Van Halen: em 1996, a inesperada entrada de Gary Cherone à banda

O Van Halen nunca mais foi o mesmo a partir da segunda metade da década de 1990. A banda não conseguiu mais ter estabilidade em sua formação, em lançamentos de trabalhos de inéditas ou em turnês.

“Balance”, último disco com o vocalista Sammy Hagar, foi lançado em 1995 e teve boa recepção, apesar de sua pegada mais séria, e a turnê fluiu bem. No entanto, Hagar abandonou o barco em 1996, após a gravação da música “Humans Being”, trilha do filme “Twister”.

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O motivo da saída de Sammy Hagar nunca foi devidamente explicado. Parece ter sido uma soma de fatores que estavam deteriorando a relação entre ele e o guitarrista Eddie Van Halen. O cantor, por exemplo, não queria trabalhar em uma coletânea, que seria lançada entre 1996 e 1997, enquanto EVH insistiu que seria a melhor opção. O processo de concepção de “Humans Being” também foi conturbado, já que Eddie teve que compor tudo, incluindo as letras, porque Sammy se afastou do processo criativo.

Fato é que a saída de Sammy Hagar abriu alas para um novo vocalista. Nomes como Mitch Malloy e Sass Jordan foram considerados – Malloy chegou a gravar com a banda -, porém, logo descartados. A opção, portanto, parecia óbvia: o retorno de David Lee Roth, que estava fora da banda há mais de 10 anos e tentou uma carreira solo, mas não obteve sucesso com todos os lançamentos.

O retorno de David Lee Roth não foi anunciado oficialmente, todavia, ele apareceu com Eddie Van Halen, Michael Anthony e Alex Van Halen no MTV Video Music Awards (VMA) de 1996. As especulações apontavam que DLR estava de volta. Mas não rolou.

O motivo? Os testes feitos com Mitch Malloy, por exemplo, ocorriam enquanto David Lee Roth já estava na banda. O cantor pensou que estava de volta, só que Eddie e Alex estavam em contato com outros vocalistas. DLR se chateou e abandonou o barco do qual ele sequer fazia parte no momento.

Durante este mesmo período, Gary Cherone também estava sendo avaliado para a vaga. O Extreme havia acabado e Cherone despertou o interesse de Eddie Van Halen semanas antes do incidente do VMA, após indicação do empresário Ray Danniels. “Falei com Eddie algumas vezes e fizemos uma música pelo telefone. Voei para onde ele estava e começamos a compor no momento em que saí do avião. No segundo dia, me pediu para entrar na banda”, afirmou Gary, em entrevista à Rolling Stone.

Isso ocorreu no mês de maio, segundo relatos. Em junho, aconteceu o incidente do VMA. “Fui ao estúdio um dia e ninguém me falou sobre toda aquela imprensa atrás do Van Halen. Disseram: ‘Gary, ninguém sabe se você está na banda’. Um fotógrafo que me conhecia me perguntou o que eu estava fazendo na coletiva de imprensa e eu disse ‘nada'”, revelou Gary Cherone.

No fim das contas, Gary Cherone não sabia se havia sido sacado logo quando estava começando. Mas em novembro de 1996, depois de toda a turbulência, Cherone foi anunciado como vocalista do Van Halen. Não há, em registros na internet, uma data exata para a entrada de Cherone. No entanto, no dia 18 de novembro, Eddie Van Halen disse, a uma rádio, que Gary estava “99% na banda”.

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A passagem

Gary Cherone ficou três anos no Van Halen: entre 1996 e 1999. Durante este período, gravou apenas um disco, “Van Halen III” (1998), e fez somente uma turnê, que promoveu o álbum pelo mundo.

“Van Halen III” é ovelha negra da discografia do Van Halen. No entanto, em um catálogo fantástico, até o “pior” é muito bom.

Taxado por muitos como um trabalho solo do guitarrista Eddie Van Halen, “Van Halen III” tem uma proposta diferente de tudo o que foi apresentado anteriormente pela banda. Talvez até soe como uma continuação de “Balance”, pelas letras mais sérias e pelas melodias menos hard rock, mas, ainda assim, há uma abordagem muito distinta por aqui.

Três eixos compõem a parte musical de “III”: elementos misturados de todas as fases do Van Halen, a contemporaneidade musical na mídia naquele momento (fascinada pelo rock alternativo) e uma pitada de funk rock que já era característica no Extreme de Gary Cherone. Melodias densas, riffs mais complexos e cozinha mais bem trabalhada do que o habitual dão o subsídio necessário para que o brilho da guitarra de Eddie Van Halen dê alguns de seus mais inspirados solos até então – sem exageros.

