Rock n’ roll versátil de Claudio Paradise tem repertório e fortes composições

Claudio Paradise: “Música Para Desktop” (2014)

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No underground, Claudio Paradise não deve ser nome totalmente desconhecido a alguns mais aficionados. Ele foi o vocalista, guitarrista e principal compositor do Gametas, banda de hard rock carioca de temáticas pouco ortodoxas. Ele também integrou a banda de Sylvinho Blau Blau, que se apresentou na Tenda Brasil do Rock In Rio 2001, e faz parte do projeto O Rebu, de Tico Santa Cruz (Detonautas Roque Clube), entre outros.
Acompanhado de Fabio Brasil (também Detonautas) na bateria, Claudio Paradise gravou seu primeiro disco solo, “Música Para Desktop”, em seu estúdio caseiro. Mas a qualidade da gravação e da mixagem do registro não tem nada de “caseira”. Ambicioso, Paradise afirma que vai lançar um álbum por semestre. E ao ouvir o trabalho mais recente, a expectativa é que o projeto se concretize.
“Música Para Desktop”, lançado hoje no iTunes, mostra que Claudio Paradise tem repertório. A experiência de décadas no rock n’ roll – compõe desde 1985 – fez com que seu leque obviamente abrisse para outros estilos de música e de composição, tanto lírica quanto melódica. Dessa forma, é de se esperar que, musicalmente, o álbum fuja do rock n’ roll em alguns momentos para flertar com outros gêneros. O mérito se torna ainda maior porque, mesmo com as “puladas de cerca”, o trabalho tem unidade.

A faixa “Filmes Que Ninguém Viu” é um rock n’ roll forte, com início climático, melodia grudenta e letra muito boa. Identifiquei-me muito com a letra do refrão, por acaso: “Me amarro em ver filmes que ninguém viu; Ouvir canções que pouca gente ouviu; Andar atrás de novas sensações; Experimentar outras emoções”. Efeitos e inserções estratégicas de mais uma guitarra rítmica tornam a faixa ainda mais interessante. Se a bateria não fosse tão reta, seria a melhor do disco. “Bullying Na Escola” tem letra bem humorada e instrumental bem orientado ao AOR. A presença de sintetizadores em alguns momentos dá a tônica de que é uma faixa muito melódica. O trabalho de guitarra é muito bom até mesmo nos versos, onde se espera monotonia.
Duas baladas dão sequência ao disco. “Ador@vel Superman” traz uma letra interessante, que desconstrói a ideia do romance pessoal, tido como ideal, para aquele que muitos optam – o virtual. A melodia é grudenta e bem orientada ao pop rock, mas sem os clichês de grande parte das bandas nacionais do gênero. “Evelyn” tem um leve charme da MPB contemporânea, especialmente pelos teclados ao fundo que vez ou outra aparecem de forma menos tímida. Os vocais e as guitarras dessa faixa são muito bem colocados – especialmente pelo solo, que é sensacional.
Com instrumentos de sopro, “Rei do Baile” bebe nas fontes do ska e é um convite irresistível para, pelo menos, bater o pé ou mexer o ombro. “Fecho Os Olhos” retoma o rock de forma um pouco mais tradicional – vale ressaltar que o estilo está presente em todas as faixas. A canção é um pop rock nos moldes do final da década de 1990 e início dos anos 2000, que tem o Detonautas de Fabio Brasil entre os expoentes. Iuri Escabroso, filho de Paradise e ex-guitarrista do Gametas, faz um solo digno de destaque. “Ainda É Cedo” é um country brasileiro de primeira e quebra totalmente o ritmo do disco. Algo positivo, diga-se de passagem. O solo lembra algo de bolero.
“Vamos Fazer Um Baby” lembra Thin Lizzy de início e mantém a proposta rock n’ roll na letra e na melodia. A bateria é versátil e dá um clima interessante à música. A semi-balada “Foi Em Vão” encaminha o disco ao final de forma harmônica. As nuances são suaves e a voz segue essa linha. Talvez, se o vocal tivesse alguns momentos de agressividade, seria uma música melhor. Mas é boa. O fechamento do trabalho fica por conta de “(Muita Calma) Take It Easy”, claramente influenciada pelo delta blues. A canção foi inteiramente gravada com dobra vocal – ou seja, Paradise canta duas trilhas em tonalidades diferentes. Ótimo encerramento.
“Música Para Desktop” é um trabalho diferenciado porque foi feito com cuidado. Claudio Paradise não parece ter selecionado qualquer faixa para integrar o álbum. Não há filler. Cada canção tem sua proposta. Alguns detalhes, como ausência de linhas de bateria um pouco mais marcantes em algumas músicas ou até de agressividade na voz, justificam minha nota. Mas são detalhes. Não diminuem a qualidade do produto final.
O talento acima da média, especialmente nas composições, faz com que me questione por qual motivo Paradise ainda não atingiu a grande mídia, a fama propriamente dita ou até mesmo a consagração no underground a nível nacional. Caso ele realmente não chegue a este patamar, a vantagem é de quem teve o prazer de conhecer “Música Para Desktop”.

Nota 8,5

Claudio Paradise (vocal, violão, baixo, guitarra, teclados)
Fabio Brasil (bateria)

Músicos adicionais:
Iuri Escabroso (guitarra solo em 6)
Regis Antonio (órgão e metais 5, piano em 10)

01. Filmes Que Ninguém Viu
02. Bullying na Escola
03. Ador@vel Superman
04. Evelyn
05. Rei do Baile
06. Fecho Os Olhos
07. Ainda É Cedo
08. Vamos Fazer Um Baby
09. Foi Em Vão
10. (Muita Calma) Take It Easy

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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