O desentendimento entre Adriana Toscano, viúva de Canisso, e o Raimundos ganhou um novo capítulo na última quarta-feira (10). Após afirmar em comunicado que cumpriu os termos do contrato de sócios, a banda publicou trechos do acordo formal em suas redes sociais.
Em postagem no Instagram, o grupo refutou as acusações feitas por Toscano no que diz respeito a interromper repasses de cachês de shows da atual formação. Além disso, a nota declara que medidas cabíveis serão tomadas contra calúnia — especificamente em menção a uma entrevista onde a viúva do baixista disse ter sido agredida por Digão, vocalista e guitarrista, nos bastidores de uma apresentação quando Rodolfo Abrantes ainda era integrante.
O comunicado afirma:
“A assessoria do Raimundos esclarece que todas as acusações feitas pela Sra. Adriana Toscano, viúva de Canisso, são falsas.
1) É ABSOLUTAMENTE FALSA a acusação de agressão à viúva de Canisso, Sra. Adriana Toscano. A equipe jurídica da banda já foi acionada e adotará as medidas cabíveis contra os responsáveis por essa CALÚNIA!
2) Com relação à suposta ausência de repasse de valores, esclarecemos que a empresa da qual os herdeiros são sócios (Paulêra) não possui exclusividade para a contratação de shows da banda Raimundos e não é proprietária da marca ‘Raimundos’. Diante disso, tendo em vista que eles não são músicos e não fazem shows, não devem receber qualquer percentual sobre o valor decorrente dessa prestação de serviço, que é destinado unicamente aos integrantes da banda.
3) Os herdeiros possuem o direito apenas de receber a distribuição de lucros da empresa Paulêra, caso haja.
4) O registro da marca sempre esteve em nome de outra empresa, cujo único sócio é o Digão. Canisso se retirou dessa sociedade em 2003, o que é de conhecimento da Sra. Adriana Toscano.
5) Os herdeiros continuam recebendo integralmente os valores correspondentes às obras musicais, direitos autorais, ECAD dos shows e demais receitas que lhes são de direito.
6) A banda ofereceu e cumpriu um apoio financeiro voluntário e temporário à família de Canisso. Esse suporte representa um privilégio que não será permitido às famílias dos atuais integrantes em caso de falecimento.
Tudo está documentado e registrado perante os órgãos competentes.”
Além da mensagem em texto, o Raimundos divulgou cópias do contrato da Paulêra (uma das duas empresas) e o assinado por Canisso na sua saída da Tobalove (a outra empresa), em 2003, quando deixou o Raimundos. Segundo o documento, ele se desfez de suas 334 cotas no valor de R$ 334,00 para Digão e o ex-baterista Fred Castro, dois dos membros fundadores remanescentes na época.
Além disso, o conteúdo traz comprovantes de que, após a saída de Fred em 2007, Digão é atualmente o único sócio-proprietário da empresa. A postagem também apresenta um comprovante do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) sobre a natureza da companhia.
O primeiro documento do INPI descreve os direitos exclusivos do Raimundos com relação a filmes, vídeos, fotografias, litografias e espetáculos artísticos em geral, incluindo shows, banda de música, conjunto musical e programas musicais de rádio e televisão. O segundo foca em discos, fitas, disquetes, vídeos, DVDs e CDs.
A acusação da viúva de Canisso
Em declaração ao S.O.M., projeto da Mídia Ninja sobre música, Adriana Toscano contou que existia um contrato estabelecendo o repasse de parte dos cachês de shows realizados após a morte de seu marido, em 2023 — e destacou que o acordo foi respeitado de início. No entanto, ela afirma que os pagamentos foram interrompidos sem aviso e o grupo mudou o seu CNPJ.
Segundo seu relato, Digão solicitou seu apoio logo após a morte de Canisso para que a banda mantivesse suas atividades, com o roadie Jean Moura ocupando a vaga do músico. Adriana aceitou e manifestou isso de forma pública.
