A incrível mania de colocar os membros do Iron Maiden em um pedestal

O Iron Maiden é idolatrado no Brasil. Aliás, as pessoas amam a banda em diversas partes do mundo, mas a devoção dos fãs brasileiros é peculiar.

E não é para menos. Dentro do metal, o Iron Maiden tem uma das discografias mais impecáveis e uma das carreiras mais consistentes. O público olha para o Maiden e enxerga uma banda, que, mesmo com tantos integrantes e um “chefe” – Steve Harris, baixista – que comanda tudo aquilo, parece estar em sintonia. É como a empresa perfeita para se trabalhar.

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Além de demonstrarem domínio criativo e técnico dentro da música, os integrantes parecem ter, muitas vezes, perspicácia para assuntos fora da música, como o multi-funcional vocalista Bruce Dickinson, que também é escritor, piloto, historiador, mestre cervejeiro e o que mais seu currículo permitir. Ler ou ouvir afirmações de Dickinson é sempre algo recomendável.

No entanto, ninguém é perfeito. E o sexteto mais conhecido do metal, às vezes, também derrapa. Seja em sua carreira ou em declarações e atitudes que parecem ser isoladas, mas não são.

As demonstrações mais recentes de imperfeição por parte do Iron Maiden têm acontecido, especialmente, no que diz respeito a direitos autorais. E não falo só de música: comento, também, sobre decisões comerciais que vão além do que é arte para os ouvidos.

O sinal de “alerta” foi acendido, em minha opinião, quando o Iron Maiden optou por retirar “Hallowed Be Thy Name” do repertório dos shows após uma ação judicial, que se tornou pública em maio de 2017. O compositor Brian Quinn alega que a música contém um trecho de letra copiado de “Life’s Shadow”, do Beckett. E tem mesmo: basta conferir as duas composições para tirar a prova.

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Retirar “Hallowed Be Thy Name” pode ter sido um ato de cautela, entretanto, também aparenta ser, para muitos, uma atitude gananciosa. Muitas pessoas foram a shows do Iron Maiden após essa decisão e, provavelmente, lamentaram a ausência de um dos grandes clássicos da banda.

Mais recentemente, em 2018, Bruce Dickinson pontuou críticas ao download de música em recente entrevista. “Mesmo o download estando na mídia hoje, o Napster destruiu o conceito da música ter algum valor, o que é terrível. Acho que o cara (que criou o Napster) deveria estar preso, e talvez ele esteja, ele merece, foi uma atitude de puro egoísmo destrutivo”, afirmou Dickinson.

“Para uma banda como nós, que na verdade continuamos gravando discos, mas aceitamos o fato que não fazemos mais dinheiro com isto, apenas fazemos por gostar de gravar e produzir coisas novas. Mas ganhamos muito dinheiro com turnês. Outras bandas que fazem grandes canções não tem este luxo, e é complicado ver uma imensa nova geração de grandes músicos não ser remunerados pelo seu trabalho fantástico”, completou.

No cerne da questão, Bruce Dickinson está correto. Lars Ulrich, baterista do Metallica que liderou uma ação contra o Napster, também. E por que Ulrich é tão criticado e Dickinson, não? A leitura e a eloquência são diferentes – embora o pensamento de Dickinson seja simplista demais -, mas a proposta é a mesma.

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Além disso, o problema não está no Napster – que foi, sim, revolucionário e iniciou, sim, uma nova forma de se ouvir música – , nem no download digital em si. O problema é (e sempre foi) o oligopólio na área.

Poucas companhias detém os direitos e as ferramentas de divulgação musical. O público deixou de comprar discos produzidos por grandes gravadoras para consumir canções no Spotify, Deezer e afins, cujos faturamentos vão para as corporações em vez dos artistas. É por isso que peixes grandes como Taylor Swift relutaram em entregar seus catálogos para o streaming.

Dias depois, divulgou-se que o Iron Maiden estava processando quem vendesse produtos de sua marca sem licença. Mais uma vez, uma atitude correta. Tente imaginar, no entanto, se outros grandes artistas – até mesmo fora do rock – tomassem tal decisão. As críticas seriam, sem dúvidas, bem mais pesadas.

A empatia em torno do Iron Maiden faz com que muitos fãs se esqueçam que seus integrantes, empresários e afins não são perfeitos. Tal visão compromete até mesmo a crítica a alguns discos da banda, que, assim como alguns pensamentos de seus músicos, também deixam a desejar em alguns momentos.

O mesmo senso crítico que existe para se abordar Metallica, Megadeth, Black Sabbath, Judas Priest – por vezes, também “protegido” demais por parte do público e da imprensa especializada – e outros grandes nomes do metal também deve existir com o Maiden. É bom lembrar, mais uma vez, que ninguém é perfeito. São músicos, não heróis.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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