Há dez anos: o renascimento do Megadeth com “The System Has Failed”

Megadeth: “The System Has Failed”
Lançado em 14 de setembro de 2004
O Megadeth entrou nos anos 2000 em uma certa crise. Fadados pelo fracasso de “Risk”, até hoje odiado pela maioria dos fãs da banda, e por baixas na line-up (o baterista Nick Menza em 1997 e o guitarrista Marty Friedman em 2000), Dave Mustaine e David Ellefson lançaram o também criticado, porém excelente “The World Needs A Hero”, com o baterista Jimmy DeGrasso já no seu segundo álbum com a banda e o guitarrista Al Pitrelli.
Apesar da popularidade irregular dos últimos trabalhos, o grupo estava bem. Mas em abril de 2002, Dave Mustaine decidiu acabar com o Megadeth por conta de um sério problema em um nervo de seu braço esquerdo. Felizmente, o ruivão se recuperou e voltou em 2004. “The System Has Failed” foi o primeiro reflexo de seu retorno. David Ellefson ficou de fora, porque, de acordo com Ellefson, Mustaine não queria retomar o grupo no patamar financeiro de onde estavam anos dois anos antes.
O álbum que hoje completa 10 anos não seria do Megadeth, mas um disco solo de Dave Mustaine. Por questões contratuais, levou o nome do grupo. Por isso, Mustaine se sentiu mais solto para trabalhar na direção artística que bem entendesse. Para isso, foi acompanhado do guitarrista Chris Poland, que integrou a banda de 1984 a 1987 e registrou os dois primeiros álbuns da discografia e dois músicos de estúdio: o baixista Jimmy Sloas (Garth Brooks, Jessica Simpson) e o baterista Vinnie Colaiuta (Frank Zappa, Sting, Jeff Beck, Sandy & Junior). Poland, apesar de velho conhecido, também funcionou como membro temporário.
“The System Has Failed” não é um disco de thrash metal. É válido ressaltar isso e colocar essa informação em mente antes da audição começar. O Megadeth parou de fazer thrash metal há algum tempo, apesar dos flertes em “Endgame” e “TH1RT3EN”. É um grito solitário de Dave Mustaine, que só recebe o nome Megadeth por motivos já explicados. Ele experimentou, ousou e teve sucesso nisso. O álbum mistura hard rock, heavy metal tradicional e thrash metal em distintos momentos, com participações de teclados e backing vocals de forma pouco vista no metal.
A abertura com “Blackmail The Universe” é pesada e lembra os tempos iniciais do Megadeth, ainda com Chris Poland na guitarra. Há uma pitada de elementos do jazz misturados ao thrash poderoso, típico da banda. Ótimo início. A cadenciada “Die Dead Enough” dá sequência com uma pegada comercial, meio orientada ao hard rock – com exceção dos trechos com pedais duplos na bateria. Faixa interessante. 
“Kick The Chair”, pesadíssima, é um thrash metal revigorado, com os riffs que só Dave Mustaine sabe fazer. É um modelo de canção que seria seguido nos trabalhos seguintes do Megadeth. “The Scorpion” é bem orientada ao heavy metal tradicional, desde a sua introdução climática à rítmica da música, pouco acelerada. Há alguns ganchos melódicos mais orientados ao pop. Poderia ser melhor se os vocais de Mustaine estivessem mais soltos, mas é um bom momento. 
“Tears In A Vial” é um hard sombrio que evidencia as qualidades de Dave Mustaine enquanto compositor. Faixa fantástica em sua construção harmônica. Os momentos finais têm uma exibição do instrumental, especialmente por parte da bateria. A introdução thrasher “I Know Jack” prepara terreno para a metálica “Back In The Day”, que flerta muito com o metal tradicional. O final é caótico. “Something That I’m Not” mistura um pouco de tudo: hard, heavy e thrash. Mas é enjoativa e não cresce.
“Truth Be Told” alterna entre momentos leves e pesados. É uma faixa interessante por aparentemente ser mais experimental, sem roteiros pré-estabelecidos. Os solos são bons. “Of Mice And Men” resgata a pegada “hard sombrio” de outrora. Os versos são interessantes. A curtinha “Shadow Of Deth” é temática e só funciona com o disco como um todo. “My Kingdom” encerra o trabalho com um pé no heavy tradicional, a não ser pelos momentos de solo.
Por mais que os trabalhos subsequentes do Megadeth tenham sido distintos entre si – o que é óbvio, pois a banda lançou mais quatro discos, o sistema do ruivão não falhou. “The System has Failed” serviu de modelo para o som oxigenado e reinventado que o grupo passou a fazer depois de seu retorno. Pontos para Dave Mustaine, que, ao meu ver, é um raro gênio da música.
Dave Mustaine (vocal, guitarra)
Chris Poland (guitarra exceto em 6)
Jimmy Sloas (baixo)
Vinnie Colaiuta (bateria)
Músicos adicionais:
Tim Akers (teclados)
Darien Bennett (voz do general em 1)
Eric Darken (percussão)
Michael Davis (efeitos sonoros)
Lance Dean (vocais adicionais)
Scott Harrison (vocais adicionais)
Charlie Judge (teclados)
Celeste Amber Montague (voz da repórter em 1)
Justis Mustaine (voz de background)
Ralph Patlan (voz do político em 1, vocais adicionais)
Chris Rodriguez (backing vocals)
Robert Venable (vozes adicionais)
Jonathan Yudkin (cordas, banjo)
01. Blackmail the Universe
02. Die Dead Enough
03. Kick the Chair
04. The Scorpion
05. Tears in a Vail
06. I Know Jack
07. Back in the Day
08. Something That I’m Not
09. Truth Be Told
10. Of Mice And Men
11. Shadow of Deth
12. My Kingdom

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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