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30 anos de “Perfect Strangers”, o último disco ótimo do Deep Purple

Deep Purple: “Perfect Strangers”
Lançado em 16 de setembro de 1984

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O fim do Deep Purple em 1976 foi natural. Com apenas Jon Lord e Ian Paice da formação clássica, o grupo deidiu encerrar as atividades. Apenas um projeto dos ex-integrantes deu certo de imediato: o Rainbow, de Ritchie Blackmore. Os demais, com exceção do futuro Whitesnake de David Coverdale, vocalista entre 1974 e 1976, conviveram com um parcial ostracismo.
Oito anos depois do fim, era hora de recomeçar. O Deep Purple, enfim, retomou as atividades com sua formação clássica, a Mark II, composta por Ian Gillan, Ritchie Blackmore, Jon Lord, Roger Glover e Ian Paice. Tudo o que os fãs esperavam. Mas o mercado da música havia mudado um pouco. No rock, o órgão Hammond deu lugar aos sintetizadores e as magras Fender Stratocaster cederam espaço às robustas guitarras com Floyd Rose, só para dar dois exemplos. O Purple teria espaço nesse novo momento?

Com certeza. Mas o conceito artístico da banda foi além. Os integrantes sabiam que uma reunião não se sustentaria por si só. Era necessário apresentar um bom trabalho de retorno. Canções que justificassem o motivo pelo qual cinco grandes músicos voltariam a trabalhar juntos. Eles conseguiram. “Perfect Strangers”, que hoje completa 30 anos de lançamento, persiste como um álbum definitivo na história do rock pesado.
A abertura “Knocking At Your Back Door” é perfeita. Os riffs que a conduzem tiram o fôlego de qualquer um. Enquanto isso, a ainda saudável voz de Ian Gillan dá show de interpretação. Há uma pequena pitada, um leve clima de anos 1980 aqui, mas com a aura criativa da década anterior. “Under The Gun” segue o disco com uma melodia embrulhada, meio dark. A cozinha se destaca e os teclados de Jon Lord sobrepõem a guitarra, que só brilha mesmo (e como!) durante o solo. A pequena parte de queda rítmica é coisa de gênio.

“Nobody’s Home” é um hard rock legítimo, conduzido pela bateria magistral de Ian Paice: do cowbell às viradas. Ian Gillan se esgoela e guitarra, baixo e teclados seguem a mesma linha. Dá arrepios. A pegada blues rock de “Mean Streak” remete totalmente aos anos 1970. O instrumental se destaca sem optar por caminhos óbvios. O solo de Ritchie Blackmore é sensacional. Clássica até a veia.
A climática faixa título, na sequência, é uma das melhores músicas de rock que já ouvi até hoje. A cadência rítmica, a interpretação da letra na voz, a sequência de riffs, a participação de cada instrumento… tudo é irretocável. Perfeito. “A Gibsy’s Kiss” é outro momento setentista. O início gradual da canção descamba para uma excelente performance de Jon Lord e Roger Glover. Ian Gillan adota uma voz ainda mais aguda, orgânica e poderosa. Essa faixa tem a cara do Rainbow.

A balada “Wasted Sunsets” é um prato cheio para quem aprecia músicas mais lentas, mas não é para mim. É um pouco estática, apesar da boa performance legítima de guitar hero por Ritchie Blackmore. “Hungry Daze” também traz muito de Rainbow. A influência neoclássica, típica de Blackmore se sobressai na melodia. Não à toa, o guitarrista brilha, ao lado de Jon Lord. “Not Responsible”, bônus das versões em CD e cassete, fecha o disco com uma cara oitentista, meio AOR, mas ainda agressiva – até pela letra – e com um campo harmônico que foge do óbvio. Cortesia dos compositores.
“Perfect Strangers” foi um sucesso não apenas entre os fãs, mas também fez com que o Deep Purple voltasse a ser uma atração rentável. O trabalho conseguiu disco de platina nos Estados Unidos e no Canadá, e ouro na Alemanha, no Reino Unido e na Argentina. A turnê de divulgação foi tão requisitada que a banda precisou adicionar dezenas de datas adicionais para a parte estadunidense da excursão, que foi a segunda mais rentável de 1985 – só perdeu para a de Bruce Springsteen.

Para se reinventar, o Deep Purple aproveitou a genialidade e a espontaneidade dos anos 1970 e aliou tais definições ao frescor e às inovações sonoras da década de 1980. Sem soar desfigurado, o quinteto conseguiu um híbrido entre a modernidade (da época) e a própria identidade. Cada músico estava no auge de suas habilidades, o que favorece ainda mais a experiência de escutar “Perfect Strangers”, um disco poderoso e charmoso. E, certamente, o último realmente ótimo da banda.

