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Como a Dogma causou impacto no primeiro dia do Bangers Open Air

Quinteto hard-gótico cujas origens e identidades são um mistério desfilou iconoclastia de erotismo sacrilégico na abertura do festival paulistano

Táticas de choque visual não são novidade no rock e no metal. Entretanto, ainda é curioso ver como algumas pessoas continuam se surpreendendo.

Foi o caso dos painéis que flanqueavam a bateria de Abrahel, da Dogma, primeira atração do palco Hot Stage e segunda como um todo da sexta-feira de aquecimento do Bangers Open Air 2025, no Memorial da América Latina. As imagens remetiam a cenas de orgias envolvendo bispos, cardeais e até um monge budista, todos em deleite com a freira mais voluptuosa já vista nos domínios do heavy metal. Um verdadeiro desfile iconoclasta de erotismo sacrilégico.

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Na plateia, era fácil identificar quem estava ali especialmente para conferir o show da banda cujas origens e identidades ainda envoltas em mistério remetem à estratégia bem-sucedida de nomes como Kiss, Slipknot e, mais recentemente, Ghost. Hábitos religiosos, véus, corpse paint e uma encenação ritualística compunham a estética do grupo — um déjà vu do Teatro Mágico do Inferno promovido pelo Avatar no Summer Breeze Brasil 2024, mas com sonoridade bem distinta.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

O som da Dogma flerta diretamente com o hard rock europeu de pegada clássica, temperado com elementos do heavy metal e algumas pinceladas góticas. A força da performance reside tanto na música quanto na presença cênica das integrantes.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A vocalista Lilith esbanja carisma e teatralidade, conduzindo o show com segurança. Já Nixe, a baixista, com sua performance enérgica e trejeitos que lembram Gene Simmons, parece saída de uma realidade paralela onde o linguarudo do Kiss tem uma filha perdida tocando baixo com dedos de adamantium. As guitarristas Lamia e Rusalka completam o lineup.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A provocação com poses, agachamentos e figurinos sensuais faz parte da proposta estética do grupo. Nem todos entendem a mensagem. Comentários machistas como “gostosa” e “ô lá em casa” vieram, previsivelmente, de alguns homens mais velhos, que ignoram — ou fingem ignorar — que a Dogma não está ali para alimentar fantasias masculinas, mas para reivindicar o palco como território de expressão feminina. “Lugar de mulher é onde ela quiser”, e essas cinco se valeram do palco do Bangers para provar que o metal ainda pode — e deve — ser um espaço de ruptura.

Apesar de problemas técnicos no som — uma constante nas seis atrações da noite de abertura —, o show foi coeso, teatral e, acima de tudo, provocador. No repertório, brilharam a explosiva “My First Peak”, o peso dramático de “Father I Have Sinned” e a recém-lançada “Banned”, cujos versos abordam uma experiência sexual marcada pela transgressão e pela perda da inocência. E “Like a Prayer”, de Madonna, ganhou releitura poderosa, unindo blasfêmia e reverência em um só gesto sonoro.

Se o inferno tem uma banda residente, ela pode muito bem atender pelo nome Dogma. E o Bangers Open Air teve o privilégio de hospedar seu culto.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

**Este conteúdo faz parte da cobertura Bangers Open Air 2025 — clique para conferir outras resenhas com fotos e vídeos.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Repertório — Dogma no Bangers Open Air 2025

  1. Forbidden Zone
  2. My First Peak
  3. Made Her Mine
  4. Banned
  5. Like a Prayer (cover de Madonna)
  6. Bare to the Bones
  7. Make Us Proud
  8. Pleasure From Pain
  9. Father I Have Sinned
  10. The Dark Messiah
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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