afirmou Samuel, que descreveu Adele e Beyoncé como como artistas “fantásticas e talentosas” e revelou não ouvir muitas bandas de som pesado em seu tempo livre – geralmente, ele escuta músicas de jazz ou até música erudita, geralmente sem vocais acompanhando.

A sonoridade do The Poodles em seus discos autorais já mostrava a inclinação de seus músicos na construção de bons refrãos, melodias que entrem facilmente na cabeça e ganchos de impacto. Por isso, a predileção da banda por alguns artistas pop não chega a assustar. “Sempre componho músicas no violão ou piano. Às vezes, faço alguns riffs, mas geralmente são acordes e melodias. Sem uma boa melodia, não há nada. Você pode ter um bom riff, mas se não tem uma música, é como não ter nada. É a minha opinião”, afirmou Jakob Samuel.

Apesar do repertório diferente do usual, “Prisma” não teve um processo de gravação muito diferente dos outros discos do The Poodles, segundo Jakob Samuel. “Você precisa ter uma mente ainda mais aberta para regravar músicas, mas não foi tão diferente. Geralmente embarco para o estúdio com o produtor para apresentar ideias, fazemos demos para que todos possam ouvir e, então, separamos algumas coisas para entrar no disco”, disse o vocalista.

Ghost, conterrâneos também inclinados ao pop

Assim como o The Poodles, outra banda sueca que está cada vez mais conectada ao pop é o Ghost. Em “Prequelle”, disco mais recente do grupo de metal liderado por Tobias Forge, há influências do pop convencional e new wave, além de pitadas de rock progressivo e hard rock da década de 1970.

E o que Jakob Samuel acha sobre o Ghost? “Estou começando a gostar. Não curti tanto de início, mas estou realmente gostando das coisas que estão fazendo. Acho que, agora, eu poderia até gostar do que eles fizeram no passado, mas não me conectei à música deles até pouco tempo atrás. Acho que estão tendo uma jornada fantástica e muito interessante”, afirmou o vocalista.

A voz dos Poodles destacou que não gostou tanto do Ghost de início devido às temáticas de algumas de suas letras. “Não entendia as coisas satânicas, não gosto de nada disso. Mas, recentemente, me conectei à música deles por várias razões, eu as ouvi em diferentes lugares e, de repente, tornou-se interessante. Não sou um grande fã, não sei tanto sobre eles, mas gostei do que ouvi recentemente”, disse.

Europa produz hard/metal mais melódico que a América?

Muito se comenta que as bandas de hard rock e metal europeias têm mais músicas direcionadas a ganchos melódicos e harmonias melhor trabalhadas do que as americanas, bastante focadas nos riffs e no rítmico. Isso parece ocorrer especialmente no hard rock, já que a Europa se tornou o grande berço do chamado “melodic hard rock”, muito próximo do AOR e, por vezes, até do power metal.

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Ao ser questionado sobre isso, Jakob Samuel disse que as bandas de hard rock americanas que ouve são muito melódicas, mas reconheceu que há um tempero diferente nos grupos da Europa – especialmente da Escandinávia, grande celeiro do gênero nos últimos anos. “Posso falar pela música escandinava: temos uma história muito melódica, seja pela música clássica ou folclórica. Além disso, temos grande tradição nesse aspecto, do Abba ao Europe, indo até artistas que são conhecidos apenas aqui na Suécia. É natural termos conexão com esse tipo de música. Também temos educação musical. Não importa se você é rico ou pobre, todas as crianças por aqui conseguem tentar algo na música. Desde muito cedo, se estuda música e se tem a chance de tocar um instrumento musical, então, isso também ajuda”, comentou o vocalista.

Planos futuros

O The Poodles tem feito shows desde que “Prisma” foi lançado, incluindo sua primeira turnê pelo Japão, um dos grandes mercados consumidores de hard rock. “Todos deveriam invejar o profissionalismo e a organização no Japão. Eles são incríveis, é muito fácil fazer turnê pelo Japão. E a plateia é incrível. É a minha opinião, mas muitos colegas disseram a mesma coisa”, disse Jakob Samuel.

Para a turnê no Japão e o restante dos compromissos em 2018, o guitarrista Rob Marcello (Danger Danger, The Defiants) assumiu a vaga de Henrik Bergqvist provisoriamente. “Henrik tem grandes projetos acontecendo. Ele é linguista em uma universidade, então não podia excursionar e Rob Marcello veio para cumprir o ano todo. Ele é incrível, assim como Henrik. Não é fácil chegar a uma banda que conta com seu guitarrista há 10 anos, mas ele aceitou o desafio e está se saindo bem”, afirmou o vocalista.

No horizonte do The Poodles, há uma turnê europeia marcada para setembro, com shows em festivais, mas o fim de 2018 será de planejamento. “Antes de continuar trabalhando com a Sony, queremos sentar e pensar o que queremos fazer no futuro, com quem queremos trabalhar e nos encaixar nos planos, para onde queremos ir e tudo o mais. Não queremos nos apressar, temos seis ou sete discos feitos. Podemos excursionar em cima desses álbuns. Além disso, temos feito muitas músicas novas, estamos compondo constantemente”, disse Jakob, que ainda não tem previsão de quando a banda pode vir à América do Sul – “tivemos uma proposta do Brasil e da Colômbia, mas o promotor nunca retornou, então, quando vier um bom promotor, iremos, pois adoraríamos tocar aí”, garantiu.

Nesse meio tempo, Jakob também trabalha em um disco solo – o último, “Pastpresent”, é de 2013 e trilha caminhos mais pop. “Estou finalizando a gravação do meu novo disco solo, que soa um pouco mais diferente do anterior. Amo o ‘Pastpresent’, é muito próximo de meu coração. Estou trabalhando com pessoas diferentes agora e estou orgulhoso. Será mais pesado que meu disco anterior, mas ainda será diferente do The Poodles”, disse.

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