Entre junho e setembro de 1974, a cervejaria Schaefer realizou um festival de música a céu aberto no Central Park, em Nova York, nos Estados Unidos, como fazia tradicionalmente em todos os anos. Para o último dia de evento, a empresa resolveu escalar o “novato” Aerosmith e uma atração de abertura que, na opinião dos próprios músicos, superou o seu próprio show.
Em recente entrevista ao canal de Rick Beato, o guitarrista Brad Whitford relembrou a apresentação e revelou que o público ficou muito mais empolgado com a performance do saudoso Rory Gallagher, que abriu a programação, do que com a da própria banda — a ponto de o músico retornar várias vezes ao palco para incluir novas músicas no repertório.
Conforme transcrição da Guitarist, Whitford afirmou:
“Fizemos esse show antes de termos uma boa aceitação em Nova York. Rory Gallagher, responsável pela abertura, provavelmente fez um dos shows mais impressionantes de toda a sua carreira. Ele saiu do palco e fizeram ele voltar para o bis. Ele fez esse bis. Saiu. Fizeram ele voltar de novo para outro bis. E aí quando nós subimos ao palco, só me lembro de ver as pessoas indo embora antes mesmo de começarmos a tocar.”
Para o também guitarrista Joe Perry, ficou claro:
“Ele acabou com a gente. Nós éramos a atração principal. Ele entrou primeiro e acabou com a gente.”
Na autobiografia “Rocks: Minha vida dentro e fora do Aerosmith”, Perry contou que, como o público queria que o show de Rory continuasse, o Aerosmith precisou enfrentar vaias e objetos arremessados no palco. Joey Kramer, baterista, acabou até ficando ferido na performance. Porém, o guitarrista reconhece que Gallagher mereceu a aclamação:
“Tocamos no Schaefer Music Festival ao ar livre, no Central Park, para cinquenta mil pessoas, onde Rory Gallagher abriu o show para nós. Ele era um irlandês que bebia pesado e tinha seu próprio estilo de blues rock, que cativou a plateia. Quando ele deixou o palco, o público, querendo mais Rory, começou a jogar latas e garrafas. Montamos nosso equipamento em meio aos objetos voando. E eles continuaram voando durante o nosso show. Brad foi atingido e uma garrafa quebrada cortou o braço do Joey [Kramer]. Lembro disso como a única vez em que fomos superados de forma justa, no mais autêntico estilo rock and roll. Naquela noite, Rory Gallagher simplesmente era bom demais para parar.”
A opinião de Brian May
Para Brian May, Rory Gallagher tinha tudo que era necessário para alcançar a mesma fama do Aerosmith posteriormente. Porém, um fator em específico o “prejudicou”: o fato de não se importar-se com o showbiz e preferir o intimismo.
Em entrevista publicada no canal do saudoso músico e transcrita pelo Whiplash, o guitarrista do Queen estabeleceu a comparação e refletiu:
“Meu Deus, como ele tocava guitarra! E fazia isso por amor. Lembro de tê-lo visto em Boston, na época do Aerosmith, e as bandas da época gostavam de se exibir. Estávamos conscientemente dando um espetáculo, enquanto Rory era muito purista e básico. [Rory era tipo] ‘vou só subir no palco, tocar e falar com o público, é só me dar umas luzes e uns amplificadores que está bom’. Ele não se ligava no showbizz. Aquilo era parte dele, e é parte do que você tem que admirar e respeitar. É claro que ele não teve o reconhecimento que mereceu. Não passou nem perto. Porque eu acho que ele saiu pela tangente nas coisas que poderiam ter feito dele um Bruce Springsteen ou um Aerosmith. Ele se satisfazia só de tocar, e gostava da atmosfera dos clubes. Ele provavelmente não teria curtido tocar em estádios, porque aquilo tiraria seu intimismo. Sei lá, estou apenas supondo.”
Sobre Rory Gallagher
Rory Gallagher faleceu em 14 de junho de 1995, aos 47 anos, poucos meses após ter sido submetido a um transplante de fígado. Com o passar dos anos, sua obra ganhou nova atenção, o garantindo um status de cult entre os maiores guitar heroes do planeta.
Além de Brian May, nomes como Eric Clapton, Alex Lifeson (Rush), Johnny Marr (The Smiths), The Edge (U2) e Vivian Campbell (Def Leppard, Last in Line) o citaram como referência.
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