Recentemente, a Dogma esteve envolvida em uma grande polêmica. No último dia 26 de outubro, as integrantes Lilith (Grace Jane / voz), Lamia (Amber Maldonado / guitarra) e Rusalka (Patri Grief / guitarra) publicaram que foram substituídas de forma indevida e criticaram duramente a gestão do grupo, além de, pela primeira vez, revelarem oficialmente suas identidades. Desde então, uma onda de acusações ao empresário da banda veio à tona.
Primeiro, foi Rusalka, cujo nome verdadeiro é Patri Grief, quem trouxe mais detalhes a respeito do tópico. Em um longo texto, a guitarrista denunciou maus-tratos por parte do gestor, que, segundo a própria, incluíam falta de pagamento adequado, alimentação insuficiente, visto de trabalho irregular, manipulação, misoginia e abuso psicológico. Depois, musicistas sondadas para integrar a formação em outros momentos também expuseram situações diversas.
Agora, uma outra versão da história também chegou a público. Amber Maldonado, a Lamia, realizou novas denúncias contra a gestão, em nota compartilhada nas redes sociais na última quarta-feira (22), abordando as más condições de trabalho vividas pelas musicistas.
Como relatado, Amber entrou para a Dogma ainda em 2022. Meses mais tarde, começou a gravar o álbum homônimo de 2023 e, ao receber o contrato referente ao pagamento pelo material, percebeu que o valor parecia baixo para o serviço prestado — o que acendeu o primeiro sinal de alerta.
“Em fevereiro de 2022, fui contatada para fazer uma audição para a Dogma. Só existia um videoclipe não lançado de ‘Father I Have Sinned’, mas eu fiquei interessada […]. No dia do meu 25º aniversário, me disseram que eu tinha passado. Tudo parecia certo. Eu vinha em uma sequência intensa nas redes sociais, criando conteúdo meticulosamente e acompanhando meu crescimento constante. Achei que meus esforços estavam finalmente rendendo frutos. Uma semana depois, fui levada para o Uruguai, onde conheci as outras garotas, e gravamos ‘Forbidden Zone’ e ‘My First Peak’. Me enturmar com as outras garotas foi fácil e natural. Naquela semana, o videoclipe de ‘Father I Have Sinned’ foi lançado e passamos a noite juntas comemorando. Nossa vocalista deixou o projeto oficialmente alguns meses depois, e eu fiquei arrasada. A equipe me disse que ela saiu por questões pessoais. Eu quis respeitar sua privacidade, então não fiz perguntas. Alguns meses depois, o álbum ficou pronto e o contrato finalmente foi enviado. Conversei com amigos sobre o pagamento. Para uma banda de metal desconhecida, sem um álbum lançado, era um pouco baixo. O contrato dizia que eu precisava de permissão da equipe para sair. Eu alterei essa parte.”
Não demorou para que toda a formação fosse trocada. Até então, a guitarrista achava que as musicistas haviam saído por vontade própria e que mantinham um bom relacionamento com a gestão. Contudo, o primeiro abuso teria vindo pouco depois, quando, segundo seu relato, foi obrigada a tocar de salto com o tornozelo torcido:
“Em setembro de 2023, fui para a Argentina filmar ‘Carnal Liberation’ e ‘Made Her Mine’, desta vez com uma formação completamente nova. Até onde eu sabia, as outras garotas haviam saído por mudanças na vida. Ao longo do último ano e meio, tive uma comunicação regular com a equipe de gerenciamento e achei que éramos amigos. Olhando para trás, era tudo uma armadilha: manter uma boa aparência para segurar a única integrante restante enquanto focavam em substituir todo o resto. Em novembro de 2023, o álbum foi lançado e a única coisa que faltava agora era fazer turnê, algo que eu queria mais do que tudo […]. A turnê começou a expor a verdade sobre a equipe de gerenciamento. Voltei para casa destruída. Torci meu tornozelo no meio de um show no Uruguai […]. Enfaixei meu tornozelo com fita adesiva para conseguir terminar a turnê. Meus joelhos ficaram cheios de hematomas por causa da forma como meu peso era distribuído usando salto alto. Quando pedi para usar botas com um salto mais baixo para proteger meus joelhos, a equipe me disse que não, porque eu pareceria baixa demais ao lado de Rusalka. Meu corpo inteiro estava tenso por toda a turbulência emocional que eu vinha enfrentando […].”
