Para David Gilmour, o Pink Floyd trilhava um caminho de respeito na música até o décimo disco de estúdio “Animals” (1977). A partir daí, o guitarrista e vocalista acredita que a banda acabou “corrompida” e perdeu o sentido do próprio trabalho.
Segundo o músico em entrevista concedida em 2002 e relembrada pelo site Far Out Magazine, isso fica claro no álbum sucessor “The Wall” (1979). Nas palavras do artista, o material é um reflexo do “pior período” do grupo.
Ele explicou:
“Nós fomos corrompidos. Corrompidos porque, por um tempo, achamos que podíamos fazer qualquer coisa. O dinheiro te consome. [Resistimos] até ‘Animals’. Então, talvez por causa desse veneno da corrupção, ruímos. Cada um de nós ruiu à sua maneira. O período de ‘The Wall’ foi o nosso pior. Havíamos perdido o sentido do nosso trabalho.”
Ao seu ver, um dos grandes problemas está nas letras compostas pelo baixista e desafeto Roger Waters para o projeto. À revista Guitar World em 1993, o guitarrista explicou que possuía uma “visão diferente” acerca da direção que a banda deveria seguir quando comparada à do colega:
“Gostei da história criada por Roger. Embora eu não concorde totalmente com ela, você tem que deixar um sujeito ter sua opinião. Eu apenas tinha uma visão diferente de nosso relacionamento com nosso público em comparação a ele. […] Eu tinha uma visão diferente das coisas e ainda tenho. Para mim, o disco ‘The Wall’ em si é mais preconceituoso hoje do que era naquela época. Agora parece ser um catálogo de pessoas que Roger culpa por suas próprias falhas na vida, uma lista de ‘você me f*deu assim, você me f*deu daquele jeito’.”
A obra de Roger Waters
Waters não esconde que, de fato, exerceu uma maior influência quanto à composição do material. Chegava ao ponto de achar que, tanto o registro quanto o posterior “The Final Cut” (1983), “não tinham nada a ver” com nenhum dos outros integrantes.
Numa entrevista de 1992, resgatada pelo fansite Neptune Pink Floyd, o membro destacou:
“‘The Wall’ e ‘The Final Cut’ foram discos meus, embora eu não queira menosprezar as contribuições de Dave no primeiro. Ele tocou grandes músicas e também escreveu alguns ótimos riffs de guitarra: ‘Run Like Hell’, a introdução de ‘Young Lust’… Mas, em geral, esses registros não tinham nada a ver com ninguém além de mim. E certamente a contribuição de Bob Ezrin (produtor) para ‘The Wall’ foi muito maior do que a de qualquer pessoa na banda. Fizemos o trabalho juntos e ele foi de grande ajuda.”
Pink Floyd e “The Wall”
Um dos trabalhos conceituais mais conhecidos de todos os tempos, “The Wall” conta a história de Pink, personagem criado por Roger Waters, baseado em seus traumas, medos e lembranças, além também contar com traços da personalidade do seu antigo colega de banda, Syd Barrett.
Foi o último disco da banda como um quarteto. O tecladista Richard Wright acabou sendo demitido e recontratado como músico assalariado posteriormente. A turnê contou com a execução do tracklist na íntegra, além de uma representação dramatizada da história. Posteriormente, também viraria filme.
“The Wall” chegou ao primeiro lugar na Billboard 200 e vendeu mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo até hoje.
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