Cristina Scabbia passou as últimas décadas imersa na indústria musical. Vocalista do Lacuna Coil desde 1996, a cantora acredita ser evidente a diferença de tratamento dada às mulheres em relação aos homens dentro do metal.
Durante entrevista à Metal Hammer, a artista afirmou nunca ter enfrentado problemas pelo gênero. Ainda assim, reconheceu que, na música pesada, cantoras e instrumentistas femininas muitas vezes são menos levadas a sério ou recebem menos reconhecimento devido à aparência — que, ao mesmo tempo, pode funcionar como uma vantagem.
Ela explicou:
“Honestamente, eu nunca enfrentei problemas [por ser mulher]. Nunca fui tratada mal, mas você é tratada de forma diferente. Em todo show, ou em festivais, a equipe de segurança sempre acha que você é a esposa ou namorada de alguém, uma groupie ou assistente de produção.”
Em seguida, complementou:
“Um cara pode parecer um astro do rock só usando calça justa e jaqueta. Já uma mulher precisa provar que é. [Uma das vantagens para as mulheres está] nas capas de revista. O editor pensa: ‘temos a opção de colocar uma foto legal de uma mulher bonita ou outra de um cara com barba’ [e vai escolher a foto da mulher]. Sejamos realistas: acho que recebemos muita atenção simplesmente por termos uma mulher na banda.”
Cristina Scabbia e as desigualdades
Ao canal do YouTube Sobre La Dosis em janeiro de 2023, a vocalista já havia refletido acerca do tema e das desigualdades na cena. Apesar de entender que as mulheres têm sido mais bem aceitas nas últimas décadas, a cantora ressaltou que há um longo caminho pela frente em busca de uma visão mais justa das coisas:
“Eu sinto que as coisas mudaram? Absolutamente sim. Quando comecei, não havia tantas bandas com uma mulher na formação. O metal ainda era ‘proibido’ para nós, uma cena muito dominada pelos homens. O que ainda é, mas claro que há muito mais bandas com uma mulher na formação, o que me deixa feliz mesmo que ainda sejamos vistas de forma diferente. Acho que nunca vai acontecer de sermos encaradas de forma igual. Parcialmente, está tudo bem assim, porque somos diferentes. O que eu não gosto em ser mulher em um mundo dominado por homens é o fato de que muitas vezes somos julgadas por nossa aparência. Para os rapazes, se eles têm a aparência, é uma vantagem. Mas para as mulheres é essencial.”
Confundida com groupie
A questão ainda foi trazida por Cristina em um texto especial de Dia das Mulheres para a Kerrang! em 2022. Na ocasião, a frontwoman também abordou como já a confundiram com uma groupie ou namorada antes de subir ao palco e destacou que, em contrapartida, o fato de uma mulher cantar no Lacuna Coil trouxe visibilidade e atenção para a banda:
“No passado, tive algumas experiências ruins, como não ser levada a sério no trabalho. Mesmo momentos antes de subir ao palco, já fui confundida com uma groupie, namorada ou apenas alguém que estava por perto. Eu costumava achar que isso acontecia por causa da falta de mulheres na cena do metal. Por outro lado, não posso negar que, em muitas situações, também tive certas vantagens e que a mídia prestou mais atenção em mim por causa da minha aparência e do meu gênero. Na realidade, porém, nunca me senti deslocada por ser uma mulher em uma indústria musical dominada por homens, mas também nunca esperei ser tratada de forma diferente dos meus colegas apenas por ter uma vagina.”
Sobre o Lacuna Coil
Fundado no ano de 1994 em Milão, Itália, o Lacuna Coil se destacou como uma das forças do gothic metal desde o final do século passado. Até o momento, a banda vendeu mais de dois milhões de cópias em todo o mundo. “Sleepless Empire”, disco de estúdio mais recente, chegou em fevereiro último.
A formação atual conta com Cristina Scabbia e Andrea Ferro nos vocais, Marco Coti Zelati no baixo e teclados, Daniele Salomone na guitarra e Richard Meiz na bateria.
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Bluesky | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.