Não à toa, “Van Halen III” é tido como um disco solo de Eddie Van Halen. Michael Anthony quase não toca baixo no álbum, apesar de Gary Cherone negar isto. Fato é que há pouco de Anthony também nos backing vocals, que são a sua marca mais característica. Alex Van Halen fez o básico por aqui e Gary Cherone contribuiu bastante, especialmente nas letras, mas ele era o nome “estranho” na parada.

Curiosamente, em entrevista à Guitar World em março de 1998, Eddie Van Halen disse que o processo de composição de “Van Halen III” era o mais diferenciado até então. “Tenho feito música há 37 ou 38 anos e nunca ninguém me deu letras para trabalhar. Este disco é um marco em minha carreira porque as letras vieram primeiro, só depois a música. Finalmente tive algo para trabalhar em cima”, afirmou, em menção às colaborações de Gary Cherone.

Seja pela escolha de Gary Cherone ou pelo momento conturbado pelo qual passava o Van Halen – inclusive Eddie Van Halen, em sua vida pessoal -, “Van Halen III” não teve a química necessária. Todavia, não é um disco ruim. Longe disso. Faixas como “Without You”, “Dirty Water Dog”, “Once”, “Fire In The Hole” e “Josephina” exploram novas texturas, abrem caminhos até então inexplorados e mostram que a banda sabia fazer algo além do “party rock”. Só não mantém o padrão VH.

A turnê que deu sequência mostrou um Van Halen entrosado e com mais energia. A química também não bateu com algumas performances de Gary Cherone, especialmente em algumas músicas da era Sammy Hagar, mas a tour marcou por ter resgatado muitas músicas da fase David Lee Roth que não eram tocadas há mais de uma década, como “Unchained”, “Mean Street”, “I’m The One”, “Jamie’s Cryin'”, entre outras.

Por fim, a parceria chegou ao fim em 1999, após as baixas vendas de “Van Halen III”. O álbum só obteve repercussão moderada nos Estados Unidos, onde conquistou disco de ouro e o 4° lugar das paradas. Para quem se acostumou com discos de platina e topo dos charts na América e em diversos outros países, era pouco.

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Humildade e reconhecimento

Chega a ser prazeroso ler as entrevistas que Gary Cherone deu durante e após sua passagem pelo Van Halen. Muito pé no chão, o vocalista nunca caiu em nenhuma pilha. Jamais criticou os ex-colegas de banda, nem os vocalistas anteriores a ele. Não é do tipo que se defende das acusações sobre o disco “Van Halen III” (1998), o único com sua participação: ele concorda que o resultado não esteve tão adequado conforme o planejado.

“As músicas novas que fizemos após a turnê eram melhores. Sentia-se mais a energia de uma banda. É difícil escutar ‘Van Halen III’. Há ótimas músicas, mas o disco em si não é ótimo. O material posterior era mais desenvolvido”, disse Gary Cherone, à Rolling Stone.

Ao podcast do jornalista Mitch Lafon, Gary Cherone garantiu que o material feito após a turnê de “III”, que contou com a participação do produtor Patrick Leonard, era mais consistente. Uma das letras, segundo ele, chegou a ser usada em “A Different Kind Of Truth”, lançado em 2012 com David Lee Roth nos vocais.

“Não há um produto finalizado daquelas sessões. Há muitas demos. Quando você vai ao quarto dos fundos do 5150 (estúdio), você passa da realidade para o surreal. Poderia ter passado três anos apenas ouvindo às faixas que ele gravou. Há um acervo de coisas que gravei da era de Sammy, da era de David, e obviamente, o último disco deles saiu dali também”, afirmou o vocalista.

Gary Cherone diz, por um lado, que não colocou tantas expectativas no trabalho com o Van Halen – “não sabia quanto tempo poderia durar”, afirmou, à Rolling Stone. Por outro, entrou tão de cabeça que trouxe muitas colaborações autorais para o disco que gravou e chegou a morar em uma casa para convidados construída na área onde residia Eddie Van Halen. Não dá para reclamar do comprometimento do cantor.

A questão é que não era mesmo para dar certo. Assim como era para fracassar o retorno de Sammy Hagar, alguns anos depois. O Red Rocker fez uma turnê catastrófica com um Van Halen deteriorado e rachado, em uma disputa entre Sammy/Michael Anthony versus os irmãos VH. Várias performances foram comprometidas pelo estado de Eddie Van Halen, cada vez mais afundado no álcool naquele momento.

O Van Halen só voltou aos trilhos no fim da década de 2000, já com Wolfgang Van Halen no lugar de Michael Anthony e David Lee Roth nos vocais. “A Different Kind Of Truth” é um disco fantástico. O problema é que nada veio depois – e, talvez, jamais venha.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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