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Novo disco do Bon Jovi mostra banda melhor, mas ainda mediana

Bon Jovi – “This House Is Not For Sale” [2016]

Antes de tudo, é necessário destacar que o Bon Jovi mudou. Muito. E já faz tempo. Não adianta apertar o play em um álbum da banda lançado no século 21 e esperar que soe como século 20 – seja na farofa oitentista ou no hard consciente noventista.

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Dito isto, também é importante destacar, de cara, que “This House Is Not For Sale” é um dos melhores discos lançados pelo Bon Jovi nos últimos 20 anos. Só que ainda não é bom. Trata-se de um registro tão mediano que, de zero a dez, atribuo uma nota cinco a ele.

“This House Is Not For Sale” é melhor do que boa parte dos discos lançados pelo Bon Jovi desde “Crush” (2000) porque traz alguma identidade. Seja em letras ou melodias, o grupo soa um pouco mais melancólico e menos padronizado do que em álbuns anteriores. Enquanto a pomposidade forçada de “What About Now?” (2013) é capaz de me irritar profundamente, a sinceridade presente no registro mais atual da banda é algo a se admirar.

O fato de se ter uma linha de trabalho foi o que me fez gostar de “Lost Highway” (2007), o disco country rock do Bon Jovi. Já que a banda está completamente entregue a outros gêneros e formatos mais populares nos Estados Unidos, que seja com alguma identidade, não?

Jon Bon Jovi tem dito, em recentes entrevistas, que passou por dificuldades nos últimos anos. Não financeiras: o Bon Jovi ainda continua uma das bandas mais rentáveis do mundo. Emotivas. A saída do guitarrista Richie Sambora e alguns problemas de ordem pessoal o abalaram.

Assim, seria inevitável que “This House Is Not For Sale” não tivesse um pouco disto em suas nuances. Não que suas canções sejam típicas de quem está na fossa, mas não há toda aquela aura felizona, meio heartland rock, vista em registros anteriores.

O problema é que ainda não é bom. E nem ruim. É, como disse anteriormente, mediano. “This House Is Not For Sale” mantém a aproximação com o pop rock (cada vez mais pop e menos rock) e soa até como Coldplay ou Imagine Dragons em alguns momentos – o que não seria nada de mais se já não existissem tantas bandas assim.

“This House Is Not For Sale” também marca a estreia de Phil X na guitarra, o que não muda muita coisa: o músico tenta emular Richie Sambora, seja no instrumento ou nos backing vocals, a todo momento. Aqui, as seis cordas deram ainda mais espaço para os teclados de David Bryan, algo que varia de forma positiva ou negativa de acordo com cada faixa.

Há de se destacar, ainda, a consolidação da parceria entre Jon Bon Jovi e os compositores John Shanks e Billy Falcon. A dupla colabora com a autoria das canções desde o início da década passada e estiveram ainda mais presentes em “What About Now?”, onde o até então integrante Richie Sambora co-assinou apenas cinco faixas, mas aqui assumem de vez o posto de “colaboradores preferidos”. Longe de serem “culpados” de algo, pois cumprem ordens, mas Shanks e Falcon também não trazem nada de novo ao Bon Jovi.

A faixa título abre o disco com algo diferente. O Bon Jovi ainda pratica aquele pop rock de outrora, mas segue caminhos melódicos menos óbvios. Depois de tantas canções batidas lançadas nos últimos anos, algo diferente para se ouvir. “Living With The Ghost” reforça a sensação obtida com a canção anterior: é o típico Bon Jovi do século XXI, mas com algo diferente, menos cansado. Talvez a melancolia tenha feito bem.

“Knockout” soa como uma continuação da faixa anterior. Em termos melódicos, são músicas parecidas. Só que, além de ser ainda mais pop/contemporânea, esta deixa evidente um problema: a produção ruim de Jon Bon Jovi e John Shanks. Parece-se estar dentro de uma bolha. Na sequência, “Labor Of Love” é uma versão ainda mais morta de “Wicked Game” (Chris Isaak). Até os acordes são os mesmos.

“Born Again Tomorrow” repete a mesma fórmula de outras duas faixas que já rolaram. A diferença é que o refrão não tem bateria. Só. “Roller Coaster” lembra Imagine Dragons: é gostosa de se ouvir, apesar de não trazer nada de novo. “New Year’s Day” tem uma sonoridade levemente oitentista, mas pouco lembra o Bon Jovi daquela época – está mais para The Cure ou Duran Duran. Boa canção, mas demora para crescer.

“The Devil’s In The Temple” é uma das músicas mais roqueiras por aqui. A guitarra de Phil X, enfim, aparece com mais destaque. A pegada é um pouco mais intensa. Mas nada muito fora do que foi apresentado antes. “Scars On This Guitar” é uma bonita balada que parece ter sido feita por Bruce Springsteen. Poderia ter menos que cinco minutos de duração, mas o resultado ainda é satisfatório.

“God Bless This Mess” traz o mesmo pop rock padrão de sempre, enquanto “Reunion” é uma boa balada country rock. “Come On Up To My House” fecha o álbum com uma melodia quase natalina. Até cairia bem em uma trilha sonora de um filme de comédia romântica, mas não é nada de mais em um disco.

Há outras sete músicas que entraram como bônus em diferentes versões digitais e deluxe: “Real Love”, “All Hail The King”, “We Don’t Run”, “I Will Drive You Home”, “Goodnight New York”, “Color Me In” e “Touch Of Grey”. Nada que impressione ou traga algum diferencial.

Cada vez mais em sua zona de conforto, o Bon Jovi não vai mudar muito em seus próximos lançamentos. “This House Is Not For Sale” até traz, em clima, algo diferente. No entanto, está longe de ser o suficiente para um resultado realmente satisfatório como um todo.

Diferente de boa parte dos fãs saudosistas, não acho que o Bon Jovi deva voltar a praticar o hair metal que os consagrou nos anos 1980. Um pouco de ousadia, porém, não faz mal a ninguém. É possível ser acessível de forma arrojada: basta ouvir “These Days” (1995), o último grande disco do grupo de Nova Jersey.

Nota 5

1. This House Is Not for Sale
2. Living With the Ghost
3. Knockout
4. Labor of Love
5. Born Again Tomorrow
6. Roller Coaster
7. New Year’s Day
8. The Devil’s in the Temple
9. Scars on This Guitar
10. God Bless This Mess
11. Reunion
12. Come On Up to Our House

Faixas bônus (a quantidade e a distribuição destas faixas pode mudar de acordo com cada versão do álbum):
13. Real Love
14. All Hail the King
15. We Don’t Run
16. I Will Drive You Home
17. Goodnight New York
18. Color Me In
19. Touch of Grey

Jon Bon Jovi (vocal)
David Bryan (teclado, piano)
Tico Torres (bateria, percussão)
Hugh McDonald (baixo)
Phil X (guitarra)

Músico adicional:
John Shanks (guitarra na faixa 15)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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