A situação teria ficado ainda mais grave. De acordo com a guitarrista, a equipe passou a não arcar nem mesmo com a alimentação das artistas — que precisaram tirar dinheiro do próprio bolso — e a fazer exigências relacionadas às entrevistas com base em inteligência artificial:
“Fizemos nossa turnê pelos EUA em novembro de 2024. Adotei uma postura completamente diferente nessa turnê. Fora tocar, fazer passagem de som e participar de meet and greets, eu ficava na minha, lendo quietamente na minha beliche. Apesar disso, o tratamento da equipe de gerenciamento só piorou. A equipe não priorizava a compra de comida. Acabei indo a pé até o Walmart para comprar, com meu próprio dinheiro, a comida necessária para a banda e para a equipe pelo mês seguinte. Em março de 2025, fui contatada sobre fazer uma turnê de dois meses pela Europa e América Latina. Eu tinha acabado de começar um emprego novo, então inicialmente recusei o convite. Não fui a única. Eu tinha a impressão de que nós éramos a banda e que, se não pudéssemos fazer turnê, então a turnê não aconteceria. Nada disso. Foi aí que descobrimos que não tínhamos voz nenhuma para decidir se a turnê aconteceria ou não. Apenas nos perguntavam se iríamos. A equipe me manipulou para entrar na turnê, dizendo que todo mundo tinha dito sim. Se eu quisesse tocar na turnê de verão pela Europa, eu precisava dizer aceitar, porque, uma vez fora, eu estaria fora para sempre. Duas semanas após o início da turnê de abril, eu sabia que não voltaria. Estava tocando shows todas as noites e depois trabalhando no meu outro emprego até as 3 da manhã. Nenhuma tentativa de ‘ficar na minha’ impedia o gerenciamento de arrumar briga comigo […]. A equipe continuava criando brigas por causa da minha agenda de trabalho. Me perguntaram como eu estava compensando a banda pelo dinheiro perdido ao faltar a um meet and greet. Eu faço esses eventos de graça. Como eu estava sendo compensada pelo trabalho pago que eu perdia para fazer shows? Nos meus dias de folga da turnê, eu tinha que sair para dar entrevistas. Normalmente eu adoro entrevistas, mas não quando tenho que seguir páginas escritas por IA pela equipe. Nunca fui compensada por isso.”
Amber ainda mencionou um problema ocorrido no Brasil. Em maio, a Dogma veio ao país para tocar no “esquenta” do festival Bangers Open Air, no Memorial da América Latina, em São Paulo, e como atração de abertura em excursão de Fabio Lione. Durante todo o período, segundo o relato, as artistas não tiveram qualquer acesso à programação, para que ficassem dependentes da equipe. O texto afirma:
“Quando tocamos no Chile, Grace enfrentou uma série de problemas técnicos. Logo após o show, todas nós levamos bronca por quase uma hora. Quando eu apontei que gritar era uma atitude pouco profissional, a equipe respondeu dizendo que eu é que era pouco profissional e estava invertendo a situação, porque nenhum outro gerente toleraria o nosso ‘trabalho malfeito’. Entramos em outra briga com o gerenciamento porque ele queria que tocássemos o álbum inteiro em um programa de rádio de graça, dizendo que éramos uma família e deveríamos nos ajudar [nota da edição: a artista não menciona, mas ela pode estar se referindo a uma performance na rádio Kiss FM, transmitida também no YouTube]. Essa discussão durou quase 2 horas. Outra tática de manipulação: desgastar o oponente. No Brasil, não recebemos nenhum daysheet. A equipe proibiu especificamente a tour manager brasileira de nos enviar essas informações. Isso foi outra forma de nos controlar. Se não soubéssemos os horários da nossa programação, não teríamos independência alguma. Fazer turnê era meu sonho, mas não valia esse nível de estresse e maus-tratos. Pela minha saúde, tive que recuar […].”
Por fim, a guitarrista declarou:
“Por que eu não falei nada antes? Eu sabia que, se tudo isso começasse a vir à tona durante a turnê de verão, o gerenciamento descontaria a raiva na banda. Esperei até o momento certo. Esse momento é agora. Desde que falei, sinto que voltei a ser eu mesma e, ao fazer isso, recuperei minha conexão com a música. Nunca deixe ninguém te silenciar. Sua voz importa.”
A resposta anterior da Dogma
Em um texto publicado no Instagram oficial no dia 27 de outubro, a Dogma ofereceu uma declaração vaga sobre a saída das integrantes. Quanto às acusações feitas contra o empresário de “manipulação, maus-tratos e mentiras” e de transformar a banda em uma marca, nada foi dito.
Há ainda uma foto de cinco integrantes. Ou seja: as musicistas ocupando vocais e as duas guitarras nas vagas faltantes estão definidas, embora nada a respeito delas tenha sido revelado.
A banda escreveu:
“Estamos cientes de declarações online recentes de algumas ex-integrantes não originais do Dogma. Embora respeitemos todas que contribuíram para nossa jornada, queremos deixar claro que Dogma sempre foi e continuará sendo muito maior do que qualquer indivíduo.
Dogma foi fundado com base na criatividade, colaboração e evolução. Como qualquer projeto artístico, a mudança faz parte do nosso crescimento. Cada membro, do passado e do presente, deixou uma marca que ajudou a moldar quem somos hoje, mas a visão e a música da Dogma continuam a avançar por meio da dedicação da equipe atual e do apoio de nossos fãs. Somos gratos pelo tempo, energia e momentos que cada membro compartilhou com a Dogma. Cada contribuição, grande ou pequena, tornou-se parte dessa jornada e sempre será apreciada e valorizada.
Continuamos totalmente comprometidos com os valores que definem o Dogma: autenticidade, liberdade de expressão e conexão por meio da arte. Nosso foco é e sempre será na música, na mensagem e na comunidade que tornaram este projeto o que ele é.
Obrigado a todos que continuam acreditando na Dogma e no que defendemos, porque Dogma nunca foi sobre quem somos, mas sim sobre o que VOCÊ escolhe se tornar…”
Sobre Amber Maldonado
Amber Maldonado, que adota o nome artístico Aveya, compartilha com frequência uma série de releituras tanto no Instagram quanto no YouTube. Avril Lavigne, Metallica e Bullet for My Valentine estão entre os artistas que ganharam versões da guitarrista, que lançou o álbum autoral e instrumental “The Earth Still Breathes” em 2020.
Em descrição oficial, a instrumentista — que também toca violino — afirma ser “obcecada pelo metal progressivo”. Atualmente, reside em Los Angeles.
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