4 músicos que não se lembram de terem feito discos graças às drogas

Diversos estudos comprovaram, no passado, que o uso regular de diversas drogas podem causar problemas na memória. E perdas do tipo não são recuperadas pelo cérebro, nem mesmo com o auxílio de remédios.

Ainda que não seja legal se drogar no trabalho, o abuso de substâncias do tipo é encarado com mais naturalidade quando se está no meio artístico. Até artistas que estão sóbrios nos dias de hoje dizem que entorpecentes auxiliavam no processo criativo.

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Entretanto, há casos em que o abuso de drogas acabou seguindo um caminho muito distante. O site da revista “Vice” compilou, recentemente, uma série de artistas que não se recordam de determinados trabalhos feitos no passado devido ao uso excessivo de entorpecentes.

Quatro nomes da música são citados pelo artigo. A partir das informações obtidas pela “Vice“, foram acrescentados outros dados que resultam neste artigo. Veja:

1) Alice Cooper

Um dos casos mais icônicos de “blecaute” da memória foi sofrido por Alice Cooper. O rei do shock rock não se lembra de quase nada feito entre os anos de 1981 e 1983.

Durante esse período, ele lançou três discos: “Special Forces” (1981), “Zipper Catches Skin” (1982) e “DaDa” (1983). Menos inspirados que seus antecessores, os discos em questão contêm pitadas de gêneros como new wave e post-punk.

Desde que recuperou a sua sobriedade, ainda na década de 1980, Alice Cooper se refere a esses discos como os seus álbuns de “blackout”. Ao site Quietus, em 2009, ele falou sobre esse esquecimento.

“Eu realmente gostaria de voltar e regravar esses três discos, porque nunca achei que coloquei trabalho suficiente neles. E eu amo as músicas – só não lembro de ter as composto”, afirmou.

Os problemas de Alice Cooper com as drogas – cocaína, crack e álcool – durante esse período eram tamanhos que ele fez turnê para divulgar apenas um desses discos, “Special Forces”. Ele se afastou dos palcos de fevereiro de 1982 até o ano de 1986, quando retornou com o álbum “Constrictor”.

Cientes dos problemas pelos quais Alice Cooper passava, a Warner Bros sequer promoveu os discos em questão – em especial “Zipper Catches Skin” e “DaDa”, que já não contariam com turnês de divulgação. Após “DaDa”, Alice acabou dispensado pela gravadora, visto que o contrato vigente havia sido chegado ao fim e não havia nenhum interesse em renovação.

No meio de 1983, Alice Cooper acabou hospitalizado, novamente, por alcoolismo. Entretanto, o quadro era mais grave: ele estava com cirrose hepática e passou muito perto de morrer. Desde então, Alice se mantém sóbrio – e retomou a melhor forma de sua carreira na segunda metade da década de 1980.

2) Ozzy Osbourne

É verdade que, ao menos pelo jeito de se manifestar, dá para imaginar que Ozzy Osbourne não se recorde muito do que tenha feito na vida. O eterno vocalista do Black Sabbath abusou de todos os tipos de drogas, além de bebidas alcoólicas, ao longo de quase toda a sua carreira. Especialmente nos últimos anos, sua fala e velocidade de raciocínio expressas em entrevistas indicam que os excessos deixaram marcas no Madman.

Ainda que sempre tenha admitido que estado “chapado” durante boa parte de sua vida adulta, Ozzy confessou, em entrevista à revista “IQ”, que não se recorda da década de 1990. Uma declaração curiosa, visto que pensava-se que o auge dos excessos de Ozzy tivessem ocorrido nos anos 1980.

“Não lembro realmente dos anos 90. Não sei por quê. Meu vício em drogas e álcool era feroz na época. Era pesado, então eu tinha muitos apagões”, afirmou o vocalista.

Apesar de não ter sido específico com relação a apagões de memória relacionados a discos, esse período deve contemplar as gravações de “No More Tears” (1991) e, em especial, “Ozzmosis” (1995). O segundo disco de Ozzy na década contou com uma série de compositores externos, como Lemmy Kilmister, Steve Vai (que gravaria as guitarras do disco no lugar de Zakk Wylde), Jim Vallance, Mark Hudson.

Pelo que consta, “Ozzmosis” é um dos álbuns de menor participação de Ozzy em sua concepção, ainda que ele tenha créditos autorais em várias faixas. Os problemas com drogas, provavelmente, justificam isto.

3) David Bowie

O falecido David Bowie viveu o auge da sua carreira na década de 1970. Com a fama, vieram os excessos: o cantor abusou das drogas, em especial, da cocaína e das bebidas alcoólicas.

Em depoimento ao biógrafo Nicholas Pegg, David Bowie disse que não sel embra de praticamente nada das gravações de “Station To Station”, lançado em 1976. Ele se recordava de apenas dois tópicos. Um deles estava relacionado às instruções que deu a Earl Slick e Carlos Alomar para o registro das guitarras.

O outro dizia respeito à localização do estúdio onde o álbum foi gravado: Cherokee Studios, em Los Angeles, Estados Unidos. E tal informação não foi relembrada espontaneamente por David Bowie. “Sei que foi em Los Angeles porque li em algum lugar”, afirmou.

David Bowie não era o único a abusar dos entorpecentes naquele período. Carlos Alomar disse que consumia cocaína para obter inspiração. “Se houvesse uma carreira de cocaína capaz de te deixar acordado até 8 da manhã, para você fazer a sua parte de guitarra, você a cheirava”, disse o músico.

Musicalmente, “Station To Station” é um dos discos de sonoridade mais obscura de David Bowie. Há pitadas de funk, soul, krautrock e ocultismo (!) neste álbum de Bowie. Ainda que não esteja entre seus grandes clássicos, o álbum fez bastante sucesso.

4) Eric Bell

O líder do Thin Lizzy, Phil Lynott, acabou ficando notável pelo abuso de drogas e álcool. Ele morreu aos 36 anos, em janeiro de 1986, vítima de pneumonia e insuficiência cardíaca, relacionadas aos excessos – ele era dependente de heroína e álcool – que o deixaram debilitado.

Todavia, os abusos que mais interferiram na existência do Thin Lizzy foram os de Eric Bell, primeiro guitarrista da banda. Antes mesmo da fama, o músico já sofria com a dependência química: estava viciado em bebidas alcoólicas, maconha, ácido e remédios controlados.

“Eu não conseguia parar de beber, não conseguia parar de fumar maconha. E também estava tomando Valium, receitado pelo meu médico. Eu andava pela vida como se fosse um frango frito”, afirmou Eric Bell, em entrevista à “Noisey”.

Graças a isso, Eric Bell revelou que não se recorda de ter gravado o primeiro disco do Thin Lizzy, lançado em 1971. “Sério, o estúdio todo estava tomado por fumaça (de maconha). Todos que entravam – o cara do leite, a p*rra do cara que fazia chá – meio que acabava andando por aí com um sorriso na cara. Era espontâneo”, afirmou.

Eric Bell acabou deixando a banda para tratar de seus vícios. Seu último show, realizado no Réveillon de 1973, foi um desastre. “Foi em Belfast, minha cidade natal, e meus amigos e família e minha esposa estavam lá, assim como a família e namorada de Philip. Eu estava ‘fora da casinha’ – bêbado e chapado, mas especialmente bêbado. Não conseguia parar em pé. Estava com problemas na minha vida pessoal. O Thin Lizzy trabalhava o tempo todo – turnê após turnê. Não havia tempo para se recompor”, disse Bell.

* Escrevi esse texto originalmente para o Whiplash.Net Rock e Heavy Metal.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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