Táticas de choque visual não são novidade no rock e no metal. Entretanto, ainda é curioso ver como algumas pessoas continuam se surpreendendo.
Foi o caso dos painéis que flanqueavam a bateria de Abrahel, da Dogma, primeira atração do palco Hot Stage e segunda como um todo da sexta-feira de aquecimento do Bangers Open Air 2025, no Memorial da América Latina. As imagens remetiam a cenas de orgias envolvendo bispos, cardeais e até um monge budista, todos em deleite com a freira mais voluptuosa já vista nos domínios do heavy metal. Um verdadeiro desfile iconoclasta de erotismo sacrilégico.
Na plateia, era fácil identificar quem estava ali especialmente para conferir o show da banda cujas origens e identidades ainda envoltas em mistério remetem à estratégia bem-sucedida de nomes como Kiss, Slipknot e, mais recentemente, Ghost. Hábitos religiosos, véus, corpse paint e uma encenação ritualística compunham a estética do grupo — um déjà vu do Teatro Mágico do Inferno promovido pelo Avatar no Summer Breeze Brasil 2024, mas com sonoridade bem distinta.
O som da Dogma flerta diretamente com o hard rock europeu de pegada clássica, temperado com elementos do heavy metal e algumas pinceladas góticas. A força da performance reside tanto na música quanto na presença cênica das integrantes.
A vocalista Lilith esbanja carisma e teatralidade, conduzindo o show com segurança. Já Nixe, a baixista, com sua performance enérgica e trejeitos que lembram Gene Simmons, parece saída de uma realidade paralela onde o linguarudo do Kiss tem uma filha perdida tocando baixo com dedos de adamantium. As guitarristas Lamia e Rusalka completam o lineup.
A provocação com poses, agachamentos e figurinos sensuais faz parte da proposta estética do grupo. Nem todos entendem a mensagem. Comentários machistas como “gostosa” e “ô lá em casa” vieram, previsivelmente, de alguns homens mais velhos, que ignoram — ou fingem ignorar — que a Dogma não está ali para alimentar fantasias masculinas, mas para reivindicar o palco como território de expressão feminina. “Lugar de mulher é onde ela quiser”, e essas cinco se valeram do palco do Bangers para provar que o metal ainda pode — e deve — ser um espaço de ruptura.
Apesar de problemas técnicos no som — uma constante nas seis atrações da noite de abertura —, o show foi coeso, teatral e, acima de tudo, provocador. No repertório, brilharam a explosiva “My First Peak”, o peso dramático de “Father I Have Sinned” e a recém-lançada “Banned”, cujos versos abordam uma experiência sexual marcada pela transgressão e pela perda da inocência. E “Like a Prayer”, de Madonna, ganhou releitura poderosa, unindo blasfêmia e reverência em um só gesto sonoro.
Se o inferno tem uma banda residente, ela pode muito bem atender pelo nome Dogma. E o Bangers Open Air teve o privilégio de hospedar seu culto.
**Este conteúdo faz parte da cobertura Bangers Open Air 2025 — clique para conferir outras resenhas com fotos e vídeos.
Repertório — Dogma no Bangers Open Air 2025
- Forbidden Zone
- My First Peak
- Made Her Mine
- Banned
- Like a Prayer (cover de Madonna)
- Bare to the Bones
- Make Us Proud
- Pleasure From Pain
- Father I Have Sinned
- The Dark Messiah
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Bluesky | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.
As Frenéticas+Kiss+Ghost= Dogma.