Queen – “Innuendo”
Lançado em 5 de fevereiro de 1991
Despedidas anunciadas chegam a me dar arrepios. O caso mais recente foi de “Blackstar”, de David Bowie. Dá para dizer que “Innuendo”, último álbum de estúdio, também é.
Freddie Mercury já sabia que tinha contraído o vírus HIV quando fez “Innuendo” e seu antecessor, “The Miracle” [1989]. No entanto, “The Miracle” é bem menos reflexivo que seu sucessor e Mercury ainda aparentava estar bastante saudável. Até a finalização de “Innuendo”, a situação do cantor piorou – ele mal conseguia andar quando a banda gravou “The Show Must Go On”, segundo o guitarrista Brian May. As aparições na mídia eram ainda mais raras e não rolavam shows desde 1986.
Isso me faz pensar que, de forma intuitiva, “Innuendo” foi um adeus do subconsciente de Freddie Mercury. O teor reflexivo de letras e melodias como de “The Show Must Go On”, “These Are The Days Of Our Lives” e da faixa título entrega isso.
Aliás, a canção que dá nome ao álbum merece destaque. De um hard épico com fortes batidas, a música transita de forma arrastada até chegar passa para uma nuance inesperada, com violões flaminco tocados por Steve Howe (Yes) e Brian May. Logo após, um breve momento de psicodelia onde as vozes dos integrantes recitam, em uníssono, algo tão óbvio, mas tão esquecido no dia-a-dia: “você pode ser qualquer coisa que desejar, somente se converta em algo que sempre imagina ser – seja livre com o seu tempo, seja livre, entregue seu ego, seja livre”.
O álbum também agrupa o amadurecimento do Queen após tantos anos em atividade, em um disco que, enfim, não conta mais com tantos elementos do pop sintetizado da década de 1980. Apesar de melancólico em alguns momentos, é um trabalho mais roqueiro e que explora, sem exageros, vertentes desconexas ao rock.
Obviamente, nem tudo é tristeza nos 53 minutos de duração de “Innuendo”. O álbum também é tomado por momentos costumeiramente “pra cima”, como na divertida “Headlong”, na agitada “Ride The Wild Wind” e na pauleira “The Hitman”.
A recepção foi boa, como era de se esperar, mas não como nos tempos de estouro. “Innuendo” permaneceu no primeiro lugar das paradas inglesas por duas semanas, além de outros países como Itália (três semanas), Holanda (um mês), Alemanha (um mês e meio) e Suíça (dois meses). Nos Estados Unidos, país que o Queen abriu mão a partir de determinado momento da carreira, apenas uma 30ª colocação nos charts da Billboard. Não ter uma turnê de divulgação, naqueles tempos, prejudicava um pouco.
“Innuendo” é um disco forte e, por isso, o adjetivo “fantástico” serve para descrevê-lo. A despedida de Freddie Mercury, que morreu em 24 de novembro de 1991, é bonita de se ouvir.
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Freddie Mercury – vocal, piano, teclados, sintetizadores em 2 e 9
Brian May – guitarra, violão, slide guitar, sintetizadores em 3 e 4, piano em 3 e teclados em 3, 4 e 12
John Deacon – baixo
Roger Taylor – bateria, percussão, vocal em 6, teclados em 6 e 8, sintetizadores em 2 e 7
Músicos adicionais:
Steve Howe (creditado como “Wandering Ministrel”) – violão clássico compartilhado com Brian May em 1
Michael Moran – piano e teclados em 7
David Richards – teclados em 4 e 8, sintetizadores em 1
01. Innuendo
02. I’m Going Slightly Mad
03. Headlong
04. I Can’t Live With You
05. Don’t Try So Hard
06. Ride The Wild Wind
07. All God’s People
08. These Are The Days Of Our Lives
09. Delilah
10. The Hitman
11. Bijou
12. The Show Must Go On