Ian Gillan (vocal)
Ritchie Blackmore (guitarra)
Jon Lord (órgão, teclados)
Roger Glover (baixo)
Ian Paice (bateria)

1. Knocking At Your Back Door
2. Under The Gun
3. Nobody’s Home
4. Mean Streak
5. Perfect Strangers
6. A Gypsy’s Kiss
7. Wasted Sunsets
8. Hungry Daze
9. Not Responsible

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioResenhas30 anos de "Perfect Strangers", o último disco ótimo do Deep Purple
Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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O fim do Deep Purple em 1976 foi natural. Com apenas Jon Lord e Ian Paice da formação clássica, o grupo deidiu encerrar as atividades. Apenas um projeto dos ex-integrantes deu certo de imediato: o Rainbow, de Ritchie Blackmore. Os demais, com exceção do futuro Whitesnake de David Coverdale, vocalista entre 1974 e 1976, conviveram com um parcial ostracismo.
Oito anos depois do fim, era hora de recomeçar. O Deep Purple, enfim, retomou as atividades com sua formação clássica, a Mark II, composta por Ian Gillan, Ritchie Blackmore, Jon Lord, Roger Glover e Ian Paice. Tudo o que os fãs esperavam. Mas o mercado da música havia mudado um pouco. No rock, o órgão Hammond deu lugar aos sintetizadores e as magras Fender Stratocaster cederam espaço às robustas guitarras com Floyd Rose, só para dar dois exemplos. O Purple teria espaço nesse novo momento?

Com certeza. Mas o conceito artístico da banda foi além. Os integrantes sabiam que uma reunião não se sustentaria por si só. Era necessário apresentar um bom trabalho de retorno. Canções que justificassem o motivo pelo qual cinco grandes músicos voltariam a trabalhar juntos. Eles conseguiram. “Perfect Strangers”, que hoje completa 30 anos de lançamento, persiste como um álbum definitivo na história do rock pesado.
A abertura “Knocking At Your Back Door” é perfeita. Os riffs que a conduzem tiram o fôlego de qualquer um. Enquanto isso, a ainda saudável voz de Ian Gillan dá show de interpretação. Há uma pequena pitada, um leve clima de anos 1980 aqui, mas com a aura criativa da década anterior. “Under The Gun” segue o disco com uma melodia embrulhada, meio dark. A cozinha se destaca e os teclados de Jon Lord sobrepõem a guitarra, que só brilha mesmo (e como!) durante o solo. A pequena parte de queda rítmica é coisa de gênio.

“Nobody’s Home” é um hard rock legítimo, conduzido pela bateria magistral de Ian Paice: do cowbell às viradas. Ian Gillan se esgoela e guitarra, baixo e teclados seguem a mesma linha. Dá arrepios. A pegada blues rock de “Mean Streak” remete totalmente aos anos 1970. O instrumental se destaca sem optar por caminhos óbvios. O solo de Ritchie Blackmore é sensacional. Clássica até a veia.
A climática faixa título, na sequência, é uma das melhores músicas de rock que já ouvi até hoje. A cadência rítmica, a interpretação da letra na voz, a sequência de riffs, a participação de cada instrumento… tudo é irretocável. Perfeito. “A Gibsy’s Kiss” é outro momento setentista. O início gradual da canção descamba para uma excelente performance de Jon Lord e Roger Glover. Ian Gillan adota uma voz ainda mais aguda, orgânica e poderosa. Essa faixa tem a cara do Rainbow.

A balada “Wasted Sunsets” é um prato cheio para quem aprecia músicas mais lentas, mas não é para mim. É um pouco estática, apesar da boa performance legítima de guitar hero por Ritchie Blackmore. “Hungry Daze” também traz muito de Rainbow. A influência neoclássica, típica de Blackmore se sobressai na melodia. Não à toa, o guitarrista brilha, ao lado de Jon Lord. “Not Responsible”, bônus das versões em CD e cassete, fecha o disco com uma cara oitentista, meio AOR, mas ainda agressiva – até pela letra – e com um campo harmônico que foge do óbvio. Cortesia dos compositores.
“Perfect Strangers” foi um sucesso não apenas entre os fãs, mas também fez com que o Deep Purple voltasse a ser uma atração rentável. O trabalho conseguiu disco de platina nos Estados Unidos e no Canadá, e ouro na Alemanha, no Reino Unido e na Argentina. A turnê de divulgação foi tão requisitada que a banda precisou adicionar dezenas de datas adicionais para a parte estadunidense da excursão, que foi a segunda mais rentável de 1985 – só perdeu para a de Bruce Springsteen.

Para se reinventar, o Deep Purple aproveitou a genialidade e a espontaneidade dos anos 1970 e aliou tais definições ao frescor e às inovações sonoras da década de 1980. Sem soar desfigurado, o quinteto conseguiu um híbrido entre a modernidade (da época) e a própria identidade. Cada músico estava no auge de suas habilidades, o que favorece ainda mais a experiência de escutar “Perfect Strangers”, um disco poderoso e charmoso. E, certamente, o último realmente ótimo da banda.

Ian Gillan (vocal)
Ritchie Blackmore (guitarra)
Jon Lord (órgão, teclados)
Roger Glover (baixo)
Ian Paice (bateria)

1. Knocking At Your Back Door
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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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