Durante o velório, o vocalista e guitarrista prometeu, segundo ela, repassar uma parte dos cachês de shows como forma de ajudar a família do baixista, que deixou quatro filhos. O acordo foi formalizado em contrato. A partir deste período, o grupo teve um aumento na agenda de apresentações e passou a incluir eventos em homenagem ao falecido colega. Em dado momento, porém, os valores combinados deixaram de ser transferidos.
Adriana esclareceu, ainda, que o acordo formal envolve somente os cachês de shows, principal fonte de renda do grupo, e que advogados a representam no caso. Os direitos autorais das composições gravadas seguem pagos aos filhos por meio do inventário.
Primeiro comunicado da banda
Antes de publicar trechos de contratos, o Raimundos já havia se manifestado pelas redes sociais. O texto inicial afirma:
“A Banda Raimundos lamenta as alegações e acusações recentemente formuladas pela Sra. Adriana, viúva do Canisso.
Todos os reflexos financeiros de direitos autorais de Canisso foram, são e serão respeitados, como é de conhecimento da própria família, atendendo aos contratos, estatutos de empresas e legislação aplicável.
Cumpre destacar que, para além das obrigações determinadas em lei, a Banda Raimundos prestou apoio e auxílio à família do Sr. Canisso por mera liberalidade e consideração pessoal, jamais se furtando a colaborar de maneira ética, respeitosa e humana.
Qualquer afirmação que extrapole esses fatos carece de fundamento e configura mera especulação, cujos objetivos a Banda lamenta profundamente.
A Banda Raimundos sempre manteve postura íntegra, solidária e responsável em relação à família do Sr. Canisso, repudiando qualquer imputação de conduta leviana.
A Banda informa, por fim, que as medidas Legais já estão sendo providenciadas e reitera os votos de respeito, saúde e serenidade a todos.”
Canisso e Raimundos
José Henrique Campos Pereira, o Canisso, nasceu em 9 de dezembro de 1965, na cidade de São Paulo. Sua família se mudou para o Rio de Janeiro quando ele tinha 9 meses de idade, indo para Brasília em seguida quando o então garoto tinha 3 anos. Ele residiu na capital federal até a adolescência.
Após um período em São Paulo, retornou a Brasília, cidade onde o Raimundos foi criado em 1987. Com influências do punk rock e da música nordestina, o grupo se consolidou com Rodolfo Abrantes nos vocais, Digão na guitarra e Fred na bateria, além de Canisso no baixo.
Ao longo da década de 1990, o Raimundos se tornou uma das maiores bandas de rock do Brasil. Discos como a estreia homônima de 1994, “Lavô Tá Novo” (1995) e “Só no Forévis” (1999) venderam milhões de cópias, rendendo hits como “Mulher de Fases”, “A Mais Pedida”, “Me Lambe”, “Eu Quero Ver o Oco”, “I Saw You Saying (That You Say That You Saw)”, “Selim” e “Puteiro em João Pessoa”.
Canisso fez parte da banda até 2002, quando saiu pouco tempo após o vocalista Rodolfo Abrantes ter deixado a formação. O músico, que chegou a integrar o Rodox com Abrantes no período em sequência, retornou ao grupo que o consagrou em 2007, sendo um dos integrantes com maior tempo de permanência além do vocalista e guitarrista Digão.
Nos últimos anos, o Raimundos tem sido alvo de críticas após posicionamentos políticos manifestados por Digão, que chegou a comparar a situação de pandemia no Brasil com “amostra grátis de comunismo”. Canisso chegou a dizer em entrevistas que a banda estava suspensa por toda a confusão, que também se desencadeou em provocações do frontman a outros músicos brasileiros como Tico Santa Cruz (Detonautas Roque Clube) e João Gordo (Ratos de Porão), mas também saiu em defesa do colega ao dizer que, apesar do erro, uma retratação foi publicada.
Canisso morreu em 13 de março de 2023, aos 57 anos. O músico sofreu um infarto.
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Bluesky | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.
